segunda-feira, 7 de agosto de 2017

7 de agosto - Devocional Matutina

Os retos te amam - Cantares 1.4 (Almeida Corrigida, Fiel)
Aqueles que creem em Jesus O amam com muito mais intensidade do que ousam amar a qualquer outro ser. Eles preferem perder pai e mãe a se separarem de Cristo. Seguram todos os luxos terrenos com mão frouxa, mas O carregam firmemente junto ao peito. Por amor a Ele, voluntariamente negam a si mesmos, mas nunca são levados a negá-lO. Um amor limitado pode ser consumido pelo fogo da perseguição; mas o amor do verdadeiro crente é muito mais forte do que isso. Ao longo dos anos, muitos têm se esforçado para separar os fiéis do seu Mestre, mas suas tentativas têm sido em vão. Assim como um nó górdio, nem coroas de glória, nem expressões de ira podem desatar este amor. Esta não é uma união comum, que o poder do mundo pode de alguma forma dissolver. Nem o homem nem o diabo encontraram a chave para abrir tal fechadura. Nunca a astúcia de Satanás foi tanta como quando ele tentou destruir o vínculo desses dois corações divinamente atados. Está escrito, e nada pode apagar a frase: Os retos te amam. A intensidade do amor dos retos, no entanto, não deve ser julgada pelo que parece ser, mas por aquilo que eles anseiam. É nosso lamento diário que não possamos amar o suficiente. Gostaria que nosso coração fosse capaz de amar mais e ir mais longe. Como Samuel Rutherford, suspiramos e clamamos: “Ah, por todo amor que há ao redor da terra e sobre o céu, sim, o céu dos céus e milhares de mundos — que eu lance tudo somente, somente, somente e unicamente em Cristo”. Mas, infelizmente, o alcance do nosso amor é pequeno demais, e a nossa afeição é apenas uma gota num imenso deserto. Que o nosso amor seja como as nossas intenções, e ele será realmente elevado: pois, cremos que o Senhor o julgará. Oh, que possamos dar todo o amor do nosso coração, todos os nossos amores, Àquele que é totalmente desejável!
 
Tradução e revisão: Mariza Regina de Souza

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

3 de agosto - Devocional matutina

O Cordeiro é a sua lâmpada - Apocalipse 21.23

Com calma, pense no Cordeiro como a luz do céu. A luz, na Escritura, é símbolo de alegria. No céu, a alegria dos santos se resume a isto: Jesus nos escolheu, nos amou, nos comprou, nos purificou, nos vestiu, nos guardou e nos glorificou: estamos aqui inteiramente pelos méritos do Senhor Jesus. Cada um desses pensamentos será para eles como um cacho de uvas do Escol (Nm 13.23). A luz é também a causa da beleza. Não há beleza quando a luz desaparece. Sem luz, a safira não resplandece; nenhum brilho suave emana da pérola; e assim, toda a beleza dos santos lá de cima procede de Jesus. Tal como os planetas, eles refletem a luz do Sol da Justiça (Malaquias 4.2); eles vivem como raios de luz que emanam do astro central. Se Ele Se retirasse, eles morreriam; se Sua glória fosse ofuscada, a glória deles desapareceria. Além disso, a luz é símbolo de conhecimento. No céu, nosso conhecimento será perfeito, mas o próprio Senhor Jesus será sua fonte. Os cuidados velados, nunca antes compreendidos, serão vistos claramente, e todas as coisas que agora nos deixam perplexos se tornarão evidentes à luz do Cordeiro. Ah, quantas revelações haverá, e que glorificarão o Deus de amor! A luz significa ainda manifestação. A luz manifesta. Neste mundo, ainda não aparece como deveremos ser. O povo de Deus é um povo encoberto, mas quando Cristo recebê-lo no céu, Ele os tocará com Sua varinha de amor e os transformará na imagem da Sua glória manifestada. Eles eram pobres e miseráveis; mas que transformação! Eles estavam manchados pelo pecado; mas um toque do Seu dedo e agora eles brilham como o sol e são claros como cristal. Mas que manifestação! E tudo isso emana do Cordeiro exaltado. Seja qual for o fulgente esplendor, Jesus será o centro e a alma de tudo. Ah, que maravilha será estar lá e vê-lo na Sua própria luz, o Rei dos reis e Senhor dos senhores!

Tradução e revisão: Mariza Regina de Souza

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

2 de agosto - Devocional vespertina

Esteve ela apanhando naquele campo até à tarde. - Rute 2.17
Vamos aprender com Rute, a apanhadora de espigas. Assim como ela saiu para colher espigas, devo ir aos campos de oração, meditação e ordenanças para ouvir a palavra e colher o alimento espiritual. Ela recolhe suas espigas uma a uma, seu ganho vem aos poucos: portanto, preciso me contentar em buscar verdades únicas, se não houver mais abundância delas. Cada espiga ajuda a fazer um molho, e cada lição do evangelho nos torna um pouco mais sábios para a salvação. Ela mantém os olhos abertos: se ela se distraísse e tropeçasse nos restolhos, não teria nada para alegremente levar pra casa no final do dia. Preciso estar atento às práticas religiosas para que elas não se tornem inúteis para mim; receio já ter perdido muita coisa — que eu possa avaliar corretamente minhas oportunidades e colher com mais diligência. Ela se inclina para pegar tudo o que encontra, e devo fazer o mesmo. Os entusiastas fazem críticas e objeções, mas as mentes humildes recolhem e recebem os benefícios. Um coração humilde é de grande auxílio para ouvir o evangelho de forma proveitosa. A penetrante palavra que salva almas não pode ser recebida sem humildade. Um corpo rígido produz um mau colhedor; fora, soberba, tu és uma vil assaltante para seres aturada sequer por um instante. Ela retém aquilo que apanha: se ela soltasse uma espiga para pegar outra, o resultado do seu dia de trabalho seria bem escasso; por isso ela é muito cuidadosa, mantendo tudo quanto apanha, e no final o resultado é excelente. Com frequência, eu me esqueço de tudo o que ouço. Uma verdade empurra a outra para fora da minha cabeça e, por isso, o que leio e o que ouço resulta em muito barulho por nada!* Será que sinto realmente a importância de guardar a verdade? O estômago vazio torna da apanhadora de espigas mais sábia; se não há espiga na mão, não haverá pão na mesa; ela trabalha sob o senso da necessidade, por isso, seus pés são ágeis e suas mãos são firmes. Tenho uma necessidade ainda maior, Senhor, ajuda-me a senti-la, para que ela possa me levar aos campos que produzem abundante recompensa à diligência.

