segunda-feira, 5 de março de 2018

O Ensino do Espírito Santo

Sermão nº 315
Ministrado na manhã de domingo, 13 de maio de 1860
Pelo Rev. CHARLES H. SPURGEON
Em Exeter Hall, Strand.

“Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.” — João 14.26
MUITOS DONS EXCELENTES fazem parte da Aliança da Graça, mas os mais ricos e mais importantes são estes: o dom de Jesus por nós e o dom do Espírito para nós. O primeiro, não creio que seja subestimado. Sentimos prazer ao ouvir sobre o “dom inefável” — do Filho de Deus que carregou sobre o madeiro os nossos pecados, tomou as nossas dores e sofreu em Seu próprio corpo o castigo que era nosso (1 Pedro 2.24). Existe algo tão tangível na cruz, nos cravos, no vinagre, na lança, que não conseguimos nos esquecer do Mestre, principalmente quando nos reunimos ao redor da Sua mesa e partimos o pão em Sua memória. No entanto, o segundo dom, que de forma alguma é inferior ao primeiro — o dom do Espírito Santo — é tão espiritual, e nós tão carnais; é tão misterioso, e nós tão materiais, que somos capazes de nos esquecer do seu valor e, infelizmente, até mesmo do próprio dom. Contudo, meus irmãos, devemos nos lembrar de que Cristo na cruz não tem valor algum para nós a menos que o Espírito Santo esteja nós. Em vão flui o sangue se o dedo do Espírito não aplicá-lo em nossa consciência; em vão são confeccionadas as vestes de justiça, vestes sem costura, tecidas de alto a baixo, se o Espírito não nos envolver com elas e nos adornar com suas pregas valiosas. O rio da água da vida não pode saciar a nossa sede até que o Espírito Santo exiba a Sua taça e a leve aos nossos lábios. Todas as coisas que estão no paraíso de Deus, em si mesmas, não podem nos dar felicidade, pois somos almas mortas, e almas mortas seremos até que o vento celestial, vindo dos quatros cantos da terra, sopre sobre nós e nos dê vida. Não hesitamos em dizer que devemos tanto a Deus, o Espírito, quanto a Deus, o Filho. Na verdade, seria um grande pecado e falta de respeito tentar colocar uma pessoa da Divina Trindade na frente da outra. Tu, ó Pai, és a fonte de toda a graça, de todo o amor e de toda a misericórdia para conosco. Tu, ó Filho, és o canal de misericórdia de Teu Pai e, sem Ti, o amor do Pai nunca poderia fluir para nós. E Tu, ó Espírito — Tu és Aquele que nos capacita a receber a graça divina que flui do manancial, o Pai, por meio de Cristo, o canal, e que por meio de Vós entra em nosso espírito, onde habita e produz seu glorioso fruto. Engrandecei, pois, o Espírito, vós que sois co-participantes da graça divina: “louve, exalte e ame o Seu nome para sempre, pois isso é digno.
Minha tarefa nesta manhã é apresentar a obra do Espírito Santo, não como Consolador, nem como Vivificador ou Santificador, mas principalmente como Ensinador, embora tenhamos de tocar em todos esses outros pontos também.
O Espírito Santo é o grande Ensinador dos filhos do Pai. O Pai nos gera pela Sua própria vontade, por meio da palavra da verdade. Jesus Cristo nos toma para Si, para que nos tornemos, em segundo sentido, filhos de Deus. E então, Deus, o Espírito Santo, sopra em nós o “espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Romanos 8.15). Tendo nos dado esse espírito de adoção, Ele nos educa, tornando-Se nosso grande Educador, remove a nossa ignorância e nos revela uma verdade depois da outra, até que, finalmente, compreendamos, com todos os santos, qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conheçamos o amor de Cristo, que excede todo o entendimento (Efésios 3.18-19); e assim, o Espírito apresenta aqueles que foram educados à assembleia universal e igreja dos primogênitos arrolados nos céus (Hebreus 12.22-23).
Sobre este Ensinador, três coisas devem ser ditas: primeira, o que Ele ensina; segunda, os Seus métodos de ensino; e terceira, a natureza e características desse ensino.
I ━ Primeiramente, então, O QUÊ O ESPÍRITO SANTO NOS ENSINA. Eis, de fato,  um vasto campo estendido diante de nós, pois Ele ensina o povo de Deus a fazer tudo o que é aceitável diante do Pai, e a conhecer tudo o que é útil para eles mesmos.
1. O que estou dizendo é que Ele lhes ensina tudo o que fazem. Ora, existem algumas coisas que você e eu podemos fazer naturalmente quando somos crianças, sem receber qualquer ensinamento. Quem já ensinou uma criança a chorar? Isso é natural para ela. O primeiro sinal de vida é um choro fraco e estridente. Mesmo mais tarde, não é preciso enviá-la à escola para que aprenda a soltar um grito de dor, a bem conhecida expressão de suas pequenas tristezas. Ah, meus irmãos, mas vocês e eu, como crianças espirituais, tivemos de ser ensinados a chorar; pois nem mesmo isso podíamos fazer até recebermos o “espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”. Há choros e gemidos que não podem ser expressos em palavras e discursos, por mais simples que a linguagem da nova natureza possa parecer. Mesmo os gemidos mais fracos, os suspiros, choros e lágrimas são sinais de educação. Precisamos ser ensinados, ou não seremos capazes de fazer até essas pequenas coisas sozinhos. As crianças, como sabemos, precisam ser ensinadas a falar, e é aos poucos que elas começam a pronunciar primeiro as palavras mais curtas, depois as mais longas. Nós, também, somos ensinados a falar. Nenhum de nós aprendeu ainda o vocabulário completo de Canaã. Creio que agora podemos dizer algumas palavras; mas não conseguiremos pronunciar todas elas até estarmos na terra onde veremos a Cristo, e “seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1 João 3.2). Os dizeres dos santos, quando são bons e verdadeiros, são ensinamentos do Espírito. Não lestes esta passagem: “ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo”? A pessoa pode dizer o que quiser em palavras mortas, mas o dizer do espírito, as palavras da alma, ninguém pode pronunciar, a não ser que lhe seja ensinado pelo Espírito Santo. Nossas primeiras palavras como cristãos — “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”, nos foram ensinadas pelo Espírito Santo; e o cântico que entoaremos diante do trono — “Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos”, será apenas o fruto maduro da mesma árvore do conhecimento do bem e do mal que o Espírito Santo plantou no solo do nosso coração.
Além disso, assim como o Espírito Santo nos ensina a chorar e nos ensina a falar, Ele também ensina o povo de Deus a andar e a agir. “Não compete ao homem dirigir os seus passos” (Jeremias 10.23, NVI). Podemos ter o maior cuidado com a nossa vida, mas, cedo ou tarde, iremos tropeçar ou nos desviar, a menos que Aquele que nos colocou no caminho nos guie por ele. “Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos meus braços” (Oseias 11.3). “Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso” (Salmo 23.2). Desviar-se é natural, andar no caminho da retidão é espiritual. Errar é humano; ser santo é divino. Cair é o efeito natural do mal; mas resistir é o efeito glorioso do Espírito Santo operando em nós, tanto em relação à vontade quanto em relação a fazer o que é do Seu próprio agrado. Jamais houve pensamento celestial, ação santa, atitude espiritual agradável a Deus por intermédio de Jesus Cristo que não tenham sido operados em nós pelo Espírito Santo. “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10).
Ora, assim como as pequenas coisas — o choro, a fala, o andar e o agir — são ensinamentos do Espírito Santo, as maiores também são. A pregação do evangelho, quando é feita corretamente, só pode ser realizada pelo poder do Espírito. O sermão feito com base na genialidade humana é inútil; a prédica proveniente do conhecimento do homem, na qual não há nada além da força da lógica ou da oratória, é perda de tempo. Deus não opera por tais meios. Ele não purifica o espírito com água de cisternas rotas, nem salva almas com pensamentos procedentes da mente humana, sem influência divina. Podemos ter todo o conhecimento dos filósofos gregos, ou melhor, todo o conhecimento dos doze apóstolos juntos, ou ter a língua dos serafins e os olhos e coração de um Salvador, no entanto, sem o Espírito do Deus vivo, nossa pregação ainda seria vã, e tanto nossos ouvintes quanto nós mesmos continuaríamos mergulhados em nossos pecados. Pregar corretamente só pode ser realizado pela operação do Espírito Santo. Talvez haja uma coisa chamada pregação proveniente do esforço humano, mas os ministros de Deus são ensinados pelo Santo; e quando a sua palavra é abençoada, seja para o santo ou para o pecador, a bênção não vem deles, mas do Espírito Santo, e a Ele seja toda a glória, pois não sois vós que falais, mas o Espírito do vosso Pai que está em vós.
O mesmo se dá com os cânticos sagrados. De quem são as asas em que subo aos céus em santa alegria e harmonia? São Tuas, ó Pombo Divino! De quem é o fogo que inflama o meu espírito em tempos de santa consagração? Tua é a chama, ó Espírito flamejante! Tua. De quem era a língua de fogo que pousou sobre os apóstolos? Tua, ó Santo de Israel! De quem é o orvalho que cai sobre a erva seca e a enche de graça e vigor? São Tuas as gotas sagradas, Orvalho de Deus; Tu és a aurora de onde procedem todos os santos ornamentos (Salmo 110.3). Tu trabalhas em nós e só Tu mereces toda a nossa gratidão. Portanto, todas as ações dos cristãos, tanto as pequenas como as grandes, são ensinamentos do Espírito Santo.
