terça-feira, 3 de maio de 2016

O Pecado da Incredulidade

Sermão nº 03


Ministrado na manhã do domingo de 4 de janeiro de 1855, pelo
Rev. C. H. Spurgeon, na Capela da 
New Park Street, Southwark, Londres, Inglaterra



Aquele capitão respondera ao homem de Deus: Ainda que o SENHOR fizesse janelas no céu, poderia suceder isso, segundo essa palavra? Dissera o profeta: Eis que tu o verás com os teus olhos, porém disso não comerás”. ━ 2 Reis 7:19

Um sábio pode livrar uma cidade inteira; um justo pode ser segurança para milhares de outras. Os santos são “o sal da terra”, o meio de preservação dos perversos. Sem aqueles que temem a Deus para conservá-la, a raça humana seria totalmente destruída. Na cidade de Samaria havia um homem temente a Deus — Eliseu, o servo do Senhor. Toda piedade fora extinta da corte. O rei era um pecador da pior espécie, sua iniquidade era flagrante e infame. Jeorão andava nos caminhos de seu pai, Acabe, e tinha feito para si falsos deuses. O povo de Samaria estava caído como seu monarca: eles tinham se afastado de Jeová; tinham abandonado o Deus de Israel; não mais se lembravam do lema de Jacó: “o Senhor teu Deus é o único Deus”; e, em vil idolatria, tinham se dobrado aos deuses dos ímpios; por isso, o Senhor dos Exércitos os entregou à opressão de seus inimigos até a maldição de Ebal se cumprir nas ruas de Samaria, pois “a mais mimosa das mulheres e a mais delicada do teu meio, que de mimo e delicadeza não tentaria pôr a planta do pé sobre a terra”, olhava com maldade para seus próprios filhos e devorava sua descendência por causa da fome extrema (Dt. 28:56-58). Nessa situação terrível, aquele único santo foi o meio de salvação. Aquele único grão de sal preservou toda uma cidade; aquele único guerreiro de Deus foi o meio para livrar todo um povo sitiado. Por amor a Eliseu, o Senhor prometeu que, no dia seguinte, o alimento que não poderia ser comprado por qualquer preço seria adquirido por preço insignificante — à porta de Samaria. Podemos imaginar a alegria daquela multidão quando ouviu o vidente fazendo esta predição. Eles sabiam que ele era profeta do Senhor; ele tinha as credenciais divinas; todas as suas profecias anteriores tinham se cumprido. Eles sabiam que ele era um homem enviado por Deus e que proclamava a mensagem de Jeová. Com certeza, os olhos do monarca brilhavam de prazer, e a multidão esfomeada dava pulos de alegria ante a perspectiva de se ver livre da fome com tanta rapidez. “Amanhã”, gritavam, “amanhã nossa fome será saciada e faremos uma grande festa”.
            No entanto, o capitão em cujo braço o rei se apoiava, manifestou sua incredulidade. O texto não diz que foi uma pessoa do povo, um plebeu, que não acreditou, mas sim um aristocrata. Pode parecer estranho, mas Deus raramente escolhe os grandes homens deste mundo. Cargos elevados e a fé em Cristo raramente combinam. Aquele homem importante disse: “Impossível!” e, com um insulto ao servo de Deus, acrescentou: “Ainda que o SENHOR fizesse janelas no céu, poderia suceder isso, segundo essa palavra”? Seu pecado reside no fato de que, mesmo após repetidos sinais no ministério de Eliseu, ele ainda não acreditava na garantia dada pelo profeta em nome do Senhor. Sem dúvida, ele tinha visto a maravilhosa derrota de Moabe; tinha ficado perplexo diante da notícia da ressurreição do filho da sunamita; ele sabia que Eliseu tinha revelado os segredos de Ben-Hadade e ferido seu exército de cegueira; ele tinha visto o bando de sírios atraídos para o meio de Samaria; e, provavelmente, conhecia a história da viúva, cujo azeite encheu todas as vasilhas e resgatou seus filhos. Além do mais, a cura de Naamã devia ser a conversa mais corriqueira da corte. Ainda assim, mesmo com todas essas evidências, e com todas as credenciais do profeta, aquele homem duvidou e, de forma ofensiva, disse-lhe que os céus precisavam se tornar janelas abertas antes da promessa poder se cumprir. Por isso, Deus pronunciou sua sentença pela boca do mesmo homem que tinha acabado de declarar a promessa: “Eis que tu o verás com os teus olhos, porém disso não comerás”. E a Providência, que sempre cumpre a profecia, assim como o papel sempre leva a marca do tipo impresso — destruiu o homem. Um tropel desceu pelas ruas de Samaria e ele morreu às suas portas, vendo toda a fartura, mas sem poder prová-la. Talvez sua carruagem tenha sido imponente demais e tenha insultado o povo; ou talvez ele tenha tentado impedir o tumulto; ou ainda, como diríamos, talvez tenha sido apenas um acidente, mas o certo é que ele foi pisoteado até a morte, para que visse a profecia cumprida mas não pudesse desfrutá-la. No seu caso, ver foi crer, mas não desfrutar.
