segunda-feira, 17 de junho de 2013

15 de junho - Devocional Matutina

E disse Sara: Deus me deu motivo de riso; e todo aquele que ouvir isso vai rir-se juntamente comigo. Gênesis 21:6

Era muito acima das forças da natureza, e até mesmo contrário às suas leis, que a idosa Sara pudesse ser honrada com um filho; e ainda contra todas as leis comuns que eu, um pobre, impotente e perdido pecador, pudesse encontrar a graça de ter em minha alma a habitação do Espírito do Senhor Jesus. Que eu, antes sem esperança, também pudesse, por minha própria natureza, seca, árida, estéril, e amaldiçoada como um imenso deserto, produzir frutos para santificação. Bem pode a minha boca se encher de riso pela graça singular e surpreendente que recebi do Senhor, pois encontrei Jesus, o descendente prometido, e Ele é meu para sempre. Neste dia, elevarei salmos de triunfo ao Senhor que Se lembrou da minha humilhação, pois "O meu coração se regozija no SENHOR, a minha força está exaltada no SENHOR; a minha boca se ri dos meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação”.

Quisera que todos aqueles que conhecem a minha grande libertação do inferno e minha bendita visitação do alto, rissem comigo de alegria. Quisera surpreender minha família com minha paz abundante; quisera deleitar meus amigos com minha crescente felicidade; quisera edificar a igreja com minhas gratas confissões; e até mesmo impactar o mundo com a alegria das minhas conversas diárias. Bunyan nos conta que Mercy se ria durante o sono, e não era à toa quando ela sonhava com Jesus; minha alegria não será menor que a dela enquanto meu Amado for o centro dos meus pensamentos diários. O Senhor Jesus é um mar profundo de alegria: minha alma mergulhará nele, será tragada pelas delícias da Sua companhia. Sara olhou para o seu Isaque, e riu-se de arrebatamento, e todos os seus amigos se riram com ela; e tu, minh’alma, olha para o teu Jesus, e diga aos céus e à terra que se unam à tua alegria indizível.

Charles Haddon Spurgeon

Tradução: Mariza Regina de Souza

sábado, 15 de junho de 2013

10 de maio - Devocional Matutina

Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos.
1 Co. 15:20


Todo o sistema do Cristianismo baseia-se no fato de que Cristo ressuscitou dentre os mortos; pois, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. A prova mais forte da divindade de Cristo se encontra na Sua ressurreição, uma vez que Ele foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos. Se Ele não tivesse ressuscitado, seria razoável duvidar da Sua Divindade. Além disso, a soberania de Cristo depende da Sua ressurreição, pois foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. E ainda, nossa justificação, esse privilégio bendito da aliança, está vinculada à vitória triunfal de Cristo sobre a morte e o túmulo; pois Ele foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. E ainda mais, nossa própria regeneração está unida à Sua ressurreição, pois fomos regenerados para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. E certamente a nossa ressurreição final repousa nisso, pois se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita. Se Cristo não ressuscitou, então nós não ressuscitaremos; mas, se Ele foi ressurreto, então, aqueles que dormem em Cristo não pereceram, mas certamente contemplarão a Deus em seus corpos. Assim, o fio dourado da ressurreição passa por todas as bênçãos do crente, desde a sua regeneração até a sua glória eterna, unindo-as. Como esse fato glorioso será importante para o crente, e como ele se regozijará, pois sem dúvida alguma está demonstrado que, “de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos.


A promessa foi cumprida
A obra da redenção consumada
O perdão com a justiça conciliado
Porque o Filho de Deus foi ressuscitado


Tradução: Mariza Regina de Souza

sexta-feira, 14 de junho de 2013

26 de abril - Devocional Matutina


Fazei isto em memória de mim
1 Co. 11:24


Parece, então, que os cristãos podem se esquecer de Cristo! Não haveria necessidade alguma dessa doce exortação se não houvesse a temível suposição de que a nossa memória pode se revelar traiçoeira. Nem é essa uma suposição infundada: é, infelizmente, bem confirmada pela nossa experiência, não como uma possibilidade, mas como um fato lamentável. Parece quase impossível que, aqueles uma vez redimidos pelo sangue do Cordeiro, e amados com amor infinito pelo eterno Filho de Deus, sejam capazes de se esquecer do bondoso Salvador; mas se isso é alarmante aos ouvidos, infelizmente, é ainda mais evidente aos olhos para que não neguemos o crime. Esquecer-nos de Quem nunca se esqueceu de nós! Esquecer-nos de Quem derramou Seu sangue pelos nossos pecados! Esquecer-nos de Quem nos amou até a morte! Será possível? Sim, não somente é possível, mas também a nossa consciência confessa que essa é uma falha muito triste de todos nós, que permitimos a Ele ser como um viajante hospedado só por uma noite. Ele, a quem deveríamos receber como residente permanente em nossa memória, nela é apenas um visitante. A cruz, onde se julgava que a memória pudesse perdurar, e a negligência fosse uma intrusa desconhecida, é profanada pelos pés do esquecimento. Sua consciência não lhe diz que isso é verdade? Você não se encontra esquecido de Jesus? Alguma criatura rouba seu coração, e você se esquece daquele a quem deve dar sua afeição. Algum assunto terreno atrai sua atenção, quando você deveria fixar firmemente os olhos na cruz. É o incessante tumulto do mundo, a constante atração das coisas terrenas, que afastam a alma de Cristo. Embora a memória cuide muito bem das ervas daninhas, ela faz a Rosa de Sarom fenecer. Coloquemos um bilhetinho celestial no nosso coração com o nome de Jesus, o nosso Amado e, seja qual for o nosso deslize, permaneçamos firmes nEle.


tradução: Mariza Regina de Souza

terça-feira, 2 de abril de 2013

As Alegorias de Sara e Agar


Sermão nº 69

Pregado no domingo pela manhã, 2 de março de 1856, pelo
Rev. