terça-feira, 6 de novembro de 2018

A Consolação Propiciada Para Aflições Espirituais

Sermão nº 13 
Ministrado na manhã de domingo, 11 de março de 1855 
Pelo Rev. Charles H. Spurgeon 
Em Exeter Hall, Strand


“Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo.” ━ 2 Coríntios 1.5 (Almeida Corrigida, Fiel)

          Quereis descanso das vossas tribulações, filhos da tristeza e da angústia? Eis o lugar onde podeis aliviar vossos fardos e deixar vossas preocupações. Ó, filho da aflição e da miséria, queres te esquecer por um momento das tuas dores e pesares? Eis Betesda, a casa da misericórdia; eis o lugar designado por Deus para dar-te ânimo e interromper o incessante curso das tuas angústias; eis o local onde os filhos de Deus amam estar, pois é onde encontram consolo em meio à tribulação, alegria na tristeza e conforto na aflição. Até as pessoas do mundo admitem que há algo extremamente reconfortante nas sagradas Escrituras e em nossa santa religião. Já ouvi falar de algumas que, de acordo com sua lógica, pensaram ter desacreditado o cristianismo e provado que ele não era real, mas acabaram por reconhecer que destruíram uma ilusão muito reconfortante, chegando quase ao ponto do desespero por não crerem nele. Ah, meus amigos, se o cristianismo não fosse real, vocês poderiam chorar. Se a Bíblia não fosse a verdade de Deus ━ se não pudéssemos nos reunir ao redor do Seu trono de misericórdia, então vocês poderiam colocar as mãos nos quadris e andar como se estivessem em trabalho de parto. Se não tivessem algo neste mundo além da sua razão, além das alegrias passageiras da terra ━ se não tivessem algo dado por Deus, alguma esperança além do azul do céu, algum refúgio maior que o terreno, algum livramento melhor que o propiciado pelo mundo, então poderiam chorar. Ah! Poderiam chorar até seu coração sair pelos olhos e seu corpo se dissipar numa lágrima perpétua. Poderiam pedir às nuvens para pairar sobre sua cabeça e os rios para rolar de seus olhos, pois sua tristeza “precisaria de toda a água que a natureza pudesse produzir”. No entanto, bendito seja Deus, temos consolação, temos alegria no Espírito Santo. E isso não encontramos em nenhum outro lugar. Podemos vasculhar a terra e não acharemos joia alguma; podemos revirar este mundo muitas e muitas vezes e não encontraremos nada de valor; mas aqui, na Bíblia, aqui na religião do bendito Jesus Cristo, nós, que somos filhos de Deus, achamos consolo e alegria, enquanto dizemos: “como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo”. 

          Há quatro coisas neste texto para as quais gostaria de chamar sua atenção: a primeira é que as aflições devem ser esperadas ━ “as aflições de Cristo são abundantes em nós”; segunda, é preciso observar uma distinção ━ as aflições são de Cristo; terceira, há uma proporção a ser experimentada ━ “como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação”; e quarta, há uma pessoa a ser honrada ━ “assim também é abundante a nossa consolação por meio de CRISTO”. 

         1. Portanto, nossa primeira divisão é: AS AFLIÇÕES DEVEM SER ESPERADAS. O santo apóstolo diz: “as aflições de Cristo são abundantes em nós”. Antes de vestir a armadura cristã, precisamos saber que tipo de serviço nos aguarda. Ao fazer o recrutamento para o serviço de Sua Majestade (rainha da Inglaterra), o sargento recrutador sempre desliza uma pequena quantia na mão de algum jovem desinformado, dizendo-lhe o quanto o serviço é bom, que a única coisa a fazer é andar de lá para cá num uniforme vistoso e que o trabalho não é difícil ━ pois, na verdade, ele só precisa ser um bom soldado e ir direto para a glória. No entanto, o servo cristão, quando recruta um soldado da cruz, nunca o engana. O próprio Senhor Jesus disse para “calcular a despesa” (Lucas 14.28). Ele não queria nenhum discípulo que não estivesse preparado para ir até o fim ━ “e suportar a dificuldade como um bom soldado”. Às vezes ouço o evangelho sendo descrito de uma forma que seu colorido exagerado não me agrada. É verdade que “os seus caminhos são caminhos deliciosos” (Provérbios 3.17), mas não é verdade que o cristão nunca terá tristezas ou problemas. É verdade que pessoas alegres e despreocupadas podem passar por este mundo sem muita depressão e tribulação; mas não é verdade que o cristianismo protege alguém das tribulações, nem que ele deva ser representado dessa forma. Na verdade, é preciso dizer exatamente o contrário. Soldado de Cristo, se te alistares, terás uma árdua batalha pela frente. Para ti não haverá hora de dormir, nem subida para o céu numa carruagem; será preciso trilhar um caminho difícil, escalar montanhas, atravessar rios, combater dragões, matar gigantes, superar dificuldades e enfrentar grandes provações. Creia-me, o caminho para o céu não é suave; aqueles que já iniciaram a jornada descobriram como o terreno é acidentado. É um caminho delicioso; é o mais agradável que existe, mas não é fácil; só é agradável devido à companhia, às promessas maravilhosas nas quais nos apoiamos e à presença do nosso Amado junto conosco em todos os momentos tortuosos e espinhosos da vastidão do deserto. Cristão, espere as tribulações: “não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (1 Pedro 4.12), pois, tão certo quanto és filho de Deus, é certo que teu Salvador te deixou este legado: “No mundo, passareis por aflições; mas em mim tereis paz”. Se eu não tivesse nenhum problema, não acreditaria que faço parte da família de Deus. Se não tivesse nenhuma provação, não me consideraria herdeiro do céu. Os filhos de Deus não podem, nem irão, escapar da vara. Os pais terrenos podem estragar seus filhos, mas o Pai celestial nunca fará isso. “O Senhor corrige a quem ama” (Hebreus 12.6) e açoita a todo filho a quem escolheu. Seu povo deve sofrer; por isso, cristão, espere a aflição; se és filho de Deus, creia nisso, espera por isso e, quando a aflição vier, dize: “Bem-vinda, sabia que virias, não és estranha para mim; estava à tua espera”. Você não imagina o quanto suas provações serão mais leves se esperá-las com resignação. Na verdade, será uma maravilha se houver um dia sem aflição. Será notável se houver uma semana sem perseguição; e se, por acaso, houver um mês inteiro sem gemidos interiores, será o milagre dos milagres. Mas quando o problema surgir, diga: “Ah, é isso que eu esperava; está assinalado no mapa para o céu; a rocha está ali, passarei por ela com confiança, meu Mestre não me iludiu”. 