            Nesta manhã, quero chamar sua atenção para duas coisas — o pecado do homem e seu castigo. Talvez eu fale um pouco sobre este homem, já que tenho os detalhes das circunstâncias, mas o foco será o pecado da incredulidade e sua punição.
I.  Em primeiro lugar, o PECADO
            O pecado daquele homem foi a incredulidade. Ele duvidou da promessa de Deus. No seu caso específico, a incredulidade assumiu a forma de dúvida quanto à veracidade divina, ou desconfiança sobre o poder de Deus. Ou ele não acreditou que Deus queria dizer realmente o que disse, ou achou que a promessa estava dentro de uma série de possibilidades. A incredulidade tem mais fases que a lua e mais cores que um camaleão. O povo costuma dizer que às vezes vê o diabo de uma forma, outras de outra. Estou certo de que isso é verdade quanto à primogênita de Satanás — a incredulidade, pois suas formas são legião. Às vezes, eu a vejo disfarçada de anjo de luz. Ela chama a si mesma de humildade, e diz: “Seria presunção da minha parte. Não ouso pensar que Deus possa me perdoar. Tenho pecados demais”. Chamamos a isso de humildade e agradecemos a Deus por nosso amigo estar em tão boas condições. Eu não agradeço a Deus por esse tipo de ilusão. É o mal disfarçado de anjo de luz. No fim das contas, é pura incredulidade. Outras vezes, detectamos a incredulidade na forma de uma dúvida sobre a imutabilidade de Deus. “O Senhor me ama, mas talvez amanhã me abandone. Ele me ajudou ontem e, debaixo de Suas asas, posso confiar; mas talvez eu não receba Seu auxílio da próxima vez. Talvez Ele me abandone ou não se lembre da Sua aliança, e Se esqueça de ser gracioso”. Às vezes, esse tipo de infidelidade está embutido na dúvida sobre o poder de Deus. Todos os dias enfrentamos novos problemas e nos envolvemos com uma série de dificuldades, e pensamos: “Com certeza, Ele não pode nos ajudar”. Nós lutamos para nos livrar dos nossos fardos e descobrimos que nada podemos fazer, aí, então, pensamos que o braço de Deus é tão curto quanto o nosso, e Seu poder tão fraco quanto o nosso. Uma forma assustadora de incredulidade é a dúvida que impede as pessoas de virem a Cristo, que leva o pecador a desconfiar da capacidade de Deus de salvá-lo, a duvidar da disposição de Jesus de aceitar tamanho pecador. Mas, a forma mais abominável de todas é a do traidor em suas verdadeiras cores, blasfemando contra Deus e negando insanamente Sua existência. A infidelidade, o deísmo e o ateísmo são os frutos maduros dessa árvore perniciosa; são as erupções mais terríveis do vulcão da incredulidade. A incredulidade atinge sua estatura completa quando abandona a máscara e deixa de lado o disfarce, percorrendo de modo profano a terra, gritando em alta voz a sua rebelião: “Não há Deus”, lutando em vão para sacudir o trono da divindade, levantando o braço contra Jeová e, em sua arrogância
“arrebatando da Sua mão a balança e a vara
revertendo a Sua justiça — sendo o deus de Deus”
E então, finalmente, a incredulidade atinge a perfeição, e vemos como ela realmente é, pois sua menor forma é da mesma natureza da maior.
            Fico surpreso e, com certeza vocês também ficarão, quando lhes disser que há algumas pessoas esquisitas neste mundo que não acreditam que incredulidade é pecado. Eu as chamo de esquisitas porque são sadias na fé em todos os outros aspectos, mas, para tornar consistentes os artigos da sua confissão de fé, como imaginam, negam a pecaminosidade da incredulidade. Lembro-me de um jovem que entrou numa roda de amigos e ministros que discutiam sobre se quem não acredita no evangelho tem pecado. Enquanto debatiam, o rapaz lhes disse: “Cavalheiros, estou na presença de cristãos? Vocês acreditam na Bíblia, ou não”? Eles responderam: “Sim, somos cristãos, é claro”. “Então”, disse ele, “a Escritura não diz do pecado: ‘porque não creram em mim’? E o pecado não condena os pecadores porque não acreditam em Cristo”? É difícil acreditar que haja pessoas tão tolas a ponto de dizer que “não é pecado um pecador não crer em Cristo”. Por mais que queiram valorizar seus sentimentos, não dá para imaginar que possam dizer uma mentira para sustentar uma verdade e, em minha opinião, é exatamente  isso o que elas estão fazendo. A verdade é uma torre poderosa e jamais terá necessidade de ser apoiada pelo erro. A Palavra de Deus se opõe a todo artifício humano.  Eu nunca inventaria um sofisma para provar que não é pecado o ímpio não crer, pois tenho certeza de que é, quando as Escrituras me ensinam: “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más” (Jo. 3:19), e quando leio: “o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”. Eu afirmo, e a Palavra de Deus declara: a incredulidade é pecado, sim! Certamente, para pessoas racionais e imparciais, não é preciso uma discussão para provar esse ponto. Por ventura, não é pecado uma criatura duvidar da palavra de quem o fez? Não é um crime e insulto à Divindade que eu, um átomo, um grãozinho de pó, ouse negar Suas palavras? Não é o cúmulo da arrogância e do orgulho um filho de Adão dizer, mesmo no seu íntimo: “Deus, duvido da tua graça; duvido do teu amor; duvido do teu poder”? Ah, cavalheiros, creiam-me, mesmo que todos os pecados — assassinato, blasfêmia, luxúria, adultério, fornicação, e tudo o que há de mais abjeto — sejam unidos numa única e vasta bola negra de corrupção, ainda assim isso não é igual ao pecado da incredulidade. A incredulidade é a rainha de todos os pecados, a quintessência da culpa, a mistura do veneno de todos os crimes, a borra do vinho de Gomorra, o pecado acima de todos os outros pecados, a obra-prima de Satanás, o trabalho de mestre do diabo.