2. E, além disso, tudo o que o crente realmente sabe, tudo o que é útil para ele, é ensinado pelo Espírito Santo. Podemos aprender muito, moral e mentalmente, com a Palavra de Deus, porém os filósofos cristãos entendem que há uma distinção entre alma e espírito; que a alma natural, ou intelecto humano, pode receber instrução suficiente da Palavra de Deus, mas as coisas espirituais só podem ser discernidas espiritualmente e, até que este terceiro e mais sublime componente ━ o espírito ━ seja infundido em nós na regeneração, não temos sequer a capacidade ou a possibilidade de conhecer as coisas espirituais. Ora, é sobre este terceiro e mais sublime componente que o apóstolo fala quando diz “corpo, alma e espírito”. Os filósofos da mente declaram que isso não existe ━ o espírito. Eles conseguem distinguir o corpo e a alma, mas não o espírito. E eles estão totalmente certos ━ não existe essa coisa de espírito no homem natural. Esse componente ━ o espírito ━ é uma infusão do Espírito Santo na regeneração, e não pode ser detectado pela filosofia  da mente. É algo sutil demais, raro e celestial, para ser descrito por homens como Dugald Stewart (1), Reid (2) ou Brown (3), ou qualquer desses grandes homens que podem dissecar a mente humana, mas não conseguem compreender o espírito. Portanto, primeiro o Espírito de Deus nos dá um espírito, depois Ele educa esse espírito; e tudo o que esse espírito sabe lhe é ensinado pelo Espírito Santo. Talvez a primeira coisa que aprendamos seja sobre o pecado: o espírito reprova o pecado. Ninguém conhece a extensão da corrupção do pecado, a não ser pelo Espírito Santo. Você pode punir uma pessoa, falar-lhe da ira de Deus e do pecado, mas não pode fazê-la saber como o pecado é perverso e amargo até que o Espírito Santo tenha ensinado a ela. Esta é uma lição realmente difícil de ser aprendida e, quando o Espírito nos faz sentar no banquinho do arrependimento e começa a infundir em nós essa grande verdade, que o pecado é uma maldição latente, que é o inferno em embrião, só então começamos a perceber essas coisas e clamamos: “Agora sei que sou um vil pecador; minha alma se aborrece no pó e nas cinzas”. Ninguém, repito, ninguém jamais conhecerá a perversão do pecado pela argumentação, pela punição, pela disciplina moral ou por qualquer outro meio que não seja a educação pelo Espírito Santo. Esta é uma verdade que está fora do alcance do intelecto humano conhecer. Somente o espírito, enxertado e concedido pelo Espírito Santo ━ somente esse espírito pode aprender a lição, e só o Espírito Santo pode ensiná-la.
A próxima lição ensinada pelo Espírito é a nossa completa ruína, depravação e impotência. Os homens acham que esse é um conhecimento natural, mas não é; eles só podem repetir palavras, como papagaios. Mas saber que estou completamente perdido e arruinado, saber que estou tão perdido “que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum” (Romanos 7.18), é um conhecimento tão detestável, tão odioso, tão abominável para a mente carnal, que ninguém, se pudesse, o compreenderia, e se compreende, é prova clara de que Deus, o Espírito Santo, o tornou disposto a ver a verdade, e disposto a aceitá-la. Quando ouvimos grandes pregadores nos dizendo que o homem ainda possui algo maravilhoso, que, quando Adão caiu, talvez tenha quebrado um dedinho, mas não tenha se arruinado completamente, que o homem é um ser magnífico, uma criatura realmente nobre, e que estamos errados ao dizer às pessoas que elas são totalmente corrompidas, vociferando contra elas a lei de Deus ━ será que nos surpreendemos? Não, irmãos, essa é a linguagem da mente carnal no mundo inteiro, em todas as épocas. Não é de admirar que as pessoas sejam eloquentes nessa questão, pois todos precisam ser eloquentes quando precisam defender uma mentira. Não é de admirar que, sobre esse assunto, frases maravilhosas sejam proferidas e sentenças floreadas se derramem da cornucópia da eloquência. Eles precisam esgotar toda a lógica e toda a retórica para defender o engano, e não é de admirar que o façam, pois o homem acha que é rico, cheio de bens, sem necessidade alguma, até que o Espírito Santo lhe ensine que ele é pobre, nu e miserável.
Aprendidas essas lições, o Espírito continua a nos ensinar, agora sobre a natureza e o caráter de Deus. Deus pode ser ouvido em cada lufada de vento e visto em cada nuvem no céu, mas estas coisas não mostram tudo sobre Deus. Sua bondade e onipotência são claramente manifestadas a nós pelas obras da criação, mas onde aprendemos sobre a Sua graça, sobre a Sua misericórdia e sobre a Sua justiça? Estas são linhas que não podemos ler na criação. Na verdade, é preciso ter ouvidos que sejam capazes de ouvir as notas da misericórdia ou o sussurro da graça no vendaval noturno. Não, meus irmãos, estas partes dos atributos de Deus são reveladas a nós somente no Livro precioso, e são reveladas de tal forma que não podemos conhecê-las até que o Espírito abra nossos olhos para compreendê-las. Conhecer a inflexibilidade da justiça Divina e ver como Deus pune todos os mínimos detalhes do pecado, e ainda saber que essa plena justiça não obscurece a Sua igualmente plena misericórdia, mas que as duas circulam uma ao redor da outra, sem, por um momento sequer, se cruzar ou entrar em conflito ou lançar a mais leve sombra sobre a outra; compreender como Deus é, ao mesmo tempo, justo e justificador do pecador, e assim saber que meu espírito ama Sua natureza, aprecia Seus atributos e deseja ser como Ele ━ este é um conhecimento que a astronomia não pode ensinar, que todas as pesquisas científicas nunca poderão nos dar. Precisamos ser ensinados por Deus, para aprendermos sobre Ele ━ precisamos ser ensinados por Deus, por Deus, o Espírito Santo. Ah, que possamos aprender bem esta lição; que sejamos capazes de cantar a Sua fidelidade, a Sua aliança de amor, a Sua imutabilidade, a Sua misericórdia abundante, a Sua justiça inflexível; que sejamos capazes de falar uns aos outros sobre Aquele que é incompreensível; que sejamos capazes de compreendê-lo como alguém compreende um amigo; e que andemos com Ele como andou Enoque todos os dias da sua vida. Essa, de fato, precisa ser a educação dada pelo Espírito Santo.
Mas, para não prolongar mais estes pontos, embora possam gerar muitas ideias, observemos que, de forma especial, o Espírito Santo nos ensina sobre Jesus Cristo. É o Espírito Santo que manifesta a nós a glória da pessoa do Salvador; é Ele quem nos revela o complexo caráter da Sua humanidade e da Sua deidade; é Ele quem nos fala sobre o amor do Seu coração, do poder do Seu braço, da pureza dos Seus olhos, da preciosidade do Seu sangue e da força da Sua argumentação em nosso favor. Saber que Cristo é o meu Redentor é saber muito mais do que Platão poderia ter me ensinado. Saber que sou membro do Seu corpo, da Sua carne e dos Seus ossos; que meu nome está no Seu peito e gravado na palma das Suas mãos, é saber muito mais do que as Universidades de Oxford ou Cambridge poderiam ensinar a todos os seus acadêmicos, e que eles jamais poderiam aprender tão bem. Nem aos pés de Gamaliel Paulo aprendeu a dizer: “vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20b). Nem em meio aos rabinos ou aos pés dos membros do Sinédrio, ele aprendeu a proclamar: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo” (Fp 3.7); e “longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6.14). Não, isso precisou ser ensinado, como ele mesmo diz: “não pela carne não pelo sangue; mas pelo Espírito Santo”.
Preciso dizer também que é o Espírito quem nos ensina sobre a nossa adoção. Na verdade, todos os privilégios da nova aliança, começando pela regeneração, passando pela redenção, perdão, justificação, santificação, adoração, preservação, segurança eterna, até a majestosa entrada no reino de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo ━ tudo isso é ensinamento do Espírito Santo, especialmente o último elemento, pois “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1Co 2.9-10). Ele nos conduz às  alegrias vindouras, eleva nosso espírito e nos dá
“Aquela calma interior dentro do peito,
A plena garantia do descanso perfeito,
O qual para a igreja de Deus perdura,
O fim das dores e de toda amargura”
II ━ E, agora, vamos ao segundo ponto ━ OS MÉTODOS PELOS QUAIS O ESPÍRITO SANTO ENSINA ESSAS COISAS PRECIOSAS AOS FILHOS DE DEUS.
Aqui precisamos ressaltar que nada sabemos sobre a forma de agir do Espírito, pois Ele é misterioso; não sabemos de onde vem, nem para onde vai. No entanto, deixem-me descrever o que podemos perceber. Primeiro, ao ensinar o povo de Deus, umas primeiras coisas que o Espírito faz é despertar o seu interesse. Às vezes penso que, quando os jovens estão sendo treinados para o ministério, a coisa mais difícil é fazê-los engrenar. Eles são como morcegos no chão. Quando um morcego cai na terra, ele não consegue voar se não rastejar para cima de uma pedra e ficar um pouco acima do solo; só então ele consegue bater as asas e levantar voo. Existem muitas pessoas que precisam receber um impulso; elas têm talento, mas ele está adormecido, e é preciso soprar uma espécie de apito em seus ouvidos para colocá-las em movimento e tirar a venda de seus olhos. Ora, é exatamente isso o que acontece quando o Espírito de Deus começa a ensinar uma pessoa. Ele desperta o seu interesse para as coisas que Ele quer que ela aprenda; Ele lhe mostra que essas coisas são uma influência pessoal para o bem da sua alma no presente e no futuro. Ele a convence da verdade preciosa de que aquilo que para ela era indiferente ontem, hoje é de valor inestimável. Antes ela dizia: “de que me serve a teologia?” Agora, no entanto, o conhecimento de Cristo, e Ele crucificado, se torna a ciência mais desejável e excelente de todas. O Espírito Santo desperta o seu interesse.
Isso feito, Ele dá à pessoa um espírito ensinável. Existem aqueles que nunca irão aprender. Eles dizem que querem saber, mas nunca acharemos o jeito certo de ensiná-los. Se ensinamos um pouquinho de cada vez, eles dizem: “Você acha que sou criança?”; e se ensinamos uma porção de coisas de uma só vez, dizem: “Não consigo entender o que você diz”. Às vezes, tenho vontade de dizer àqueles que falam que não compreendem o que estou tentando lhes ensinar: “Ainda bem que não sou eu quem tem de lhe dar entendimento, se você não tem”. Ora, é o Espírito Santo que dispõe a pessoa a aprender. O discípulo senta-se aos pés de Cristo e O deixa falar o que quiser, e ensiná-lo como quiser, seja com a vara ou com um sorriso, pois está totalmente disposto a aprender. Por mais desagradáveis que sejam as lições, o aluno regenerado ama aprender as coisas que antes odiava. Por mais cortantes que sejam para o seu orgulho as doutrinas do evangelho, ele ama cada uma delas exatamente por isso, pois clama: “Senhor, humilha-me! Senhor, faz-me submisso! Ensina-me as coisas que me farão cobrir a cabeça com pó e cinzas! Mostra-me que nada sou ━ faz-me conhecer a minha insignificância; revela a minha indignidade”. Portanto, o Espírito Santo continua Seu trabalho despertando o interesse e inflamando um espírito ensinável.