“Por que reclamar de necessidade ou agonia,
Tentação ou dor? Ele não disse que não as teria”.

           Mas, por que o cristão deve esperar os problemas? Por que deve esperar que as aflições de Cristo sejam abundantes sobre ele? Espera um momento, querido irmão, e te mostrarei quatro razões pelas quais deves suportar a provação. Primeiro, olha para cima, depois olha para baixo, olha ao teu redor, e então olha para dentro de ti, e verás as quatro razões pelas quais as aflições de Cristo devem abundar sobre ti. 

          Olha para cima. Vês teu Pai celeste, um ser puro e santo, imaculado, perfeito e justo? Sabes que um dia serás como Ele? Pensas que serás facilmente conformado à Sua imagem? Será que não precisas ser trabalhado na forja, moído no moinho da tribulação, triturado no pilão da aflição, quebrado sob as rodas da agonia? Pensas que será fácil ao teu coração se tornar tão puro quanto Deus? Pensas que logo te livrarás das tuas corrupções e te tornarás perfeito, como é perfeito teu Pai que está no céu? 

          Levanta os olhos novamente; consegues ver aqueles espíritos brilhantes com vestiduras brancas, mais puros que o alabastro, mais castos, mais formosos que o mármore de Paros (1)? Vê, eles estão na glória. Pergunta-lhes de onde veio sua vitória. Alguns dirão que atravessaram rios de sangue. Observa os sinais de honra em suas frontes; olha, alguns levantam as mãos e dizem que foram consumidos pelo fogo; enquanto outros foram passados ao fio da espada, despedaçados por feras; foram afligidos e atormentados. Ó, nobre exército de mártires, gloriosas hostes do Deus vivo. Vós tivestes de atravessar rios de sangue, e eu espero ir para o céu envolto em pele de arminho? Vós enfrentastes dor e sofrimento, e eu devo ser mimado com os luxos deste mundo? Vós lutastes e depois reinastes, e eu devo reinar sem uma batalha? Ah, não, é claro que não! Com o auxílio de Deus, espero que, assim como vós sofrestes eu também sofra, e assim como entrastes no reino do céu por meio de muita tribulação, eu também entre. 

          A seguir, cristão, volta teus olhos para baixo. Sabes quais inimigos tens abaixo dos teus pés? Lá estão o inferno e seus leões contra ti. Já foste servo de Satanás e nenhum rei gosta de perder seus súditos. Pensas que ele está satisfeito contigo? Ora! Tu mudaste de lado! Antes eras um servil vassalo de Apoliom, mas agora te tornaste um bom soldado de Cristo; e pensas que o diabo está satisfeito com isso? Posso dizer-te que não. Se tivesses visto Satanás no momento em que foste convertido, terias visto uma cena impressionante. Assim que entregaste teu coração a Cristo, ele abriu as asas como um morcego, voou para o inferno, convocou todos os seus conselheiros e disse: “filhos das profundezas, legítimos herdeiros das trevas; vós que no passado fostes revestidos de luz, mas caístes junto comigo das alturas celestes, sabei que outro servo me deixou; perdi mais um da família; ele passou para o lado do Senhor dos Exércitos. Ó companheiros, camaradas dos poderes das trevas, tentai por todos os meios destruí-lo. Eu vos ordeno: lançai sobre ele todos os vossos dardos inflamados; atormentai-o; cães do inferno, ladrai contra ele; demônios, cercai-o; não deis descanso a ele; fustigai-o até a morte; que a fumaça do nosso lago corrupto e ardente encham suas narinas; persegui-o, o homem é um traidor; não o deixeis em paz; já que não posso tê-lo aqui para prendê-lo com correntes inquebráveis; já que nunca poderei tê-lo comigo, atormentai-o e afligi-o o quanto puderdes, até o dia da sua morte. Eu vos ordeno: urrai sobre ele até que cruze o rio; atribulai-o, importunai-o, angustiai-o, pois o patife se voltou contra mim e se tornou servo do Senhor”. Essa bem poderia ser a cena no inferno no dia em que entregaste teu amor ao Senhor. E pensas que Satanás te ama mais agora? Ah! Com certeza, não! Ele sempre te atormentará e será teu inimigo: “como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1 Pedro 5.8). Portanto, cristão, quando olhares para baixo, espera por tribulações. 

          Depois, homem de Deus, olha ao teu redor. Não fiques dormindo! Abre teus olhos e olha ao teu redor. Onde estás? Esse, ao teu lado, é teu amigo? Não, tu estás na terra do inimigo. Este é um mundo perverso. Creio que metade das pessoas professa não ter religião e a outra metade, que professa ser crente, muitas vezes não é. “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço” (Jeremias 17.5) ━ “Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o SENHOR” (Jeremias 17.7). “Somente vaidade são os homens plebeus”. A voz da multidão não vale a pena ouvir; “falsidade, os de fina estirpe” (Salmo 62.9), o que é ainda pior. Não se pode confiar no mundo, nem contar com ele. O verdadeiro cristão calca o mundo a seus pés, junto com “tudo que a terra chama de bom ou grande”. Olha ao teu redor, irmão, verás alguns corações bons, fortes e valentes; verás algumas almas verdadeiras, sinceras e honestas; verás fiéis adoradores de Cristo; porém eu te digo, ó filho da luz, que onde encontrares um homem sincero, encontrarás vinte hipócritas; onde encontrares um que te conduza ao céu, encontrarás muitos que te arrastam para o inferno. Estás numa terra de inimigos, não de amigos. Não acredites que o mundo é bom. Muita gente já se deu mal por querer abraçar o mundo. Muitos já foram picados por terem posto a mão nesse ninho de cascavel, achando que as cores brilhantes da serpente adormecida fossem garantia de que não teriam problemas. Ah, cristão, o mundo não é teu amigo. Se fosse, tu não serias amigo de Deus, pois aquele que é amigo do mundo é inimigo de Deus; e aquele é desprezado pelos homens, muitas vezes é amado do Senhor. Estás na terra do inimigo, irmão: por isso, espera por problemas, espera que “aquele que come no teu prato, cuspa nele”; espera que aqueles que te amam se afastem de ti; estejas certo de que, estando em território inimigo, irás encontrar inimigos por toda parte. Ao dormires, lembra-te de que estás no campo de batalha; quando andares por aí, não te esqueças de que pode haver uma emboscada em cada arbusto. Presta atenção, toma cuidado! Este não é um mundo para andares de olhos fechados. Olha ao teu redor e, quando estiveres na torre de vigia, estejas certo de que os problemas virão. 

         E, então, olha para dentro de ti. Ali dentro há um mundinho que é suficiente para nos causar muitos problemas. Certa vez, um católico romano disse que desejava ter uma janela em seu coração para que todos pudessem ver o que acontecia lá dentro. Fico feliz por não ter uma no meu coração; se tivesse, eu a deixaria cerrada como costumavam ficar as janelas da Apsley House (2). Cuidaria para que a veneziana nunca estivesse aberta. A maioria de nós teria necessidade deixá-la com a veneziana cerrada, se tivesse uma janela assim. No entanto, por um momento, espreita a janela do teu coração e observa o que tem lá dentro. Ali se encontra o pecado ━ o pecado original e a depravação; e mais, teu ego ainda está lá. Ah! Se não tivesses nenhum demônio para tentar-te, tu tentarias a ti mesmo; se não houvesse inimigos para lutar contra ti, tu mesmo serias o pior dos teus inimigos; se não houvesse mundo, tu mesmo serias ruim o suficiente; pois “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jeremias 17.9). Crente, olha pra dentro de ti; vê os tumores que tens nas tuas partes vitais; vê que carregas dentro de ti uma granada prestes a explodir à menor faísca de tentação; vê que tens dentro do coração uma coisa ruim, uma víbora enrolada, pronta para dar o bote e te picar, e te causar dores e tristezas indescritíveis. Cuida do teu coração, cristão e, quando descobrires que há pesar, sofrimento e necessidade, olha para dentro de ti e pergunta: “Será que posso suportar tudo isso, considerando o perverso coração de incredulidade que carrego dentro de mim?” (Hebreus 3.12). Será que agora vês, querido irmão em Cristo? Ali não há escapatória. O que fazer, então? Não temos nenhuma chance. Precisamos suportar o sofrimento e a aflição; portanto, vamos enfrentá-los com disposição. Alguns de nós são oficiais nos regimentos de Deus e ficam sob a mira dos atiradores do inimigo. Ficando na linha de frente, temos de aparar todos os tiros. Que bênção nenhum oficial de Deus cair em batalha! Deus sempre os guarda. Quando as flechas voam ligeiras, o escudo da fé não deixa nenhuma passar; quanto mais furioso o inimigo, mais Deus fica satisfeito. Por isso, seja qual for a nossa preocupação, o mundo pode continuar, o diabo pode nos insultar, a carne pode se rebelar; “porque somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Romanos 8.37). Portanto, toda honra seja sempre dada a Deus. Espera pelas aflições. Este é o nosso primeiro ponto. 