            Nesta manhã, portanto, tentarei mostrar por alguns momentos a terrível natureza do pecado da incredulidade.
            1.  Em primeiro lugar, o pecado da incredulidade irá parecer extremamente hediondo quando nos lembrarmos de que ele é a origem de todas as outras iniquidades. Não há crime que não seja gerado por ele. A queda do homem, em grande parte, creio ter sido devido a ele. Foi exatamente onde o diabo tentou Eva. Ele lhe disse: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim”? Ele sussurrou e lançou a dúvida: “É assim que Deus disse”? Isso equivale a dizer: “Tem certeza de que foi isso mesmo”? Foi pela incredulidade — uma brechinha de nada — que vieram todos os outros pecados; a curiosidade e tudo o mais; Eva tocou o fruto e a destruição entrou no mundo. Desde aquela época, a incredulidade tem sido a origem prolífica de toda culpa. Um incrédulo é capaz dos crimes mais hediondos já cometidos. Incredulidade, cavalheiros! Este foi o motivo do coração endurecido de faraó; a incredulidade deu licença à língua blasfema de Rabsaqué; sim, e se tornou deicida e assassinou Jesus. Incredulidade! Ela afia a faca do suicida! Prepara taças de veneno; leva milhares à forca; e muitos chegam a uma sepultura vergonhosa por matarem a si mesmos e se apresentarem diante do tribunal do Criador com as mãos sujas de sangue; tudo por causa da incredulidade. Mostre-me um incrédulo — diga-me que ele duvida da Palavra de Deus — que não acredita nas Suas promessas e nas Suas ameaças e, com esta premissa, chegarei à conclusão de que ele se tornará, pouco a pouco, culpado dos crimes mais vis e hediondos, a menos que haja um incrível poder restritivo sobre ele. Ah, sim, esse também é um pecado de Belzebu; como Belzebu, ele é o líder de todos os espíritos malignos. Está escrito que Jeroboão pecou e fez pecar a Israel; e também se pode dizer que a incredulidade não somente peca por si mesma, mas gera outros pecados. Ela é a origem de todos os crimes, a semente de todas as transgressões. Na verdade, tudo que é vil e maligno se encontra numa só palavra — incredulidade.
Deixem-me dizer ainda que a incredulidade no cristão tem a mesma natureza da incredulidade no pecador. Ela não é a mesma no resultado final, pois, no cristão, será perdoada; sim, perdoada: ela foi colocada sobre a cabeça do antigo bode emissário, expulsa e apedrejada; mas é da mesma natureza pecaminosa. Na verdade, se há um pecado ainda mais abominável que a incredulidade de um pecador é a incredulidade de um santo, pois um santo duvidar da palavra de Deus — não confiar nEle — depois de tantas demonstrações do Seu amor, depois de milhares de provas da Sua misericórdia, é pior que qualquer outra coisa. Num santo, além do mais, a incredulidade é a raiz de outros pecados. Quando sou perfeito na fé, serei perfeito em tudo mais; sempre cumprirei os preceitos se sempre acreditar na promessa. No entanto, porque minha fé é fraca, eu peco. Quando estou com problemas, se abro os braços e digo: “Jeová-Jiré, o Senhor proverá”, ninguém me encontrará usando meios espúrios para fugir deles. Mas, se estou com dificuldades e aflições passageiras, e não confio em Deus, o que vem depois? Talvez eu venha a roubar ou fazer algo desonesto para me livrar das garras dos credores; ou, se não fizer esse tipo de coisa, talvez mergulhe em excessos para afogar minha ansiedade. Quando a fé se vai, as rédeas ficam soltas, e quem pode controlar um cavalo desgovernado sem rédeas ou freios? Como o carro do sol, com Fáeton como condutor, é assim que somos sem fé[1]. A incredulidade é a mãe do vício; é a fonte do pecado; e, por isso, digo que é um mal mortífero — é o pecado dos pecados.