Depois disso, o Espírito Santo ilumina a verdade. Às vezes, é muito difícil explicar uma coisa que você conhece muito bem de forma que outra pessoa também possa compreendê-la. É como um telescópio. Tem gente que fica desapontada com um telescópio porque, toda vez que entra num observatório e olha através da lente, esperando observar os anéis de Saturno ou os cinturões de Júpiter, diz que só consegue ver um pedaço de vidro e uns grãozinhos de areia. No entanto, um astrônomo vem, olha e diz: “Como Saturno é maravilhoso”! Mas, por que a outra pessoa não conseguiu ver nada? Porque o foco não estava ajustado ao seu olho. Com um pouco de habilidade, o foco pode ser alterado para que o observador seja capaz de ver aquilo que não conseguia ver antes. O mesmo acontece com a linguagem; ela é uma espécie de telescópio pelo qual podemos fazer outras pessoas conhecerem nossos pensamentos, mas nem sempre podemos ajustar o foco para elas. Quem ajusta o foco da maneira correta para o entendimento da verdade é sempre o Espírito Santo. Ele lança uma luz tão forte e poderosa sobre a Palavra, que o espírito da pessoa diz: “Ah, sim, agora entendo”. Mesmo no Livro precioso existem palavras que li uma centena de vezes e não consegui compreender até que, em dado momento, uma palavra-chave pareceu saltar do meio do versículo e me dizer: “veja este versículo sob a minha luz”; só então compreendi ━ nem sempre pela palavra do próprio versículo, mas pelo seu contexto ━ compreendi o significado que antes não conseguia ver. Isso, igualmente, é parte da instrução do Espírito: lançar luz sobre a verdade. Mas o Espírito Santo não ilumina somente a verdade, Ele ilumina também o entendimento. É maravilhoso, ainda, como Ele ensina pessoas que parecem não ter capacidade alguma para aprender. Não é minha intenção dizer algo que possa magoar alguém, mas conheço alguns irmãos, os quais não vou dizer se estão aqui hoje, cuja opinião sobre coisas seculares eu não levaria em conta. Em questões financeiras, por exemplo ━ ou qualquer coisa que requeresse a opinião de outra pessoa ━ eu não os consultaria. No entanto, estes irmãos possuem um conhecimento mais profundo, mais verdadeiro e mais prático da Palavra de Deus do que muitos pregadores, pois o Espírito Santo nunca tentou lhes ensinar gramática, nem teve a intenção de lhes ensinar a negociar, nem quis lhes ensinar astronomia, mas Ele tem lhes ensinado a Palavra de Deus, e eles a têm compreendido. Outros professores tentaram inculcar-lhes os rudimentos da ciência, mas sem sucesso, pois suas mentes são confusas e atrapalhadas demais; o Espírito Santo, no entanto, tem lhes ensinado a Palavra de Deus, e ela é clara o suficiente para eles. Tenho contato direto com alguns jovens. Quando temos aulas com ilustrações provenientes do conhecimento científico, todos eles parecem compenetrados; mas, no momento em faço alguma pergunta para ver se realmente compreenderam o assunto, eles ficam perdidos. Contudo, quando abordamos o capítulo de algum antigo livro dos Puritanos ━ que tratam de teologia ━ esses irmãos nos dão as respostas mais brilhantes e inteligentes de toda a classe. Quando discutimos questões hipotéticas e controversas, descubro que eles são capazes de derrubar seus adversários e vencê-los de um só golpe, pois têm profundo conhecimento da Palavra de Deus. O Espírito lhes ensina as coisas de Cristo, nada mais. Percebo também que quando o Espírito amplia o entendimento sobre a verdade bíblica, esse entendimento se torna mais capaz de compreender outras verdades. Há algum tempo, ouvi de um irmão ministro, enquanto fazíamos a comparação de algumas notas, a história de um homem que era um perfeito pateta. Ele era pouco mais que um imbecil, mas, quando foi convertido a Deus, uma das primeiras coisas que quis fazer foi ler a Bíblia. Era muito, muito difícil ensinar-lhe um versículo, mas ele queria aprender, e queria entender. Ele se esforçava ao máximo,  até conseguir ler: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Depois, começaram a lhe pedir para orar. No início, ele mal conseguia formular uma frase, mas, aos poucos, foi atingindo um considerável grau de fluência, pois ele queria orar. Nas reuniões de oração, dizia, ele não queria ficar calado, sem dizer nada a seu Mestre. Ele começou a ler cada vez mais sua Bíblia, e a orar com grande proveito e aceitação daqueles que o ouviam e, não muito tempo depois, já falava nos vilarejos, e acabou por se tornar um bom e honrado pastor de uma das nossas igrejas Batista. Se, logo no início, o Espírito de Deus não tivesse ampliado seu entendimento para receber a verdade do evangelho, esse entendimento teria ficado limitado, preso e bloqueado até hoje, e o homem poderia continuar um pateta até ir para o túmulo, ao passo que, agora, ele se levanta para dizer aos pecadores ao seu redor, em linguagem fervorosa, a história da cruz de Cristo! O Espírito nos ensina iluminando o nosso entendimento.
A fim de não cansá-los, vou me apressar nos próximos pontos. O Espírito também nos ensina reavivando a nossa memória. “O Espírito Santo vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (João 15.26). Ele coloca todos aqueles antigos tesouros no baú da nossa alma e, quando chega o tempo certo, Ele o abre e revela cada joia preciosa na devida ordem, mostrando-as repetidamente a nós. Ele reaviva a nossa memória e, quando isso é feito, Ele nos ensina a Palavra da maneira mais excelente, fazendo-nos sentir o seu efeito, o que, no final das contas, é a melhor forma de aprender. Você pode tentar ensinar a uma criança o significado da palavra “doçura”; mas as palavras não ajudarão muito; no entanto, se você lhe der um doce, ela nunca se esquecerá do significado. Você pode tentar lhe falar sobre as montanhas magníficas, e sobre os Alpes, cujos picos recobertos de neve atingem as nuvens como embaixadores vestidos de branco nas cortes do céu; mas leve-a até lá, deixe que ela os veja, e ela jamais se esquecerá deles. Você pode tentar retratar-lhe a grandeza do continente americano, com seus montes e lagos e rios, tais como o mundo nunca viu; mas leve-a até lá e deixe que ela veja tudo com seus próprios olhos, e ela conhecerá mais sobre aquele lugar do que poderia conhecer com todo o ensino recebido em casa. O Espírito Santo, da mesma forma, não apenas nos fala sobre o amor de Cristo; Ele o irradia em nosso coração. Ele não apenas nos fala sobre a doçura do perdão; Ele também nos dá um senso de nenhuma condenação; e assim aprendemos muito melhor do que se fôssemos ensinados por palavras e ideias. Ele nos leva à sala do banquete e agita sobre nós o seu estandarte de amor (Cantares 2.4). Ele nos convida a visitar o jardim das nogueiras (Cantares 6.11) e nos faz deitar entre os lírios. Ele nos dá aquele ramalhete de flores de hena, o nosso próprio Amado, e nos pede para colocá-lo em nosso seio durante a noite. Ele nos leva à cruz de Cristo e nos pede para colocar o dedo no lugar dos cravos e a mão no Seu lado, e nos diz: “não sejais incrédulos, mas crentes”, e assim, da forma mais sublime e eficaz Ele nos ensina para o nosso próprio bem.
III ━ E agora chegamos ao meu terceiro ponto, embora eu sinta como se desejasse que meu assunto fosse um pouco menos abrangente; na verdade, este é um problema que nem sempre acontece ━ ter muito, e não pouco, para falar. Mas quando chegamos a um tópico onde Deus deve ser glorificado, aí nossa língua deve realmente ser como a pena de um escritor disposto, quando falamos sobre as coisas concernentes ao rei.
Vou lhes falar, então, sobre AS CARACTERÍSTICAS e a NATUREZA DO ENSINO DO ESPÍRITO SANTO. Primeiramente, gostaria de ressaltar que o ensino do Espírito Santo é soberano. Ele ensina a quem quer. Ele pega o tolo e o faz conhecer as maravilhas do amor sacrificial de Cristo, para envergonhar a sabedoria segundo a carne e abater e humilhar o orgulho do homem. E, da mesma forma que o Espírito ensina a quem quer, Ele também ensina quando quer. Ele tem o seu próprio tempo de instrução, e não é limitado ou cerceado por nós. Além disso, Ele ensina como Ele quer ━  alguns pela aflição, outros pela comunhão; alguns pela leitura da Palavra, outros pela pregação da Palavra; e alguns nem por uma coisa nem outra, mas diretamente pela Sua própria agência. Por tudo isso, o Espírito é soberano naquilo que ensina, instruindo a cada um na medida que Lhe apraz. Ele fará uma pessoa aprender muito, e outra pouco. Para alguns cristãos a barba nasce logo ━ eles alcançam rápida e repentinamente um alto nível de maturidade, enquanto outros se arrastam lentamente até o alvo, demorando muito para alcançá-lo. Alguns, logo nos primeiros anos, adquirem uma compreensão bem maior do que outros cujos cabelos já são grisalhos. O Espírito Santo é soberano. Ele não mantém todos os alunos na mesma classe, e nem todos na mesma lição, ensinando-os em conjunto; cada aluno está numa classe, cada um aprendendo uma lição diferente. Alguns começam no final do livro, outros no início, e outros, ainda, no meio ━ alguns aprendem uma doutrina, enquanto outros aprendem outra; alguns retrocedem, outros seguem em frente. O ensino do Espírito Santo é soberano e dá a cada pessoa aquilo que Ele quer; no entanto, o que quer que ensine, Ele ensinará de forma eficaz. Ele nunca falhou em nos fazer aprender. Ninguém jamais foi expulso da escola do Espírito por ser incorrigível. Ele ensina todos os Seus filhos, não apenas alguns ━ “Todos os teus filhos serão ensinados do SENHOR; e será grande a paz de teus filhos” (Isaías 54.13) ━ a última frase é uma prova de que todos são ensinados de modo eficaz. O Espírito nunca deixou de ensinar a verdade ao coração, ainda que o coração esteja incapacitado de recebê-la. O Espírito tem o jeito certo de alcançar as fontes secretas da vida e de colocar a verdade bem no centro da alma. Ele lança o remédio na própria fonte, não na correnteza. Nós instruímos o ouvido, e o ouvido está longe