*referência à obra de Shakespeare Much Ado About Nothing (Muito barulho por nada).

2 de agosto - Devocional Matutina

aquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade ━ Ef 1.11
A fé que temos na sabedoria de Deus pressupõe e requer que Ele tenha um propósito e um plano preordenados na obra da salvação. O que a criação teria sido sem Seu projeto? Será que existe algum peixe no mar, alguma ave no céu, que tenha surgido por acaso? Não, pelo contrário, em cada osso, junta, músculo, tendão, glândula e vaso sanguíneo podemos observar a presença de um Deus que faz tudo conforme os desígnios da Sua infinita sabedoria. E será que Deus está presente na criação, governando sobre todas as coisas, mas não na graça? Será que a nova criação é presidida pelo espírito caprichoso do livre arbítrio enquanto a antiga é governada pelo conselho divino? Pense na Providência! Quem não sabe que um pardal não cai no chão sem o consentimento do Pai? Até os cabelos da nossa cabeça estão contados. Deus pesa os montes da nossa preocupação em balança e as colinas da nossa tribulação nos seus pratos (Isaías 40.12). E será que há um Deus na providência, mas não na graça? Será que a concha veio à existência pela sabedoria e o grão pelo acaso? Não! Ele sabe o final desde o início. Ele vê no lugar designado não apenas a pedra angular que Ele assentou com argamassa colorida, no sangue do Seu Filho amado, mas Ele contempla na posição ordenada cada pedra escolhida e extraída da pedreira da natureza e polida pela Sua graça; Ele vê o todo, da extremidade à cornija, do piso ao teto, da fundação ao pináculo. Ele tem em mente um claro conhecimento de cada pedra que será assentada no espaço devido e de como será grande o edifício, quando a pedra de remate for trazida em meios a aclamações de “Graça! Graça! Para ela” (Zacarias 4.7). No final, será claramente visto que, em cada vaso de misericórdia escolhido, Jeová fez o que desejava com os Seus; e que em cada parte da obra da graça Ele realizou o Seu propósito e glorificou o Seu próprio nome.
Tradução e revisão: Mariza Regina de Souza

terça-feira, 1 de agosto de 2017

1º de Agosto - Devocional vespertina

Coroas o ano com a tua bondade - Salmo 65.11 (NVI)
Durante todo o ano, a cada hora de cada dia, Deus derrama sobre nós Suas ricas bênçãos; Sua misericórdia nos assiste quando dormimos e quando despertamos. O sol pode nos deixar um legado de trevas, mas Deus nunca deixa de brilhar sobre Seus filhos com Seus raios de amor. Como um rio, Sua bondade está sempre fluindo, com uma plenitude inesgotável como a Sua própria natureza. Como a atmosfera que constantemente rodeia a terra e está sempre pronta a sustentar a vida do homem, a benevolência de Deus constantemente envolve Suas criaturas; nela, como em seu próprio elemento, elas vivem e se movem, e têm sua existência. Contudo, como o sol nos dias de verão nos ilumina com raios mais quentes e mais brilhantes do que em outras épocas, e como os rios, em determinadas épocas, estão mais cheios devido às chuvas e, como a própria atmosfera às vezes é mais fresca, estimulante e agradável, assim também é a misericórdia de Deus; ela tem seus momentos dourados; os dias em que transborda e o Senhor amplia Sua graça diante dos homens. Dentre as muitas bênçãos que temos aqui na terra, os dias alegres da colheita são uma época especial de grande favor. É na glória do outono que os frutos maduros da providência são abundantemente concedidos; esta é a doce estação onde tudo acontece, tudo o que antes era apenas esperança e expectativa. Grande é a alegria da colheita. Bem-aventurados os ceifeiros que enchem os braços com a liberalidade do céu. O salmista nos diz que a época da colheita coroa o ano. Com certeza, essa coroa de misericórdias requer uma coroa de ações de graças. Que possamos retribuí-la com profundo sentimento de gratidão. Que o nosso coração se aqueça; e o nosso espírito pense, medite e reflita sobre a bondade do Senhor. Que os nossos lábios, então, entoem louvores ao Senhor, exaltando e engrandecendo o Seu nome, de cuja graça flui toda a bondade. Glorifiquemos a Deus ofertando os nossos dons à Sua causa. Uma prova prática da nossa gratidão é uma oferta especial de ações de graças ao Senhor da colheita.
Tradução e revisão: Mariza Regina de Souza

segunda-feira, 31 de julho de 2017

31 de julho - Devocional Vespertina

Quanto aos cantores… de dia e de noite, estavam ocupados no seu mister. (1Cr 9.33)
Ora, fora ordenado no templo que o cântico sagrado jamais cessasse: continuamente os cantores entoavam louvores ao Senhor, cuja misericórdia dura para sempre. Da mesma forma que a misericórdia de Deus não cessa, nem de dia nem de noite, a música também não podia silenciar seu santo ministério. Meu coração, o incessante cântico do templo de Sião te ensina uma doce lição: és também um devedor constante; cuida, pois, para que nunca te falte gratidão e amor. No céu, que deve ser a tua morada final, o louvor do Senhor é constante; aprende, então, a praticar os aleluias eternos. Ao redor da terra, enquanto o sol dispersa sua luz, seus raios despertam os crentes agradecidos para entoar o hino da manhã, de modo que o louvor perpétuo do sacerdócio dos santos seja contínuo em todas as horas, envolvendo o globo num manto de ações de graças e cingindo-o com um cinturão dourado de cânticos.
O Senhor merece sempre ser louvado por aquilo que Ele é, pelas Suas obras na criação e pelo Seu cuidado, pela Sua bondade para com Suas criaturas e, especialmente, pelo transcendente ato da redenção, e todas as maravilhosas bênçãos que dela fluem. É sempre bom louvar o Senhor; anima o dia e ilumina a noite; mitiga o labor e alivia a tristeza; e sobre a alegria terrena derrama um brilho santificador que a torna menos propensa a nos cegar com seu clarão. Será que não temos algo sobre o que cantar neste momento? Será que não é possível entrelaçar numa canção as nossas alegrias presentes, os nossos livramentos passados, ou nossas esperanças futuras? No verão, a terra dá os seus frutos: o feno é estocado, os grãos maduros atraem a foice e o sol se demora sobre a terra frutífera, encurtando o intervalo de sombra para que prolonguemos nossas horas de devoção. Pelo amor de Jesus, mexa-se e feche o dia com um salmo de santa alegria.