            2. Mas, em segundo lugar, a incredulidade não apenas gera o pecado, ela também o fomenta. Como podem os homens continuar em seus pecados sob o trovejar do pregador do Sinai? Como, quando um Boanerges está atrás do púlpito e, pela graça de Deus, vocifera: “maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei” — como, ao ouvir as terríveis ameaças da justiça de Deus, pode o pecador continuar endurecido e andando em seus maus caminhos? Vou lhes dizer: é por causa da incredulidade, que impede as ameaças de surtirem efeito sobre ele. Quando nossos sapadores (soldados que abrem trincheiras) e mineiros vão para Sebastopol, não podem trabalhar defronte os muros se não tiverem alguma coisa para protegê-los dos tiros; por isso, eles levantam trincheiras, atrás das quais podem fazer o que quiserem. Com os ímpios acontece a mesma coisa. O diabo lhes dá incredulidade e eles a usam como trincheira para se esconder atrás dela. Ah, pecadores, quando o Espírito Santo derrubar sua incredulidade — quando Ele trouxer à tona a verdade, em demonstração e poder, como a lei irá fustigar a sua alma! Se pelo menos o homem cresse que a lei é santa, e os mandamentos santos, justos e bons, seria sacudido sobre a boca do inferno e não haveria tanta gente esquentando banco e dormindo na casa de Deus; não haveria ouvintes desatentos; nem pessoas indo embora e logo se esquecendo de como é a natureza humana. Ah, uma vez expulsa a incredulidade, os canhões de artilharia da lei atacariam o pecador e seriam muitos os mortos da parte do Senhor. Além do mais, como os homens podem ouvir o convite da cruz do Calvário e não vir a Cristo? Como é que, quando falamos sobre os sofrimentos de Jesus e concluímos dizendo: “ainda há tempo”; quando falamos sobre a cruz e a paixão de Cristo, não há quebrantamento no coração das pessoas? Dizem que
A lei e os terrores só fazem endurecer
Em todo o tempo trabalham sozinhos
A sensação do perdão comprado pelo sangue
Até o coração de pedra pode dissolver
Creio que a história do Calvário é suficiente para arrebentar uma rocha. As pedras realmente se partiram ao ver a morte de Jesus. Creio que a tragédia do Gólgota é suficiente para fazer até uma pedreira romper em lágrimas e o mais duro pecador chorar de arrependimento; no entanto, mesmo falando e repetindo isso muitas e muitas vezes, quem se preocupa? Quem se importa? Cavalheiros, vós vos sentais aí despreocupados, como se isso não tivesse nenhum significado para vós. Ora, olhai e vede tudo que tendes ignorado. A morte de Jesus não vos diz nada? Vós pareceis dizer: “Não, nada”. Por quê? É porque há incredulidade entre vós e a cruz. Se não houvesse esse espesso véu entre vós e os olhos do Salvador, seríeis derretidos pelo Seu olhar de amor. A incredulidade é o pecado que impede o poder do evangelho de trabalhar na vida do pecador: só quando o Espírito Santo quebra essa incredulidade — só quando o Espírito Santo acaba com essa infidelidade e coloca tudo abaixo — é que podemos ver o pecador se aproximar e depositar sua confiança em Jesus.
            3. Há, ainda, um terceiro ponto. A incredulidade incapacita o homem de realizar qualquer boa obra. “Tudo o que não provém de fé é pecado” é uma grande verdade em mais de um sentido. “Sem fé é impossível agradar a Deus”. Vocês nunca me ouvirão dizer uma palavra contra a moral; nem me ouvirão afirmar que a honestidade não é boa; nem que sobriedade também não é; pelo contrário, eu diria que tudo isso é muito louvável; contudo, vou lhes contar o que direi mais adiante: essas coisas são exatamente como as conchas coloridas e brilhantes do Industão: talvez sirvam como dinheiro nas regiões da Índia, mas não na Inglaterra; estas virtudes podem servir aqui embaixo, não lá em cima. Se não temos nada melhor que a nossa própria bondade, jamais entraremos no céu. Algumas tribos hindus usam tirinhas de tecido em lugar de moedas, e eu não teria problema com isso se vivesse por lá; mas, quando venho à Inglaterra, tiras de tecido não são suficientes. Por isso, honestidade, sobriedade e coisas assim, podem ser muito boas entre os homens — e quanto mais, melhor. E vou lhes dizer, tudo que é amável e puro, e de boa reputação, nós devemos ter — mas nada disso nos levará para cima. Tudo isso junto, sem fé, não agrada a Deus. As virtudes, sem fé, são pecados caiados. A obediência, sem fé, se é que é possível, é desobediência disfarçada. Não crer anula tudo. É a mosca no unguento; o veneno na panela. Sem fé, mesmo com todas as virtudes da pureza, toda a benevolência da filantropia, toda a bondade da compaixão altruísta, todos os talentos espetaculares, toda a bravura do patriotismo, e todas as decisões tomadas com convicção — “sem fé é impossível agradar a Deus”. Percebem, então, como a incredulidade é ruim, como ela impede as pessoas de praticar boas