do coração; Ele ensina o próprio coração, por isso, a Sua palavra cai em terreno fértil e produz fruto bom e abundante ━ o ensino do Espírito é eficaz. Querido irmão, às vezes você sente que é um grande tolo? Seu maravilhoso Mestre ainda fará de você um grande aluno. Ele o ensinará para que você entre no reino do céu sabendo tanto quanto os crentes mais brilhantes. Mas, além de ser soberano e eficaz, o ensino do Espírito Santo também é infalível. Nós, muitas vezes, cometemos erros em nosso ensino; às vezes por excesso de zelo, outras por falta de atenção. Mesmo os maiores pregadores ou professores não são perfeitos, por isso, nossos ouvintes devem submeter aquilo que dizemos à lei e ao testemunho (Isaías 8.20); o Espírito Santo, no entanto, jamais comete erros ━ se aprendeste alguma coisa pelo Espírito Santo, ela é uma verdade sólida, pura e inalterada. Entrega-te diariamente ao Seu ensino e jamais aprenderás uma palavra incorreta, uma ideia inadequada, mas serás ensinado de forma infalível, bem ensinado em toda verdade que está em Jesus.
Além do mais, onde o ensino do Espírito é infalível ele é também contínuo. O Espírito nunca deixa incompleta a educação daqueles a quem ensina. Por mais tolo que seja o aluno, por mais fraca que seja sua memória, por mais degenerada que seja sua mente, o Espírito Santo sempre segue em frente com Seu gracioso trabalho, até nos educar e nos fazer “idôneos à parte que nos cabe da herança dos santos na luz” (Colossenses 1.12). Ele também não nos abandona até nos ter instruído completamente; pois nosso texto diz que: “Ele vos ensinará todas as coisas”. Não existe verdade tão sublime que não possa ser apreendida, nem doutrina tão complexa que não possa ser aceita. Mais e mais alto, a colina do conhecimento se eleva, mas quando estiverem lá, teus pés lá permanecerão. Por mais difícil que seja o caminho, e por mais fracos que sejam os teus joelhos, subirás até o topo e, um dia, com tua fronte banhada pela luz do céu, tua alma olhará com desdém os temporais, neblinas, nuvens e fumaça da terra, e verá o Mestre face a face, e será como Ele, e O conhecerá como Ele é. Este é o gozo do cristão: ser completamente instruído pelo Espírito Santo, O qual não desistirá dele até lhe ensinar toda a verdade.
Receio, no entanto, que hoje eu os tenha deixado entediados. Um assunto como este não é adequado para todas as pessoas. Como já disse, somente a mente espiritual pode receber coisas espirituais, e a doutrina da atuação do Espírito nunca será interessante àqueles a quem ela é totalmente estranha. Não podemos fazer uma pessoa compreender a força de um choque elétrico a menos que ela o sinta. É totalmente improvável que uma pessoa acredite nas forças ocultas que movem o universo a menos que ela tenha algum meio de testá-las. E, para aqueles que nunca sentiram a força do Espírito, ela lhes é tão estranha quanto o seria para uma pedra; eles estão fora de seu elemento natural quando ouvem falar sobre Ele. Eles não conhecem o Seu poder divino; nunca receberam Seus ensinamentos e, por isso, como deveriam se preocupar em saber quais verdades Ele ensina?
Portanto, concluo esta mensagem com uma reflexão bastante dolorosa. Como é lamentável, lamentável, mil vezes lamentável, que haja tantas pessoas que não conhecem o perigo que correm, que não sentem o peso do próprio fardo, e em cujos corações a luz do Espírito Santo nunca brilhou! Será este o seu caso, querido ouvinte? Não estou perguntando se você tem educação formal; talvez tenha, e talvez tenha se formado com honras entre os primeiros da classe; mas pode ser também que ainda seja como um burro xucro. A religião, e a verdade sobre ela, não pode ser aprendida com a mente. Anos de leitura, horas de estudo contínuo nunca farão de alguém um cristão. “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita” (João 6.63). Ah, não tens o Espírito do Deus vivo? Pois, eu te digo, meu amigo, para te lembrares disto: se a influência misteriosa e sobrenatural do Espírito Santo nunca encheu a tua alma, todas as coisas de Deus te são totalmente estranhas. As promessas não são tuas; o céu não é teu; e tu estás a caminho da terra dos mortos, da região dos cadáveres, onde os vermes não morrem e o fogo jamais se apaga. Ó, que o Espírito de Deus possa repousar sobre você neste momento! Pense nisso, pois você depende totalmente da Sua influência. Você está nas mãos de Deus para ser salvo ou perdido ━ você não está em suas próprias mãos, mas nas Dele. Você está morto em seus pecados; e, a menos que Ele o vivifique, você continuará assim. Você está à mercê de Deus da mesma forma que uma traça entre os seus dedos. Basta que Ele o deixe como está e você estará perdido; mas, quando a misericórdia fala e diz: “Que ele viva”, você é salvo. Gostaria que você pudesse sentir o peso dessa tremenda doutrina da soberania de Deus. É como o machado de Thor, que pode sacudir o seu coração, por mais duro que ele seja, e fazer a rocha da sua alma tremer na base.