Tradução e revisão: Mariza Regina de Souza


A Primeira Vitória de Davi

Sermão nº 2913
Publicado em 8 de dezembro de 1904 (quinta-feira)
Ministrado por
C. H. SPURGEON
No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

“Assim, prevaleceu Davi contra o filisteu, com uma funda e com uma pedra, e o feriu, e o matou; porém não havia espada na mão de Davi” —1 Samuel 17.50.
Por conveniência, selecionei apenas um versículo, mas vou usar toda a narrativa do capítulo 17 em minha exposição. Portanto, uma leitura de todo o capítulo valerá a pena. Se vocês conhecem bem a história, não precisaremos de prefácio ou preâmbulo. Portanto, vamos falar de Davi, do seu confronto com Golias e da sua vitória sobre ele, primeiramente como um tipo de nosso Senhor Jesus Cristo e, depois, como um exemplo para nós mesmos. Como Davi é um tipo do cabeça que sempre se relaciona com seus membros, e como os membros do corpo místico de Cristo são, e serão ainda mais, semelhantes a Ele. Enfim, esta é a ideia que iremos seguir nesta meditação.
1.  Vamos começar chamando sua atenção para o fato de que Davi ERA UM TIPO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.
Os primeiros pais da igreja foram muito bons em mostrar analogias tipológicas. Na verdade, foram tão a fundo em suas exposições, e tão minuciosos nos detalhes, que acabaram indo longe demais e caindo em trivialidades. Orígenes, por exemplo, excedeu notavelmente o que pode ser considerada uma sábia interpretação, dando significados espirituais a registros literais. Outros ainda, tentando superar o mestre do misticismo, logo causaram muito prejuízo à igreja de Deus, levando preciosas verdades a um sério descrédito. O estudo dos tipos do Antigo Testamento quase não conseguiu recuperar seu lugar adequado na igreja cristã depois que esses homens piedosos, pelo seu zelo imprudente, o perverteram. No entanto, não podemos pensar que uma coisa boa deixe de ser boa só porque, em determinado momento, se transformou numa coisa ruim. Achamos que ela ainda pode ser usada de forma adequada e proveitosa. Dentro de certos limites, então — limites que supomos ter pouco perigo de cair nestes tempos mecânicos e sem poesia — os tipos e alegorias da Sagrada Escritura podem ser usados como um manual de instruções — um vade-mécum da sã doutrina.
Por consenso entre os cristãos evangélicos, David é visto como um notável tipo do Senhor Jesus Cristo. Sobre esta questão em particular, vamos observar primeiramente que, antes de lutar com Golias, Davi era ungido de Deus. Samuel tinha ido a Belém e derramado um chifre de azeite sobre sua cabeça. O paralelo logo nos vem à mente. Era assim que o Senhor descobria para Si aquele a quem escolhia dentre o povo. Ele o ungia com azeite sagrado. Sobre a cabeça de Saul, foi derramado um vaso de azeite — sobre a cabeça de Davi, um chifre cheio de azeite. Talvez a intenção fosse mostrar o contraste entre a brevidade e baixa reputação do reinado de Saul e a extensão, poder e excelência do reinado de Davi. Ou, se interpretado espiritualmente, pode significar que a lei, o antigo judaísmo do qual Saul é tipo, teve apenas certa medida de bênçãos, enquanto o evangelho, representado por Davi, é caracterizado por sua abundante plenitude. Jesus, o antítipo de Davi, é ungido com o óleo de alegria como nenhum de seus semelhantes. A graça e a verdade vieram por meio dEle. O Espírito não foi dado a Ele por medida. Davi foi ungido diversas vezes; foi ungido, como lemos no capítulo anterior, “no meio de seus irmãos”; foi ungido, como encontramos em 2 Samuel 2:4, por seus irmãos, os homens de Judá; e foi ungido novamente, como visto em 2 Samuel 5:3, por todos os anciãos de Israel. Não entraremos em detalhes agora, mas basta notar que nosso Senhor também era o ungido de Deus, é o ungido dos Seus santos e será o ungido de toda a igreja. O Espírito do Senhor estava sobre Ele e, foi no poder desse Espírito com O qual Ele foi ungido pelo Pai, que Ele saiu para lutar as grandes batalhas da Sua igreja. No Seu batismo, ao sair do Jordão, Ele foi ungido pelo Espírito, O qual repousou sobre Ele ao descer do céu como uma pomba; e logo Ele foi conduzido para o deserto e manteve aquele notável conflito de quarenta dias com Seu arqui-inimigo, o grande adversário da nossa alma. Suas batalhas foram no espírito e no poder do Altíssimo, pois o poder e a majestade do Espírito Eterno repousavam sobre Ele.
Vejam como a correspondência continua. Nosso Senhor foi enviado pelo Pai a seus irmãos. Assim como Davi foi enviado por Jessé a seus irmãos, com suprimentos e palavras de consolo, a fim de saber como estavam, na plenitude dos tempos nosso Senhor foi comissionado para visitar Seus irmãos. Durante algum tempo, Ele permaneceu incógnito na casa de seu aparente pai, mas depois Ele se deu a conhecer e foi claramente reconhecido como O enviado de Deus, trazendo em Suas mãos inúmeras dádivas, vindo numa embaixada de amor e misericórdia de Deus àqueles a quem não Se envergonhou de chamar Seus irmãos. Lemos como Davi foi tratado. Seus irmãos não o receberam com amor. Eles reagiram à sua bondade natural com despropositada grosseria: eles o acusaram de coisas terríveis. Como essa resposta faz jus à maneira pela qual nosso Senhor, o Filho de David, foi maltratado! Ele veio para o que era Seu e os Seus não receberam. Embora Ele tenha vindo a eles com palavras de ternura, eles Lhe responderam com palavras de escárnio. Pelas Suas bênçãos, eles Lhe deram maldições; pelo pão do céu, Lhe deram pedras; e pelas graças do céu, Lhe deram a maldade da terra, as maldições do inferno! Nunca um irmão, “o primogênito entre muitos irmãos”, foi tão maltratado pelo restante da família. Com certeza, a parábola dos lavradores maus foi cumprida nEle. Sabemos que o proprietário da vinha disse: “A meu filho respeitarão”, mas eles disseram: “Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança”. Jesus foi maltratado por Seus irmãos, aos quais Ele veio abençoar. Davi, lembrem-se, respondeu a seus irmãos com brandura. Ele não retribuiu injúria por injúria, mas aguentou sua grosseria com educação. Nisto, ele nos dá um pálido retrato do nosso amado Mestre, O qual, quando ultrajado não revidou com ultraje. “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo” (Hb 12.3). Sua única reação, mesmo diante dos golpes que o levariam à morte, foi “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). “e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso” (Is 53.3). No entanto, apesar de tudo, nenhuma palavra de ira saiu de Seus lábios. Ele poderia ter dito: “Porventura, não há razão para isso?” Pouco, entretanto, Ele falou em Sua própria defesa; Ele preferiu cuidar da Sua obra com muito zelo, como se todos os que O vissem O aprovassem. Por isso, Davi, ao ser rejeitado por seus irmãos, tornou-se um tipo de Cristo.