obras? Sim, a incredulidade incapacita até os próprios cristãos. Vou lhes contar uma história — uma história da vida de Cristo. Certo homem tinha um filho atormentado, possuído por um espírito maligno. Jesus estava no monte Tabor, transfigurado; por isso, o pai levou o filho aos discípulos do Mestre. O que os discípulos fizeram? Eles disseram: “Vamos expulsá-lo”. Colocaram as mãos sobre o rapaz e tentaram; mas sussurraram entre si: “Será que vamos conseguir”? Logo o jovem perturbado começou a espumar, a rilhar os dentes e se jogar por terra, prisioneiro do seu ataque. O espírito demoníaco dentro dele estava vivo. O diabo estava lá. Em vão eles repetiram o exorcismo, o espírito maligno continuava como um leão na cova, e todas as tentativas feitas não conseguiram tirá-lo de lá. “Saia!”, disseram, mas ele não saiu. “Fora daí!”, gritaram, mas ele continuou imóvel. Os lábios da incredulidade não podem assustar o Maligno, que talvez tenha dito: “A fé eu conheço, Jesus eu conheço, mas vós, quem sois? Vós não tendes fé”. Se eles tivessem fé, como um grão de mostarda, talvez tivessem expulsado o diabo; mas sua fé se fora, por isso, nada puderam fazer. Vejamos também o caso de Pedro. Enquanto teve fé, Ele andou por sobre as ondas do mar. Aquela foi uma caminhada esplêndida; quase o invejo andando por sobre as águas, pois, se ele tivesse continuado, poderia ter cruzado o Atlântico até chegar à América. No entanto, em dado momento, um vagalhão chegou por trás dele, e ele disse: “vou cair”; depois, veio outro e mais outro e ele gritou: “vou afundar”, e pensou — “como posso ser tão presunçoso a ponto de andar por sobre as ondas”? E lá se foi Pedro água abaixo. A fé era seu salva-vidas — seu talismã — ela o sustentava; mas a incredulidade o puxou para baixo. Sabiam que vocês e eu teremos de andar por sobre as águas durante toda a vida? A vida do cristão é um contínuo andar por sobre as águas — a minha, pelo menos, é — e ele seria tragado e devorado por cada onda, não fosse a fé para mantê-lo de pé. No momento em que deixamos de crer, vem a tribulação e nos leva para baixo. Então, por que duvidar?
            A fé alimenta cada virtude; a incredulidade mata todas elas. Milhares de orações são estranguladas ainda no embrião pela incredulidade. A incredulidade é culpada de infanticídio; ela tem aniquilado muitas súplicas infantes; muitas canções de louvor, que teriam embelezado o coro dos céus, têm sido sufocadas por um murmúrio incrédulo; muitas nobres iniciativas, concebidas no coração, têm sido destruídas pela incredulidade antes mesmo de nascer. Muitas pessoas teriam sido missionárias, teriam resistido e pregado com ousadia o evangelho do Mestre, não fosse sua incredulidade. Uma vez que um gigante perde a fé, ele se torna um anão. A fé é o cabelo de Sansão do cristão; quando cortado, seus olhos podem ser vazados — e ele não pode fazer nada.
            4. Nosso próximo ponto é — a incredulidade é punida com rigor. Vamos olhar as Escrituras! Vejo um mundo belo e encantador; os montes sorriem ao sol e os campos se regozijam na luz dourada. Vejo donzelas dançando e jovens cantando. Que linda visão! Mas, vejam, um senhor sério e reverente levanta as mãos e apregoa: “Um dilúvio está vindo para inundar a terra; as fontes do grande abismo se romperão e tudo será coberto. Vejam aquela arca! Há cento e vinte anos venho trabalhando com estas mãos para construí-la; entrem nela e ficarão a salvo”. “Ora, velho, fora com suas profecias malucas! Queremos ser felizes enquanto podemos! Se vier um dilúvio, nós construímos a arca; só que não virá nada; vá dizer isso aos tolos; nós não acreditamos”. Vejam os incrédulos dançando alegremente. Ouvi, incrédulos! Não estais escutando esse barulho estrondoso? As entranhas da terra já começaram a se mover, suas costelas rochosas estão tensas pelas horríveis convulsões em seu interior; vede, elas se rompem sob a enorme pressão e por entre elas jorram torrentes desconhecidas, pois Deus as ocultou no centro da terra. As comportas dos céus se abrem! E chove. Não apenas alguns pingos, mas o céu desaba. Uma verdadeira catarata, como a velha Niágara, rola dos céus com forte estrondo. Ambos — abismo e firmamento — abaixo e acima — juntam as mãos. Incrédulos, onde estais agora? Eis um último remanescente. Um homem — com a esposa agarrada à sua cintura — está no último cume acima d’água. Vocês o veem? A água já está em seus quadris. Ouçam seu último grito de pavor! Ele está flutuando — está se afogando. E, quando Noé olha da arca, não vê mais nada. Nada! É um vazio profundo. “Monstros marinhos procriam e se alojam nos palácios dos reis”. Tudo está destruído, coberto e submerso. O que provocou isso? O que trouxe o dilúvio sobre a terra? A incredulidade. Pela fé Noé escapou do dilúvio. Pela incredulidade o resto do mundo ficou submerso.