“A vida, a morte e o inferno, e todos os mundos desconhecidos
Dependem totalmente do Seu firme decreto”
Neste momento, seu destino está por um fio. Você vai se rebelar contra o Deus em cujas mãos repousa o destino eterno da sua alma? Vai levantar o débil punho da sua rebelião contra Aquele que é o único que pode vivificá-lo ━ sem cuja força graciosa você está morto e deve ser destruído? Vai pecar contra a luz e contra o conhecimento? Vai rejeitar a misericórdia que é proclamada em Jesus Cristo? Se assim for, nenhum tolo jamais foi tão louco quanto você, rejeitando Aquele sem O qual você está morto, perdido e arruinado. Ah, que, em vez disso, haja o sussurro divino do Espírito dizendo: “Obedeça o mandamento divino, creia em Cristo e viva!” Ouve a voz de Yahweh, que clama:  “O mandamento é este, crê nAquele que foi enviado, Jesus Cristo”! E assim, obediente, Deus diz consigo mesmo: “Porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu nome”. E você viverá para cantar no céu a soberania que, quando sua alma tremeu na balança, decidiu pela sua salvação, e lhe deu luz e alegria indizível. Jesus Cristo, o Filho de Deus, morreu na cruz do Calvário, e “todo aquele que nEle crer será salvo”. “Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, a pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular” (1 Pedro 2.7). Creia no testemunho da verdade! Abaixe suas armas! Renda-se à soberania do Espírito Santo e, com certeza, Ele vai lhe mostrar que, na sua própria rendição Ele prova que já o amava, pois foi Ele quem o fez se render; foi Ele quem o tornou disposto a se curvar diante dEle no dia do Seu poder! Que o Espírito Santo agora abençoe a palavra que lhes falei, por amor do Senhor Jesus!
(1) Filósofo escocês nascido em Edimburgo, líder da escola escocesa de filosofia, na sua época, especialmente como um metafísico. Filho único de Matthew Stewart (1717-1785), um professor de matemática da University of Edinburgh, e de Marjory Stewart, filha do escritor Archibald Stewart. Educado em um seminário de Edinburgh, estudou matemática com seu pai na unicversidade local, mas logo descobriu sua vocação também para os temas filosóficos, especialmente orientado pelo Dr. Stevenson, professor de lógica, e Dr Adam Ferguson, professor de moral filosófica. Mudou-se então para Glasgow (1771) para estuar com Thomas Reid e voltou a Edimburgo (1773) para ensinar como auxiliar, matemática e moral filosófica. Com a morte do pai (1785) assumiu a titularidade da Chair of Mathematics, porém logo a trocou pela disciplina de Moral Philosophy. Casou-se (1790) com Helen D’Arcy Cranstoun, filha do honorável Mr. George Cranstoun, e desse casamento nasceram duas crianças. Influenciado por Reid, tornou-se líder da escola filosófica escocesa e escreveu vários livros com destaque para Philosophy of the Human Mind (3 volumes: 1792, 1814, 1827). Sua morte ocorreu durante uma visita à Ainslie Place, Edinburgh (1828).
(2) 1710‑1796) é um dos filósofos mais importantes do Iluminismo Escocês. Considerado o fundador da "Escola escocesa do senso comum", passou quase toda a sua vida na Escócia. Concluiu seus estudos de teologia e filosofia na Marischal College, em Aberdeen (1723-1731). Em seguida, atuou como pastor da Igreja Presbiteriana, na Escócia (1731-1751). Em 1752, foi nomeado professor regente no King's College, da Universidade de Aberdeen. Nesse período, lecionou disciplinas como matemática, física, psicologia, filosofia da mente, história natural, filosofia moral, entre outras. Em 12 de janeiro de 1758, ajudou a fundar a Aberdeen Philosophical Society ou Clube Sábio [Wise Club]. A sociedade contava com um grupo seleto de filósofos e eruditos, motivados por uma leitura rigorosa e crítica de filósofos como Berkeley, Locke, Butler e Hume. Em 18 de janeiro de 1762, Reid recebeu o título de "doutor honoris causa" em teologia, concedido por Marischal College. Dois anos mais tarde, em dezembro de 1763, aceitou o convite da Universidade de Glasgow para suceder Adam Smith em uma das cátedras mais ilustres da Europa na época: a cátedra de "Filosofia Moral da Universidade de Glasgow".

(3) Filósofo escocês (1778-1820).


Tradução e revisão: Mariza Regina de Souza