Agora, observemos que Davi foi movido por um amor intenso pelo seu povo. Ele os viu sendo desafiados pelos filisteus. Quando percebeu o quanto seu espírito estava oprimido diante daqueles inimigos formidáveis, uma intensa indignação tomou conta da sua alma; mas quando ouviu os termos do desafio, sentiu que o próprio Deus de Israel tinha sido comprometido naquela disputa. O nome de Yahweh estava sendo desonrado! Aquele gigante blasfemo que perseguia as hostes de Israel estava desafiando o exército do Deus vivo! Não é de estranhar que o coração afetuoso e dedicado do jovem e bravo pastor foi movido com tanta força. A paixão de guerreiro incendiou seu peito ao som da voz profana daquele incircunciso filisteu que zombava da honra de Yahweh, o Deus dos céus e da terra! Outro motivo também estimulou a ambição patriótica de Davi. Como seu peito poderia deixar de arder com intensa emoção ao saber que quem vencesse e destruísse o filisteu se casaria com a filha do rei? Um prêmio como esse poderia muito bem despertar seu ardor. E com todos esses incentivos, sua decisão de ir e enfrentar o campeão filisteu foi firme e imediata. Ora, em todas essas coisas ele prefigurou claramente nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus amava os Seus: Ele sempre esteve pronto a dar Sua vida pelas ovelhas. Mas, Ele também amava o Pai: “Não sabíeis”, disse Ele, “que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lc 2.49). “O zelo da tua casa me consumirá” (Jo 2.17). E, então, teve diante de Si a alegria proposta de receber a igreja por esposa; a qual com risco, para não dizer com o preço da Sua vida, deveria obter; Ele veria o fruto do penoso trabalho da Sua alma nela e ficaria satisfeito (Is 53.11). Ela deveria ser elevada à Sua realeza e partilhar da Sua coroa e do Seu trono. A nova Jerusalém, a mãe de todos nós, deveria ser para Jesus o dom de Deus como recompensa; e isso O inspirou; e por isso, Ele saiu e lutou por nós. Vamos fazer uma pausa e bendizer o Seu nome, porque Ele sempre amou o povo e Seus santos sempre estiveram em Suas mãos. Vamos bendizê-lO porque o zelo da casa de Deus O consumiu; e por que Ele Se entregou totalmente à Sua grande obra. Acima de tudo, com humildade e gratidão, vamos bendizê-lO porque Ele nos amou e Se entregou por nós. Como parte da Sua igreja, com a qual Ele contraiu núpcias para sempre, temos participação em tudo o que Ele fez. Foi por nós que Ele entrou na batalha, foi por nós que Ele obteve a vitória; foi por nós que Ele entrou na glória. E Ele voltará, em breve, para nos levar para ver essa glória, e para estar com Ele onde Ele está. Embora vejamos o tipo em Davi, precisamos ter cuidado para não nos esquecer de adorar o próprio Jesus, que é aqui refletido para melhor compreensão da nossa salvação.
Na realidade, eu poderia dar muitos outros detalhes nos quais Davi também foi um tipo de nosso Senhor. Toda a narrativa é cheia de particularidades que nos dão muitos pontos de analogia. No entanto, há uma coisa em especial que eu gostaria que vocês observassem.
Em hebraico, Golias não é chamado de “campeão”, como lemos em inglês (em português, “guerreiro”, “duelista e “herói” — ARA; “guerreiro” — ARC e NVI), mas de intermediário, o mediador. Quando repassamos a cena em nossa mente, vemos como essa palavra se encaixa no contexto. De um lado, estão as hostes dos filisteus, do outro, as de Israel. Há um vale entre elas. Golias diz: “Vou representar os filisteus. Sou seu intermediário. Em vez de todos os soldados virem para a batalha, venho como representante da minha nação — o mediador. Escolham também um mediador que venha e me enfrente. Ao invés da batalha ser entre os soldados dos dois exércitos, que o embate seja decidido num duelo mortal por um representante de cada lado”. Ora, foi exatamente assim que o Senhor Jesus lutou as batalhas do Seu povo. Nós caímos representativamente no primeiro Adão, e nossa salvação veio por outro representante — o segundo Adão. Ele é o intermediário, o “único Mediador entre Deus e os homens”. Em Seu amor por nós, e em Seu zelo pela glória de Deus, podemos vê-lO caminhando para o meio da arena que divide os campos do bem e do mal, de Deus e do diabo, e ali, encarando o desafiante adversário, Ele se prepara para pelejar em nosso nome e em nosso favor. Se realmente somos o Seu povo, que Ele decida por nós a disputa que jamais poderíamos decidir. Sem dúvida alguma, se fôssemos pessoalmente, seríamos totalmente aniquilados. Entretanto, Seu braço sozinho é suficiente para obter a vitória por nós, e encerrar de uma vez por todas os conflitos entre céu e inferno. 