Sabiam também que a incredulidade deixou Moisés e Arão fora de Canaã? Eles não deram glória a Deus; bateram na rocha quando deveriam ter falado com ela. Eles não acreditaram: por isso, o castigo caiu sobre eles, eles não herdaram aquela boa terra, pela qual tanto tinham lutado e trabalhado.
            Deixem-me levá-los até onde Moisés e Arão estavam — no vasto e árido deserto. Vamos caminhar por lá durante algum tempo; filhos de pés cansados, seremos como os beduínos errantes e andaremos pelo deserto por alguns momentos. Eis uma ossada embranquecida pelo sol; outra ali e mais outra acolá. O que significam esses ossos secos? Que corpos são esses — de um homem, de uma mulher? E todos aqueles outros? Como vieram parar aqui? Com certeza, algum magnífico acampamento esteve aqui e foi varrido durante a noite por uma ventania, ou por um derramamento de sangue. Ah, não! Não pode ser! Esses ossos são do povo de Israel; são os esqueletos das antigas tribos de Jacó. Eles não puderam entrar em Canaã por causa da sua incredulidade. Não confiaram em Deus. Os espias disseram que eles não podiam conquistar a terra. A incredulidade foi a causa da sua morte. Não foram os anaquins que destruíram Israel; não foi a aridez do deserto que os consumiu; não foi o Jordão que se tornou uma barreira; muito menos os heveus ou jebuseus; foi única e exclusivamente a incredulidade que os manteve do lado de fora de Canaã. Que sentença foi pronunciada sobre Israel, depois de quarenta anos andando pelo deserto: não puderam entrar por causa da sua incredulidade!
Sem me deter em muitos exemplos, vamos nos lembrar também de Zacarias. Ele duvidou e o anjo o deixou mudo. Sua boca foi fechada porque ele não acreditou. Contudo, se quiserem ter a pior imagem dos efeitos da incredulidade — se quiserem ver como Deus a castiga, preciso levá-los ao cerco de Jerusalém, o pior massacre de todos os tempos, quando os romanos derrubaram suas muralhas e mataram os habitantes ao fio da espada, ou os venderam no mercado de escravos. Já ouviram falar da destruição de Jerusalém pelo imperador Tito? Conhecem a tragédia de Massada, quando os judeus mataram uns aos outros a facadas para não cair nas mãos dos romanos? Sabiam que até hoje[2] eles andam errantes pela terra, sem lar e sem pátria? Eles foram cortados, como um ramo é cortado da videira; e por quê? Por causa da sua incredulidade. Quando virem um judeu de semblante triste e sombrio — quando notarem que ele é natural de outro país, andando como exilado em nossa pátria — quando o virem, parem e digam: “Ah, foi a incredulidade que te fez matar a Cristo, e agora te leva a andar como errante; e somente a fé — a fé no nazareno crucificado — pode te devolver à tua pátria, e restaurá-la à sua antiga grandeza”. Vejam, a incredulidade tem na testa a marca de Caim. Deus a odeia; Ele tem desferido duros golpes contra ela e, um dia, vai acabar com ela de uma vez por todas. A incredulidade desonra a Deus. Todos os outros crimes tocam nas coisas de Deus, mas a incredulidade atinge a Sua divindade, contesta a Sua veracidade, nega a Sua bondade, blasfema contra os Seus atributos, mancha o Seu caráter; por isso, de todas as coisas, a que Deus mais odeia é a incredulidade, seja ela qual for.
            5. Agora, para encerrar a questão — pois já me estendi demais neste ponto — deixem-me dizer onde se pode observar a natureza hedionda da incredulidade: ela é um pecado que traz condenação. Existe um pecado pelo qual Cristo não morreu; é o pecado contra o Espírito Santo. Mas há ainda outro pecado pelo qual Cristo nunca fez expiação. Citem qualquer crime do catálogo do mal e vou lhes mostrar pessoas que podem encontrar perdão para ele. Contudo, perguntem-me se quem morreu na incredulidade pode ser salvo, e lhes direi que não há expiação para essa pessoa. Há expiação para a incredulidade do cristão, pois ela é temporária; mas, para a incredulidade final — aquela com a qual a pessoa morre — não há expiação. Vocês podem procurar na Bíblia inteira e descobrirão que não há expiação para quem morre na incredulidade; para essa pessoa não existe misericórdia. Se ela fosse culpada de todos os outros pecados, se tivesse cometido cada um deles, mas cresse, seria perdoada; no entanto, a exceção que traz condenação é esta: ela não tinha fé. Que o diabo a carregue! Ó espíritos malignos, levem-na para baixo! Ela não tem fé, é incrédula; é para tais pessoas que o inferno foi construído. O inferno é a sua porção, a sua prisão; essas pessoas são suas principais prisioneiras, os grilhões estão gravados com seus nomes, e para sempre elas saberão que “quem não crer será condenado”.