          2. Agora, em segundo lugar, É PRECISO OBSERVAR UMA DISTINÇÃO. Está escrito que as nossas aflições são as aflições de Cristo. Ora, a aflição em si mesma não é evidência de cristianismo. Muita gente passa por tribulações e problemas e não é filha de Deus. Já ouvi algumas pessoas chorosas dizerem: “Sei que sou filho de Deus, pois estou cheio de dívidas, sou pobre e tenho muitos problemas”. Será que é mesmo? Conheço muito patife que está nas mesmas condições, e não creio que alguém seja filho de Deus só porque está em condições precárias. Muita gente tem problemas e angústias além dos filhos de Deus. Esta não é uma particularidade da família do Senhor; e, se a minha esperança como cristão não tivesse outro fundamento, exceto as minhas tribulações, eu teria um fundamento realmente muito fraco. Por isso, é preciso observar uma distinção. Será que essas aflições são as aflições de Cristo ou não? A pessoa é desonesta e vai para a cadeia; é covarde e todo mundo a reprova por isso; é mentirosa e, por isso, todos fogem dela. No entanto, ela diz que é perseguida. Perseguida! Não mesmo! Ela procurou por isso. Ela merece isso. Contudo, tal pessoa consola a si mesma com o pensamento de que “faz parte do amado povo de Deus”, pois os outros se afastam dela, quando o caso é justamente porque ela merece as consequências de seus atos. Pessoas assim não vivem como deveriam; por isso, o mundo as abandona. Veja bem, meu amado, se as suas aflições são as verdadeiras aflições de Cristo, esteja certo de que elas não são suas mesmo; pois se forem, você não terá alívio. Somente quando as aflições são as aflições de Jesus é que podemos encontrar conforto. 

          “Bem”, diz você, “o que significa serem as nossas aflições as aflições de Cristo”? Sabemos que na Bíblia, às vezes, a palavra “Cristo” se refere a toda a igreja com Cristo, como em 1 Coríntios 12.12 (3), e diversas outras passagens que não me recordo no momento; no entanto, podemos nos lembrar do texto que diz: “preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja” (Colossenses 1.24). Ora, assim como Cristo, o cabeça, teve de suportar muitas aflições, o corpo também tem de suportar algum peso sobre ele. Nossas aflições são as aflições do Cristo místico, as aflições do corpo de Cristo, as aflições da igreja de Cristo; pois sabemos que, se alguém pudesse ser tão alto que sua cabeça alcançasse o céu e os pés o fundo do mar, seu corpo ainda seria o mesmo, e a cabeça sentiria o sofrimento dos pés. Por isso, embora minha cabeça esteja no céu e eu na terra, minhas dores são as dores de Cristo; minhas provações são as provações de Cristo, e minhas aflições são sofridas por Ele. 

Sinto em meu coração todos os teus suspiros e gemidos 
Pois estás perto de mim, da minha carne e dos meus ossos 
Em todas as tuas aflições, tua Cabeça sente a dor 
Contudo, todas são necessárias, nenhuma é sem valor. 

As tribulações do verdadeiro cristão são tanto as aflições de Cristo quanto as agonias do Calvário. 