Observem também nosso jovem guerreiro quando ele se dirige para a luta. O filho de Jessé rejeitou as armas com que Saul tentou equipá-lo: ele colocou o capacete e a armadura, e ao tentar cingir a espada, disse: “Não posso andar com isto, pois nunca o usei”. Da mesma forma, o Filho de Davi também renunciou a todas as armas terrenas. Teriam levado nosso Senhor à força para fazê-lO rei, mas Ele disse: “Meu reino não é deste mundo”. Ao Seu comando, espadas em número suficiente teriam saltado das suas bainhas. Não somente Pedro, cuja espada se apressou a decepar a orelha de Malco, mas muitos zelotes teriam ficariam felizes em seguir a estrela de Jesus de Nazaré como nos tempos antigos. E, tempos depois, muitas vezes os judeus seguiram impostores que se declararam comissionados pelo Altíssimo para sua libertação. No entanto, Jesus disse: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (Mt 26.52). Uma das tentações no deserto não foi só que Jesus teria todos os reinos do mundo, mas que os teria usando os meios sugeridos por Satanás. Ele deveria Se prostrar e adorá-lo: Ele devia usar armas carnais, o equivaleria a adorá-lo. Jesus não cedeu. Até hoje, Sua grande batalha com os poderes das trevas não é com capacete e espada, mas com pedras lisas do riacho. A pregação simples do evangelho, realizada em nosso meio com o cajado de pastor do grande Cabeça da igreja. É isso o que abate Golias e o abaterá até o último dia. É pura vaidade a igreja pensar que será vitoriosa com riquezas, posição ou autoridade civil. Nenhum governo a ajudará. Ela deve olhar somente para o poder de Deus. “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4.6). Feliz será a igreja quando aprender esta lição. A pregação da cruz, que “é loucura para os que se perdem”, é, para os que creem em Cristo, “poder de Deus e sabedoria de Deus”.
Vejam, portanto, nosso glorioso campeão indo para o combate com as armas da sua escolha, desprezando aquelas usadas pela sabedoria humana, pois não pareciam adequadas ao seu trabalho. No entanto, ele foi com grande força e poder, pois foi em nome de Deus. “Tu vens contra mim”, disse Davi, “com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do SENHOR dos Exércitos” (1Sm 17.45). Tal é também a influência poderosa que torna o evangelho onipotente. Cristo é a propiciação de Deus. “A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação” (Rm 3.25). Cristo é designado por Deus, ungido de Deus, enviado de Deus. E o evangelho é a mensagem de Deus, assistida pelo Espírito de Deus. Se assim não for, então, é fraco como a água — e vai falhar. No entanto, uma vez que o Senhor o enviou, e prometeu abençoá-lo, podemos ter certeza de que ele cumprirá aquilo para o que foi ordenado. “Vou contra ti em nome do SENHOR dos Exércitos”! Estas palavras poderiam servir de moto a todos que são enviados de Cristo e O representam na terrível batalha pelas almas preciosas. Este foi o lema de Cristo, quando, por amor a nós e em nosso favor, Ele veio lutar contra o pecado, suportar a ira de Deus e vencer a morte e o inferno! Ele veio em nome de Deus.
Observem também que Davi feriu Golias, e o feriu pra valer, não no quadril, na mão ou no pé, mas numa parte vital. Ele o feriu na testa da sua presunção, na fronte do seu orgulho. Suponho que Golias tenha levantado o visor do capacete para dar uma olhada em seu ridículo oponente, quando a pedra, que levou para sempre sua alma infame, o acertou em cheio. Da mesma forma, quando nosso Senhor Se apresentou para lutar contra o pecado, Ele lançou Seu sacrifício expiatório como uma pedra que o feriu, e a todos os seus poderes malignos, bem na testa. Portanto, glória seja a Deus, pois o pecado está morto. Não está simplesmente machucado, está morto pelo poder de Jesus Cristo.
Lembrem-se ainda que Davi cortou a cabeça de Golias com sua própria espada. Agostinho, em seu comentário desta passagem, relembra muito bem que o triunfo de nosso Salvador Jesus Cristo é demonstrado na história de Davi.  Ele, “por sua morte, destruiu aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo” (Hb 2.14). “E a morte, morrendo, foi morta” — a cabeça do gigante foi decepada com sua própria espada. A cruz, que devia significar a morte do Salvador, foi a morte do pecado. A crucificação de Jesus, que era a consumação da vitória de Satanás, foi a consumação da vitória sobre Satanás. Eis que hoje vemos, na mão triunfante do nosso Herói, a cabeça macilenta do monstro pecado, pingando gotas de sangue. Vejam o monstro, vocês que já estiveram sob a sua tirania. Vejam as terríveis feições do gigantesco e hediondo tirano. Seu Senhor destruiu o inimigo. Seus pecados estão mortos; Ele os destruiu. O Seu próprio braço, sozinho e sem ajuda, destruiu o inimigo gigantesco. “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.56-57). Bendito e engrandecido seja o Seu santo nome. E quando Davi conquistou a vitória sobre Golias, foi recebido pelas donzelas de Israel, que saíram e cantaram em versos responsivos, junto com a música de seus tambores: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares”. Assim, ele teve seu triunfo. Enquanto isso, as hostes de Israel, vendo que o gigante filisteu estava morto, tomaram coragem e se precipitaram contra o adversário. Os filisteus ficaram apavorados e fugiram, e todos os israelitas naquele dia se tornaram vencedores pela vitória de Davi. Eles foram mais que vencedores, por meio daquele que os amou e lhes deu a vitória (Rm 8.37). Agora, então, vamos pensar em nós mesmos como vencedores. Nosso Senhor conquistou a vitória. Ele foi para a Sua glória. Os anjos O encontraram no caminho. Eles disseram: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória”. E aqueles que estavam com Ele responderam è pergunta: “Quem é o Rei da Glória?”, dizendo: “O SENHOR, forte e poderoso, o SENHOR, poderoso nas batalhas. O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória” (Sl 24). E, nesse dia, até o crente mais fraco triunfa em Cristo. Embora devêssemos ter sido abatidos e não tivéssemos esperança de vitória — ainda assim, agora, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor, perseguimos nossos inimigos; calcamos aos pés o pecado e vamos de força em força por meio da Sua vitória. Temos muita coisa a considerar sobre este ponto. Vocês irão refletir sobre isso? É melhor em não dizer tudo. Vocês mesmos poderão encontrar muitas analogias. Eu lhes dei apenas um rabisco — um esboço. Pensem com cuidado e verão que é um ótimo estudo e uma meditação valiosa.
2.   Brevemente, vamos agora nos voltar para Davi como UM EXEMPLO PARA TODOS OS CRENTES EM CRISTO.