II. Isto nos leva a concluir com o CASTIGO.
“Eis que tu o verás com os teus olhos, porém disso não comerás” (2 Reis 7:2). Ouve, ó incrédulo! Já viste o teu pecado esta manhã; agora ouve a tua sentença: “Eis que tu o verás com os teus olhos, porém disso não comerás”. Isso é muito comum entre os próprios santos de Deus. Quando não têm fé, eles veem a misericórdia com seus próprios olhos, mas não a comem. Ora, há cereal nesta terra do Egito, mas alguns santos de Deus vêm aqui aos domingos e dizem: “Não sei se o Senhor será comigo ou não”. Outros falam: “Bem, o evangelho foi anunciado, mas não sei se fará alguma diferença”. Eles estão sempre com dúvidas e com medo. Ouça-os quando saem da capela: “Você foi bem alimentado esta manhã?” “Não, eu não”. É claro que não. Tu vês, mas não comes, porque não tens fé. Se tivesses vindo com fé, teríeis recebido pelo menos um bocado. Conheço cristãos que se tornaram tão críticos que, se a porção de alimento que devem receber, na época certa, não estiver cortada em pedaços exatamente iguais, e não for colocada no seu prato de porcelana favorito, eles não a comem. Por isso, saem sem nada, e vão sair até ficarem anêmicos. Eles passarão por aflições, as quais agirão como remédio amargo, e serão obrigados a comer com um gosto horrível na boca; ficarão na prisão por um dia ou dois até seu apetite voltar e, então, quando voltarem a comer, se satisfarão até com o alimento mais comum, servido no prato mais simples, ou até mesmo sem prato. No entanto, a verdadeira razão pela qual o povo de Deus não se alimenta com o ministério do evangelho é porque eles não têm fé. Quando se crê, mesmo não havendo promessa alguma, isso é suficiente; quando se ouve apenas uma coisa boa vinda do púlpito, isso se torna alimento para a alma, pois não é o quanto se ouve, mas o quanto se crê que faz bem para nós — é o que recebemos em nosso coração com fé viva e verdadeira, este é o nosso benefício.
            Contudo, deixem-me aplicar estas coisas principalmente aos não convertidos. Quase sempre eles veem as grandes obras de Deus com os olhos, mas não as comem. Uma porção de gente veio aqui nesta manhã para ver com os olhos, mas duvido muito que todas elas comam. As pessoas não podem comer com os olhos, pois, se pudessem, a maioria estaria bem alimentada. E, espiritualmente, também não podem se alimentar só com os ouvidos ou simplesmente olhando para o pregador; por isso, descobrimos que a maior parte das nossas congregações vem só para ver: “Ah, vamos ouvir o que este tagarela tem a dizer, este caniço agitado pelo vento”. Só que essa gente não tem fé; eles chegam, veem, veem, veem e nunca comem. Tem alguém lá na frente que é convertido; e ali ao lado outro que é chamado pela graça soberana; acolá tem um pobre pecador que chora por estar convicto da sua culpa; outro clama pela misericórdia de Deus, e ainda outro diz: “Sê propício a mim, pecador”. Uma grande obra está sendo realizada nesta capela, mas algumas pessoas não têm a mínima noção do que está acontecendo; pois não há uma obra sendo realizada no seu coração; e por quê? Porque vós pensais que isso é impossível; pensais que Deus não está agindo. Ele não prometeu agir em quem não O honra. A incredulidade vos faz sentar aqui em tempos de reavivamento e derramamento da graça de Deus, impassíveis, sem chamado e sem salvação.
            No entanto, cavalheiros, o pior ainda está por vir! O grande George Whitefield às vezes costumava levantar as mãos e bradar, como eu poderia fazer, mas me falta voz: “A ira vindoura! A ira vindoura!” Não é a ira de agora que vocês devem temer, mas a ira vindoura; e haverá destruição quando “vires com os teus olhos, porém disso não comereis”. Posso até ver aquele último grande dia. A hora da última badalada. Ouço o sino tocando sua melodia fúnebre — o tempo acabou, a eternidade chegou; o mar está agitado, as ondas se elevam com esplendor sobrenatural. Vejo um arco-íris — uma nuvem passando, e nela há um trono, e no trono está assentado um semelhante ao Filho do Homem. Eu o conheço. Ele tem uma balança na mão; bem diante dele estão os livros — o livro da vida, o livro da morte, o livro da lembrança. Vejo Seu esplendor e me regozijo nEle; olho Sua aparência majestosa e sorrio cheio de júbilo, pois Ele vem para ser “admirado por todos os santos”. Mas, eis ali uma multidão de miseráveis, encolhendo-se repulsivamente, tentando se esconder, e ainda assim olhando para Ele, pois seus olhos não conseguem se desviar dAquele a quem traspassaram; mas quando olham, eles gritam “Esconde-nos da face”. Que face? “Rochas, escondam-nos da face”. Que face? A face de Jesus, o homem que morreu, mas que agora vem para julgar. Contudo, não podeis vos esconder da Sua face; precisais ver com os vossos olhos: porém não vos assentareis à Sua direita, vestidos com vestiduras magníficas; e quando o cortejo triunfal de Jesus vier por entre as nuvens, não marchareis com Ele; vós o vereis, mas não estareis lá. Oh, agora me parece que vejo o poderoso Salvador em Sua carruagem, cruzando o firmamento num arco-íris. Vejam como o trotar de seus corcéis faz estremecer o céu, enquanto Ele os dirige por suas colinas. Uma comitiva cingida de branco segue após Ele, e sob as rodas da Sua carruagem Ele arrasta o diabo, a morte e o inferno. Ouçam como aplaudem. Ouçam como proclamam em alta voz: “Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro” (Efésios 4:8). Ouçam como cantam com solenidade: “Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso” (Apocalipse 19:6). Vejam o esplendor da sua aparência; atentem para a coroa nas suas frontes; observem suas vestes alvas como a neve; reparem no êxtase do seu semblante, ouçam como seus cânticos sobem ao céu enquanto o Eterno Se une a eles, dizendo a cada um: “Deleitar-Me-ei em ti com alegria; regozijar-Me-ei em ti com júbilo; desposar-te-ei comigo para sempre com benignidade eterna”. E onde estais vós esse tempo todo? Podeis vê-los lá em cima, mas onde estais vós? Vendo com vossos olhos, mas sem poder comer de tudo aquilo. O banquete de casamento é imenso; as garrafas dos bons vinhos envelhecidos da eternidade são abertas; todos se assentam para festejar com o rei; mas lá estais vós, miseráveis e famintos, sem poder comer. Ah, como torceis as mãos em desespero. Se pelo menos tivésseis uma migalha — seríeis como os cachorrinhos debaixo da mesa de seus donos. No entanto, vós sereis cães no inferno, nunca no céu.
            Para concluir. Parece-me ver-te em algum lugar do inferno, preso a uma rocha, e o abutre do remorso consumindo teu coração; e lá em cima, Lázaro no seio de Abraão. Tu levantas os olhos e vês quem é: “É aquele pobre que ficava no meu monte de lixo e os cães vinham lamber-lhe as feridas; ei-lo lá no céu, enquanto eu estou aqui aflito. É Lázaro, sim, é ele; e eu, que era rico em vida, agora estou aqui no inferno. Pai Abraão, ‘manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua’”. Só que não é assim! Não pode ser assim, não pode! Se existir no inferno alguma coisa pior que todas as outras será a visão dos santos no céu. Dói só de pensar em ver minha mãe no céu enquanto sou banido! Ó, pecador, pensa bem, ver teu irmão no céu — aquele que foi embalado no mesmo berço que tu e que brincava sob a mesma copa das árvores — enquanto tu és banido. Marido, lá está tua esposa no céu, e tu entre os condenados ao inferno. Vês, pai, o teu filho diante do trono? E tu? Maldito de Deus e maldito dos homens, estás no inferno. Ah, o inferno dos infernos será ver nossos amigos no céu e nós mesmos perdidos. Rogo-vos, meus ouvintes, pela morte de Cristo — pela Sua agonia e pelo Seu sangue — pela Sua cruz e pela Sua paixão — por tudo que é santo — por tudo que é sagrado no céu e na terra — por tudo que é solene no tempo e na eternidade — por tudo que é horrível no inferno, ou glorioso no céu — por aquele terrível pensamento, “para sempre” — rogo-vos que guardeis estas coisas no vosso coração, e vos lembreis, se fordes condenados, de que foi a incredulidade que vos condenou. Se vos perderdes, será por não terdes crido em Cristo; e se perecerdes, esta será a gota mais amarga de fel: não crestes no Salvador.
Tradução: Mariza Regina de Souza


[1] Phaeton era filho de Hélios [deus do sol] e da ninfa Climene. Um dia o pai lhe entregou as rédeas do carro do sol e ele aproximou-se tanto da Terra que criou um enorme incêndio, dando o fogo ao homem. Zeus fulminou-o com um raio, e Phaeton precipitou-se sobre o rio Eridano [rio Pó].
[2] Século XIX, época em que Spurgeon pregou este sermão. O estado de Israel foi criado em 1948.