          Mas você ainda diz: “Como saber se os nossos problemas são as provações de Cristo”. Bem, são provações de Cristo se você se aflige por amor de Cristo. Se você é chamado a enfrentar dificuldades por causa da verdade, então elas são as aflições de Cristo. Se você se aflige por causa de você mesmo, talvez seja um castigo devido aos seus próprios pecados; mas se é por causa de Cristo, então suas aflições são as aflições de Cristo. Mas alguns perguntam: “Será que ainda existe perseguição? Será que os cristãos ainda sofrem por amor de Cristo”? Sofrem sim! Se quisesse, poderia lhes falar de fanatismo insuportável, de perseguição quase tão intensa quanto nos dias de Maria; com a diferença de que nossos inimigos não têm o poder e a lei a seu lado. Poderia lhes contar de algumas pessoas que, pelo simples fato de virem aqui e ouvir este jovem desprezado, este sujeito falador, são olhadas como se fossem a escória do mundo. Muita gente que leva uma vida miserável e infeliz vem a mim simplesmente porque ouve de meus lábios a palavra da verdade. E, apesar de tudo o que é dito, elas ouvem. Muitos que estão diante de mim com certeza ficariam com os olhos cheios de lágrimas se eu contasse suas histórias ━ pessoas que me enviaram mensagens particulares falando sobre o quanto têm sofrido por amor de Cristo, só porque desejam ouvir a quem querem. Por quê? Será que as pessoas não podem fazer o que desejam? Se não quero fazer exatamente como os outros ministros, será que não tenho o direito de pregar como quero? Se não tenho, vou ter! ━ E isso é tudo. E será que outras pessoas não têm o direito de me ouvir, se quiserem, sem terem de pedir permissão a quem quer que seja, religioso ou não? Liberdade! Liberdade! Que as pessoas façam o que quiserem. Mas a liberdade, onde está? Dizem que na Bretanha. Sim, até certo ponto, mas não totalmente. No entanto, fico feliz por alguns dizerem: “Bem, minha alma foi edificada; digam o que quiserem, sempre defenderei a verdade e o lugar onde ouço a palavra para minha edificação”. Por isso, queridos corações, sigam em frente; e se tiverem aflições por amor de Cristo, saibam que elas são as aflições de Cristo. Se vocês vieram aqui simplesmente porque queriam ganhar alguma coisa com isso, então as aflições seriam suas; mas, já que não há nada a ganhar, a não ser a edificação da alma, continuem firmes. Não importa o que digam, a perseguição só lhes trará uma coroa mais brilhante na glória. 

         Ah! Cristão, isso nos enobrece. Irmãos, pensar que as nossas aflições são as aflições de Cristo nos enche de orgulho e felicidade. Creio ter sido uma grande honra para os antigos soldados que lutaram ao lado do Duque de Ferro (4) poderem dizer: “Lutamos sob o comando do bom e velho Duque, o qual venceu tantas batalhas; e, quando ele vencia, parte da honra também era nossa”. Cristão, tu lutas lado a lado com Jesus; Cristo é contigo; cada golpe é um golpe dirigido a Cristo; cada calúnia é uma calúnia lançada contra Cristo; a batalha é do Senhor; o triunfo é do Senhor; portanto, avante, rumo à vitória! Lembro-me da história de um grande comandante que, tendo conquistado muitas vitórias importantes, conduziu suas tropas a um desfiladeiro e, quando chegaram lá, foram completamente cercados pelo inimigo. Ele sabia que na manhã seguinte a batalha seria inevitável, por isso, passou a ronda por todas as tendas, para saber como estava a disposição dos seus soldados ━ se estavam desanimados ou não. Ao se aproximar de uma tenda, ouviu um soldado dizendo: “Aí está o nosso general; ele é bastante corajoso, mas desta vez foi muito imprudente; ele nos trouxe a um lugar onde certamente seremos derrotados; o inimigo tem muitos soldados na cavalaria e na infantaria”; a seguir, o homem contou as tropas do seu próprio lado e disse quantas tinha. O comandante, então, depois de ouvi-lo, puxou gentilmente a lona da barraca e disse: “Você me incluiu na sua conta? Você contou os homens da infantaria e da cavalaria; mas você me incluiu, seu bravo capitão, que conquistou tantas vitórias”? Ora, cristão, eu digo o mesmo: quantos você contou? Cristo não é um, nem mil: Ele é o “comandante de dez milhares”. Contudo, Ele é muito mais que isso. Ah, Ele é a pessoa mais importante; e quando contares teus ajudantes e auxiliares, repara que Cristo é tudo em todos, pois nEle a vitória é certa ━ o triunfo é garantido. 

         3. Nosso terceiro ponto é: HÁ UMA PROPORÇÃO A SER EXPERIMENTADA. Assim como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também são as consolações de Cristo. Eis a bênção da proporção. Deus sempre mantém o equilíbrio da balança ━ de um lado Ele coloca as aflições de Seu povo, de outro as Suas consolações. Você verá que, quando o prato das aflições estiver quase vazio, o prato das consolações também estará; e quando o prato das aflições estiver cheio, o prato das consolações terá o mesmo peso, pois as aflições de Cristo abundam em nós assim como são abundantes as consolações em Cristo. Essa é uma questão de pura experiência. Algumas pessoas aqui não sabem o que é isso. Elas não são cristãs, não são nascidas de novo, não são convertidas, ainda não foram regeneradas e, por isso, ainda não perceberam o quanto é maravilhosa a proporção entre as aflições e as consolações de um filho de Deus. Ah, é um mistério que, quanto mais negras são as nuvens dentro de nós, mais intenso é o brilho da luz. Quando a noite cai e a tempestade se aproxima, o capitão celestial está sempre mais perto da Sua tripulação. É uma bênção que, quanto mais abatidos, mais elevados somos pelas consolações de Cristo. Deixem-me lhes mostrar as razões disso. 

         A primeira razão é porque as aflições abrem mais espaço para as consolações. Não há nada como uma grande aflição para fazer um grande coração. Acho que pessoas pequenas, infelizes, cujo coração é do tamanho de um grão de mostarda, nunca tiveram muitas provações. Percebi que pessoas que não mostram compaixão pelos seus semelhantes ━ que não choram pelas tristezas dos outros ━ raramente tiveram grandes problemas. Grandes corações só podem ser produzidos por grandes tribulações. A pá da tribulação cava mais fundo o reservatório do bem-estar para abrir mais espaço para as consolações. Deus entra no nosso coração ━ vê que ele está cheio ━ então começa a quebrar o nosso bem-estar para deixá-lo vazio; abrindo mais espaço para a graça. Quanto mais humilde alguém for, maior consolo terá. Lembro-me de um dia ter caminhado ao lado de um lavrador ━ um homem profundamente instruído, apesar de ser lavrador; e creio que lavradores poderiam realmente ser muito melhores pregadores do que muitos homens graduados ━ e ele me disse: “Creia nisso, irmão, se você ou eu subirmos um centímetro acima do chão, acharemos que esse único centímetro é muito alto”. Acho que é verdade, pois quanto mais baixo estivermos, mais perto do chão ━ quanto mais problemas para nos humilhar, mais aptos estaremos para receber consolo; e Deus sempre nos dá consolo quando estamos mais preparados para isso. Esta é uma razão das razões pelas quais nossas consolações aumentam na mesma proporção que as nossas provações. 

         Por outro lado, os problemas exercitam as nossas graças, e o próprio exercício das graças nos leva a sermos mais felizes e satisfeitos. Onde o solo é mais regado, a grama é mais verde. Creio que são as brumas e névoas da Irlanda que a tornam a “Ilha Esmeralda”; e, onde quer que você encontre grandes brumas de tribulação e névoas de tristeza, você sempre encontrará corações verde-esmeralda: cheios do belo verdor do consolo e do amor de Deus. Ah, cristão, não fiques dizendo: “Para onde foram as andorinhas? Elas partiram; estão mortas”. Elas não estão mortas, elas sobrevoaram o mar púrpura e foram para uma terra distante; mas aos poucos estarão de volta. Filho de Deus, não digas que as flores estão mortas; não digas que o inverno as matou e elas se foram. Oh, não, embora o inverno as tenha recoberto com um manto de neve, elas se erguerão novamente e em breve voltarão à vida. Não digas, filho de Deus, que o sol se apagou só porque a nuvem o encobriu. Ah, não, ele está lá atrás, preparando o verão para ti, pois quando sair novamente, terá deixado as nuvens prontas para as chuvas de abril, mães das lindas flores de maio. E, acima de tudo, quando teu Deus esconde a Sua face, não digas que Ele te esqueceu. Ele só está demorando um pouquinho para te fazer amá-lO ainda mais; e, quando Ele vier, terás prazer no Senhor e te regozijarás com alegria indescritível. Esperar exercita as nossas graças; esperar prova a nossa fé; portanto, espera com esperança; pois embora a promessa possa demorar, ela nunca chega tarde demais. 

         Outra razão pela qual muitas vezes somos mais felizes em nossas tribulações é esta: por temos contato mais íntimo com Deus. Falo isso pelo conhecimento do coração e por experiência própria. Nunca temos tanta intimidade com Deus como quando passamos por tribulações. Quando o celeiro está cheio, o homem pode viver sem Deus; quando a bolsa está repleta de ouro, podemos fazer as coisas sem nos dedicar muito à oração. No entanto, quando as nossas abóboras secam (Jonas 4.7), nós queremos Deus; quando os ídolos do lar se vão, precisamos ir e honrar o Senhor. Algumas pessoas que estão aqui hoje não oram nem a metade do que deveriam. Mas, se são filhos de Deus, serão açoitados, e quando forem açoitados, correrão para o Pai. Um belo dia, uma criança caminhava adiante do pai; de repente apareceu um leão na estrada e o garoto voltou correndo e pegou sua mão. Enquanto tudo estava calmo e corria bem, ele pôde ficar a uma boa distância do pai, mas quando o leão apareceu, ele voltou correndo e gritou “papai, papai”! O mesmo acontece com o cristão. Quando tudo está bem, ele se esquece de Deus. “Mas, engordando-se o meu amado, deu coices; engordou-se, engrossou-se, ficou nédio e abandonou a Deus” (Dt. 32.15). No entanto, tire suas esperanças, roube suas alegrias, coloque seu bebê num caixão, destrua suas colheitas, leve seu rebanho do aprisco, ponha seu marido de ombros largos no túmulo, deixe seus filhos órfãos ━ e só então Deus será realmente Deus. Ó Senhor, mesmo que me deixes nu, me leves tudo o que tenho, me faças pobre, mendigo, sem um centavo, sem esperança; mesmo que quebres a cisterna; esmagues a esperança; apagues as estrelas; escureças o sol; escondas a lua nas trevas, e me deixes totalmente só, sem amigo e sem quem me ajude, ainda assim, “Das profundezas clamo a ti, SENHOR” (Salmo 130.1). Não há clamor tão bom quanto aquele que vem do fundo do abismo; não há oração tão sincera quanto aquela que brota das profundezas da alma, das profundas aflições e provações, pois eles nos levam para Deus e somos mais felizes, porque esse é o jeito de ser feliz ━ viver perto de Deus. De forma que, embora as aflições sejam abundantes, elas nos conduzem a Deus e, por isso, as consolações também são abundantes. 