Acima de tudo, caros irmãos e irmãs, é necessário considerar que, se formos fazer qualquer coisa para Deus e para Sua igreja, precisamos ser ungidos com óleo santo. Ah, quanta vaidade seria se fôssemos crescer em zelo com algum tipo de fanatismo carnal, tentando grandes coisas por mera presunção; seria um tremendo fracasso! A menos que o Espírito de Deus esteja sobre nós, não temos força interna nem meios externos nos quais confiar. Esperem no Senhor, amados, e busquem força somente nEle. Não pode sair de nós aquilo que não nos foi colocado. Precisamos receber para dar. Lembrem-se do que disse nosso Senhor: “a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.14). E novamente, em outro lugar: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38).
Não podemos fazer o trabalho de Davi se não tivermos a unção de Davi. Quando nos lembramos de que o Mestre Divino esperou pela unção celestial, não podemos esperar fazer qualquer coisa sem ela. Não sejamos tolos. Cristo não deu início às suas ministrações públicas até o Espírito de Deus repousar sobre Ele. Os apóstolos esperaram em Jerusalém e não saíram para pregar até que do alto lhes foi concedido poder. O ponto principal, o pré-requisito, a condição sine qua non é ter esse poder. Ah! Pregar nesse poder; orar nesse poder; buscar as almas perdidas nesse poder. O trabalho da Escola Dominical, o trabalho missionário em casa, a forma de ministrar à noite para Cristo, tudo precisa ser feito nesse poder. Ajoelhai-vos. Chegai-vos à cruz. Colocai-vos aos pés do Mestre. Sentai-vos e aguardai com fé e esperança até que Ele vos dê a força que vos qualificará para fazer o trabalho do Mestre, do jeito do Mestre, para o louvor do Mestre.
Davi também se apresenta para nós como um exemplo do fato de que a oportunidade virá, se nos for concedida capacidade, sem que tenhamos de correr atrás dela. Davi foi ao campo. O lugar que ele devia ocupar estava preparado, e ele foi providencialmente chamado para preenchê-lo como um grande homem de Israel. Quando foi levar o pão, o milho e o queijo, ele mal imaginava que logo seria o homem mais importante da Palestina. Sim, foi assim mesmo. Amados, não tenham pressa em buscar um lugar ao sol. Estejam prontos para ele e ele irá até vocês. Falo a muitos jovens queridos que estão estudando para o ministério. Estejam preparados para qualquer trabalho em vez de procurar algum trabalho específico. Deus tem um cantinho para vocês. Dobrem seus joelhos: dependam disso. Estejam prontos, essa é a sua parte. Afiem suas ferramentas e saibam como manejá-las. O lugar irá até vocês, o melhor lugar, se não estiverem ocupados com coisas que lhes agradem; depois vocês verão que são vasos adequados para o uso do Mestre. Davi encontrou sua oportunidade. Primeiro ele recebeu o Espírito, que é o principal, depois encontrou a oportunidade que apelava para suas credenciais.
De acordo com o exemplo de Davi, concluo que, quando sentimos o chamado para fazer alguma coisa para Deus, e para Sua igreja, não precisamos esperar até que aqueles a quem estamos subordinados concordem conosco quanto à conveniência de começar ou não o serviço. Se Davi tivesse dito: “Bem, vou esperar até Eliabe, Abinadabe e Samá, meus irmãos mais velhos, concordarem totalmente quanto a eu ser o homem certo para enfrentar Golias”, tenho a impressão de que ele nunca o teria enfrentado. É preciso ter muito apreço pela opinião dos mais velhos, mas é preciso ter ainda mais respeito pela ação do Espírito de Deus em nosso coração. Gostaria que os cristãos demonstrassem mais consideração pelas admoestações de Deus do que temos visto nestes últimos tempos. Se há algum intento no teu coração, ou algum dever te pesa na consciência, homem, obedece-o; age, embora ninguém mais o perceba ou te encoraje a fazê-lo. Mas Deus te mostrou o Seu desígnio e, por tua conta, ocultaste o pressentimento ou deixaste de fazê-lo. O quê? Com temor de Deus no nosso coração e Sua comissão em nossas mãos, vamos parar, hesitar e nos tornar servos dos homens? Prefiro morrer a subir neste púlpito e pedir permissão a vocês, ou consentimento a qualquer pessoa, quanto ao que devo pregar. Deus fala, pelo Seu Espírito, o que Ele tem a me dizer; e, com o auxílio do Seu bom Espírito, eu digo a vocês aquilo que ouvi Dele mesmo. Que esta língua se cale se ela se tornar serva de homens! Davi tinha isso em mente. Ele sentia que alguma coisa tinha de ser feita e, embora ouvisse o que os outros tinham a dizer, eles não eram seus mentores. Ele servia ao Deus vivo e ia cuidar daquilo que lhe tinha sido confiado, sem ser intimidado pela opinião dos outros a seu respeito. Aquele que fala por Deus deve falar honestamente. Que os outros o critiquem e separem o joio do trigo. Ele deve esperar por isso. No entanto, quanto a si mesmo, ele deve lhes entregar o puro trigo da forma como crê, sem temer qualquer pessoa, a menos que queira estar sob a condenação do Deus do céu. Vai, meu irmão, e cuida do que tens a fazer, se Deus te deu para fazer. Se te critico, qual o problema? Sou apenas um homem. Ou, se todos aqueles, com quem queres ficar bem, se voltam contra ti com suspeitas e críticas mordazes, que são eles? São apenas homens, tua única lealdade é para com Deus. Vai e cuida do trabalho do Mestre, como fez Davi, com intrepidez e coragem, mas com modéstia. No entanto, o servo mau, depois de receber as ordens do Mestre, deixa-as por fazer e se justifica, dizendo: “Encontrei um dos meus amigos e ele me disse que achava que eu estava sendo ousado demais, por isso, achei melhor não fazer”. Para o teu próprio Mestre ficarás em pé ou cairás. Cuida para que estejas bem com Ele.