         Algumas pessoas chamam os problemas de peso. Na verdade, eles são mesmo um peso. Um navio que tem velas grandes e enfrenta muitos ventos, precisa de lastro. Os problemas são o lastro de um crente. Os olhos são as bombas que retiram a água dos porões da alma, impedindo-o de afundar. Mas, se suas provações são pesadas, vou lhe contar um pequeno segredo. Há uma coisa que pode fazer o peso erguê-lo. Se estou acorrentado a um peso, ele me mantém embaixo; mas se tenho uma polia e determinados aparelhos, posso fazer com que o peso me levante. Sim, há uma coisa que me ergue para o céu. Certa vez, um senhor perguntou a um amigo por que seu belo cavalo ficava com a pata presa enquanto pastava: “Por que prende um animal tão esplêndido”? “Senhor”, respondeu o amigo, “prefiro prendê-lo a perdê-lo: ele costuma pular a cerca”. Eis a razão pela qual Deus refreia Seu povo. Ele prefere refreá-los a perdê-los; se Ele não os refreasse, eles pulariam a cerca e iriam embora. Eles precisam de uma corda para impedir que se desviem, e seu Deus os amarra com aflições para mantê-los perto dEle, para preservá-los e tê-los em Sua presença. Mas que bênção: assim como nossas aflições são abundantes, nossas consolações também são abundantes. 

        4. Agora, vamos fechar com nosso último ponto. Que o Espírito Santo me dê forças mais uma vez para lhes falar uma palavra ou duas. HÁ UMA PESSOA A SER HONRADA. É fato que os cristãos podem se regozijar mesmo na mais profunda aflição; é verdade que, mesmo na prisão, eles ainda cantam; como muitos pássaros, eles cantam melhor quando estão na gaiola. É verdade também que, mesmo encobertos pelas ondas, sua alma não afunda. E é verdade, ainda, que eles têm uma boia que os mantém com a cabeça fora d’água e os ajuda a cantar na mais negra escuridão: “Deus ainda está comigo”. Mas, a quem devemos honrar? A quem devemos dar glória? Oh! Só a Jesus, só a Jesus! Pois o texto diz que tudo é por Jesus. Não é por ser cristão que tenho alegria na tribulação ━ não, necessariamente; nem sempre a tribulação traz consolação; mas é Cristo quem vem a mim. Estou doente, de cama; Cristo sobe as escadas e Se senta ao meu lado, e me fala palavras doces. Estou morrendo, as águas frias do Jordão tocam meus pés, sinto meu sangue estagnar e congelar. Vou morrer; Cristo coloca Seus braços ao meu redor e diz: “Não temas, amado; morrer é ser abençoado; a nascente das águas da morte está no céu; as águas não são amargas, são doces como néctar, pois fluem do trono de Deus”. Eu entro no rio, as ondas me cercam, sinto meu coração e minha carne falharem, mas a mesma voz está em meus ouvidos: “não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus” (Isaías 41.10). Agora chego às margens do infinito desconhecido, aquela terra “de cuja fronteira ninguém jamais retorna”; ao entrar no reino das sombras, fico meio assustado, mas aquela voz doce continua: “Estarei contigo aonde quer que vás; se fizeres a tua cama no Hades, Eu estarei contigo”; então eu prossigo, contente por morrer, pois Jesus me alegra, Ele é meu consolo e esperança. Ah! Vós que não conheceis o nome incomparável de Jesus, vós tendes perdido a nota mais doce que pode compor uma melodia. Vós, que nunca fostes arrebatados pelo precioso soneto contido nesta única palavra, Jesu (NT: nome poético de Jesus), não sabeis o que ela significa ━ I-ES-U (“I ease you”, em português “eu te acalmo”.); perdestes a alegria e o consolo da sua vida, e tendes de viver tristes e infelizes. O cristão, no entanto, pode se regozijar, pois Cristo nunca vai desampará-lo, nunca vai deixá-lo, estará com ele para sempre. 

         E, agora, mais uma palavra ou duas. Em primeiro lugar, tenho um conselho a dar àqueles que antecipam suas tribulações e se afligem antes que elas aconteçam. Lembrem-se do ditado popular: “não coloque o carro adiante dos bois”. Sigam meu conselho: “nunca procurem os problemas, pois eles, com certeza, virão mais cedo do que esperam”. Conheço muitas pessoas que ficam se martirizando antes mesmo que as coisas aconteçam. O que há de bom nisso? Se me mostrarem qualquer benefício, eu lhes digo para irem em frente; mas, para mim, parece-me suficiente que o Pai encoste a vara no filho sem que ele mesmo se castigue. Por que antecipar as tribulações? Se estão com medo delas, por que fazem isso? A tribulação nunca será insuportável; e quando ela vier, a força para enfrentá-la virá junto. Portanto, põe-te de pé, tu que estás aí sentado, lamentando-se por coisas que ainda não aconteceram. 

A religião nunca foi designada 
Para diminuir os nossos prazeres. 

Para com isso! Apruma-te! Por que te assentar e ficar paralisado de medo? Quando a tribulação vier, então luta! Com coração forte e corajoso mergulha no rio, vestido como estás, e nada; mas não a temas antes que ela venha. 

         Agora, cristão com problemas, tenho uma palavra para ti. Irmão amado, estás com problemas, estás em meio às ondas da aflição, não é? Isso não te é estranho, é? Já passaste por isso muitas vezes. “Ah”, dizes tu, “esta é a pior delas. Levantei-me esta manhã com um grande peso nas costas; parece que tem chumbo no meu coração: estou infeliz, triste e muito abatido”. Bem, irmão, assim como são abundantes as tuas aflições, assim serão as tuas consolações. Penduraste a harpa no salgueiro? (Salmo 137.2). Fico feliz por não a teres quebrado. É melhor pendurá-la no salgueiro do que quebrá-la; cuida para que não a quebres. Ao invés de ficares angustiado com teu problema, regozija-te nele; assim irás honrar a Deus e glorificar a Cristo, e levar pecadores a Jesus, ao cantares em meio às tribulações, pois eles dirão: “Deve haver algo de bom na religião, afinal; de outro modo ele não seria tão feliz”. 

         A seguir, uma palavra àqueles que estão quase no nível do desespero. Se pudesse, estenderia minhas mãos, pois creio que um pregador deveria ser como um Briareus (5), com mil mãos para buscar cada um de seus ouvintes e lhes falar pessoalmente. Aqui temos pessoas quase tomadas pelo desespero ━ quase sem esperanças. Irmão, devo dizer-te o que fazer? Caíste do convés principal, estás no mar e as águas te rodeiam; parece que toda esperança se foi, que te agarras em palha; o que farás agora? Ora, deita-te no mar de angústia e flutua sobre ele; acalma-te e sabe que Deus é Deus, não perecerás. Debater-se e espernear só te levará para o fundo; acalma-te e vê: o bote salva-vidas está chegando, Jesus Cristo está vindo para te ajudar; em breve Ele te libertará e te livrará de todas as tuas dificuldades. 

         Finalmente, alguns de vocês não têm qualquer interesse neste sermão. Nunca tento enganar meus ouvintes, fazendo-os acreditar que tudo o que digo é para todos os que me ouvem. Na Palavra de Deus temos pessoas diferentes; cabe a você examinar seu próprio coração e ver se faz parte ou não do povo de Deus. Assim como o Senhor vive, diante de quem estou, aqui temos duas classes de pessoas. Eu não possuo a distinção dos aristocratas e democratas; em minha opinião, e aos olhos de Deus, somos todos iguais. Somos todos feitos de carne e sangue; não temos cavalheiros de porcelana e gente pobre de barro; somos todos feitos do mesmo molde. No entanto, há uma distinção, e apenas uma. Ou você é filho de Deus ou filho do diabo; ou é nascido de novo ou está morto em seus delitos e pecados. Cabe a você deixar a pergunta soar em seus ouvidos: “Onde estou? Será que meu rei é aquele tirano cruel, com sua espada de fogo; ou pertenço ao Senhor Jesus, minha força, meu escudo, meu Salvador"? Não vou obrigá-lo a responder; não vou lhe dizer mais nada. Apenas responda para si mesmo; deixe seu coração falar; deixe sua alma se pronunciar. Tudo o que posso fazer é propor a pergunta. Que Deus a aplique à sua alma! Peço a Ele que dispare a seta e que ela fique bem cravada! (Salmo 38.2) 

Jesus é meu! Já estou preparado 
Para o encontro mais almejado. 
Que soprem ventos de tribulação 
E que todos os prazeres se vão 
Nem árvores secas, nem colheita tardia 
Tiram da esperança eterna a doce alegria 
Criaturas mudam, não o Senhor 
Meu triunfo é glorioso em meu Salvador. 

Tradução e revisão: Mariza Regina de Souza

Notas:
1 ━ variedade de mármore altamente apreciada pela brancura, fineza e semitransparência 
2 ━ casa que foi residência do primeiro Duque de Wellington, o qual derrotou Napoleão na famosa batalha de Waterloo 
3 ━ “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo” (1Co 12.12) 
4 ━ Arthur Wellesley, primeiro Duque de Wellington, também chamado de Duque de Ferro 
5 ━ Briareu (em grego clássico: Βριάρεως; transl.: Briáreos , lit. "vigoroso") ou Egeão (em grego clássico: Αἰγαίων; transl.: Aegaeon , lit. "bode do mar"), na mitologia grega, era um dos três hecatônquiros, também conhecidos como centímanos, gigantes com cem braços e cinquenta cabeças, filhos de Gaia e Urano. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Briareu)