Aprenda, ainda, com Davi a responder com calma àqueles que rudemente o afastam do seu trabalho. Normalmente é melhor nem responder. Creio que Davi não respondeu tão bem por palavras quanto o fez por obras. Sua conduta foi mais eloquente que suas palavras. Quando ele voltou do confronto, trazendo a cabeça do gigante, espero que Eliabe o tenha visto; e que Abinadabe e Samá tenham saído ao seu encontro. Se eles o fizeram, Davi poderia simplesmente ter levantado o troféu e deixado que aquele rosto assustador falasse por ele. Se não, é porque pensaram que, no final das contas, Davi foi por causa do seu orgulho ou da maldade de coração, ou por curiosidade infantil em ver a batalha. Mas eles devem ter percebido que ele foi para fazer o trabalho de Deus à sua maneira: que Deus o ajudou a obter a vitória, derrotar o inimigo e aliviar os temores de Israel; e que, por meio do homem a quem eles desprezaram, o Senhor tornou o Seu próprio nome glorioso.
Vamos aprender, mais uma vez, com o exemplo de Davi, sobre a prudência de usar armas já testadas. Muitas vezes ouço falar da improbabilidade de Davi matar o gigante com uma pedra. Creio que quem fala isso não sabe do que está falando. Que projétil poderia ser mais útil ou mais adequado àquela ocasião? Se o sujeito era alto, só uma funda poderia lançar uma pedra alto o suficiente para atingi-lo; e se ele era forte, muito forte, a funda daria tal impulso à pedra que Davi poderia investir contra ele sem ficar ao seu alcance. A funda era a melhor arma que ele poderia ter usado. Se os antigos pastores do Oriente eram iguais aos da nossa época, deviam ter muita prática, sendo peritos em lançar pedras. Esses pastores passam muito tempo a sós, ou com seus companheiros, praticando com a funda. Em geral, essa é a melhor arma para proteger as ovelhas em lugares ermos. Não duvido que Davi tenha aprendido a lançar uma pedra com a funda contra um alvo da espessura de um fio de cabelo, sem errá-lo. Quanto à espada, ele nunca teve uma em toda a sua vida; pois “não se achava nem espada, nem lança na mão de nenhum do povo que estava com Saul e com Jônatas; porém se achavam com Saul e com Jônatas, seu filho” (1Sm 13.22). Isso está escrito no capítulo treze. Os filisteus tinham desarmado de tal modo a população de Israel, que ninguém tinha esse tipo de arma. Por isso, Davi não poderia estar familiarizado com seu uso. E quanto à couraça, era um equipamento pesado, desconfortável e incômodo — e o que me fascina é como os antigos cavaleiros faziam alguma coisa com aquilo. Não é de admirar que Davi a tenha tirado de si. Ele se sentia mais confortável com suas vestes de pastor. É óbvio que não estamos sugerindo o uso de instrumentos inadequados. Não ensinamos nada tão romântico ou absurdo. Bom é usarmos as armas mais adequadas que pudermos encontrar. Quanto às pedrinhas tiradas do ribeiro, Davi não as pegou a esmo, ele as escolheu cuidadosamente, selecionando as mais lisas para que se ajustassem perfeitamente à sua funda — o tipo de pedra que ele achou mais conveniente ao seu propósito. Ele também não confiou na sua funda. Ele nos diz que confiou em Deus, mas quando saiu para a luta, sentiu como se a responsabilidade fosse sua. Errar o alvo provaria sua falta de jeito; acertá-lo, seria pela habilidade dada por Deus. Irmãos, essa é a verdadeira filosofia na vida cristã. Devemos fazer boas obras com tanto zelo como se fosse para sermos salvos por elas, e devemos confiar nos méritos de Cristo como se não tivéssemos feito absolutamente nada. Por isso, no serviço de Deus, embora trabalhemos como se o cumprimento da nossa missão dependesse de nós mesmos, precisamos entender claramente e acreditar firmemente que, no final das contas, todo o trabalho, do início ao fim, é de Deus. Sem Ele, tudo o que planejamos ou fazemos é inútil. Essa também foi a filosofia de Maomé quando alguém lhe disse: “Soltei meu camelo e confiei na providência”. Não, respondeu ele, “prenda seu camelo e, então, confie na providência”. Faça o melhor que puder e confie em Deus. Deus nunca disse que ter fé nEle seria sinônimo de preguiça. Ora, se a questão é essa, se tudo é obra de Deus, e se essa deve ser a nossa única consideração, Davi não tinha necessidade de uma funda. Sim, ele não precisava de nada. Ele podia voltar, deitar-se no meio do campo e dizer: “Deus, fará o Seu trabalho. Ele não precisa de mim”. É assim que os fatalistas falam, mas não é assim que os crentes em Deus devem agir. Os crentes dizem: “Deus quer, então vou fazer”, não o contrário, “Deus faz, por isso não tenho nada pra fazer”. Não, muito pelo contrário, “Porque Deus trabalha por mim, então vou trabalhar pela Sua boa mão sobre mim. É Ele quem dá força a este pobre servo, e faz uso de mim como Seu instrumento, pois, sem Ele, não sirvo para nada. Agora vou entrar na batalha com entusiasmo e vou usar minha funda da melhor forma possível, mirando com calma e tranquilidade a testa do monstro, pois creio que Deus vai guiar a pedra e realizar o Seu propósito”. Quando nos dispomos ao serviço de Deus, devemos fazer o melhor possível; dedicando ao nosso trabalho toda a nossa força e energia, com toda habilidade e discernimento. Nunca diga: “Serve qualquer coisa. Deus pode abençoar minha incapacidade, assim como minha competência”. É claro que pode, mas, com certeza, não vai. Cuide para fazer o melhor possível. David, quando já era velho e mais experiente, não quis oferecer a Deus o que não lhe custaria nada. Não tente prestar a Deus um serviço desleixado, dizendo a si mesmo que Ele vai abençoá-lo. Ele até pode abençoar, mas não é assim que Ele costuma agir. Embora muitas vezes Ele empregue ferramentas rudimentares, Ele costuma moldá-las e poli-las antes de usá-las. No Novo Testamento, Ele converteu homens brutos em ministros capazes. Não pense, no entanto, que Sua graça seja desculpa para sua imprudência. Por isso, vá com instrumentos que você já experimentou. Quando algum de vocês, trabalhadores da obra, tentar pregar o evangelho de Jesus Cristo, não tente usar os argumentos sutis que se costuma usar no combate aos infiéis. Com certeza, você vai se complicar. Eles irão se tornar um empecilho para você. Simplesmente diga a seus vizinhos e amigos o que sente e compreende da Palavra da Vida. Conte a eles as coisas que estão escritas nas Escrituras. Esses textos são pedras lisas que se ajustam à sua funda. Guardes estas coisas. Ora, hoje em dia, dizem que devemos pegar os argumentos criados pelos filósofos modernos, examiná-los, estudá-los e, no domingo de manhã e em outras ocasiões, contestá-los; que devemos usar a pesquisa histórica e o raciocínio lógico para refutar as calúnias dos infiéis. Ah! A armadura de Saul não serve para nós. Quem gosta dela que a use; mas, no final das contas, pregar a Cristo, e Ele crucificado — contar a velha história de amor eterno e do sangue que a selou, o caminho da redenção, a verdade da imutável graça de Deus — é para isso que servem aquelas pedras, e a funda que, com certeza, atingirá a cabeça do inimigo.
A seguir, observem que, uma vez começado o trabalho, Davi não parou até terminá-lo. Ele já tinha derrubado o gigante, mas não se deu por satisfeito até decepar sua cabeça. Gostaria que algumas pessoas a serviço de Cristo fossem tão eficientes quanto esse jovem voluntário. Você está ensinando o caminho da salvação a uma criança? Não pare até que ela seja arrolada no rol de membros. Está pregando fielmente o evangelho a um grupo de pessoas? Continue ensinando, aconselhando e encorajando até perceber que eles estão firmes na fé. Está refutando alguma heresia ou apontando algum vício, persiga o mal até que ele seja exterminado. Não basta matar o gigante, corte fora sua cabeça! Nunca faça o trabalho do Senhor pela metade! Nunca poupe, por piedade, qualquer instrumento do diabo. Maus hábitos e pecados renitentes devem ser destruídos com um golpe fatal. Mas não se contente só com isso. Não permita que recobrem suas forças. Com humilde e sincera determinação, com confiança em Deus e ódio pelo inimigo, cuide para que a cabeça do pecado seja decepada do mesmo modo que a pedra se encravou na sua testa. Fazendo assim, você pode encontrar uma ajuda com a qual não contava. Você não tem uma espada: não quer que ela o atrapalhe, assim como Davi não tinha espada, pois Golias portava uma com ele, a qual serviu muito bem para a sua própria execução. Sempre que você serve o Senhor, você luta contra o erro: lembre-se que cada erro carrega a espada com a qual será destruído. Para defender a causa da verdade, não precisamos nos surpreender se a luta for longa, mas sempre podemos contar com o orgulho do adversário para se voltar contra ele e destruí-lo. O conflito será encurtado por si mesmo. Quando as nações invasoras de Israel dependiam principalmente das alianças que haviam formado, muitas vezes acontecia de Israel ganhar o dia devido às desavenças entre moabitas e assírios. Com frequência fazia parte do plano de Deus que os adversários brigassem entre si e acabassem com a luta para o bem dos Seus servos. Vejam, a cabeça do gigante foi decepada com a espada dele mesmo. Que isso sirva de sinal para nós. Meus irmãos, não importa que sejamos minoria em algumas questões importantes, como sem dúvida somos. A pergunta é: você está certo? Está? O que é certo com certeza vencerá! A verdade está do seu lado? A Bíblia está do seu lado? Cristo está do seu lado? Bem, é possível que você faça parte de uma comunidade desprezada; talvez haja bem poucas pessoas ao seu lado. Mas não desista — não deixe que seu coração desanime. Se você não tem força para vencer o adversário, exceto aquela que é prometida por Deus, você tem mais que o suficiente. Bem ali, no campo do adversário, há uma armadilha que prestará socorro e auxílio à verdade, na qual talvez você não tenha pensado. O velho dragão aguilhoa a si mesmo até a morte. Como um vício consome as partes vitais de uma pessoa, o erro, com o passar do tempo, se torna o seu próprio destruidor. Muitas vezes, a verdade brilha mais intensamente pelo fato de um erro ter obscurecido o mundo com suas densas trevas. Então, siga em frente! Lute com frieza e coragem! Não se intimide com um rosto bonito, uma figura principesca ou o número de batalhas do seu oponente! Não deixe que suas palavras arrogantes o detenham. Clame a Yahweh, o Senhor dos Exércitos, e use, mesmo nas batalhas de Deus, as armas que você já testou e provou. No entanto, tome cuidado com o trabalho de Deus; faça-o direito, olhando para Jesus, o Autor e Consumador da nossa fé; e assim, amado, você pode esperar ir de força em força e dar glória a Deus.
Eu gostaria que todos aqui estivessem do lado Senhor, que todos fossem soldados de Cristo. Alguém aqui não está? Alguém está sentindo a pressão do pecado, mas gostaria de estar em paz com Deus, em comunhão com Jesus? Amado, Jesus nunca rejeitou aquele que se achega a Ele. Ninguém nunca disse que Seu sangue não seria capaz de limpar a alma mais imunda! Achegue-se a Ele. Você não pode Lhe dar maior alegria do que ir até Ele, confessando seus pecados e buscando Sua misericórdia. Ele quer ser gracioso. Ele derrota o pecado mas tem piedade dos pecadores. Ele está pronto a perdoá-lo. Ele é o inimigo de Golias, mas Se assenta no monte Sião, feliz em receber o mais vil pecador que se achega a Ele. Se você é o pior pecador que já existiu, ainda assim Ele é capaz de salvá-lo completamente. Se você não tem esperança, nem fé — se você sente como se uma sentença de morte pairasse sobre sua cabeça, seus temores não são um problema para os desígnios de Deus. Ele não fala as coisas amargas que você imaginou contra si mesmo. Preste atenção ao que Ele diz: “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Is 55.7). Ah, estar ao lado de Cristo mantém o coração calmo e inflama a alma de alegria, apesar da dor que tortura os nervos e a vergonha que cora o nosso rosto! No entanto, estar do outro lado — ser inimigo de Jesus — é uma aflição que acaba com a alegria, um sentimento que pressagia a perdição futura. O futuro, o futuro, o futuro! Isso é o que mais se deve temer. "Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam” (Sl 2.12). Que o Senhor permita, a cada um de vocês, ser sábio no tempo oportuno, por amor do Seu nome! Amém.

Tradução e revisão: Mariza Regina de Souza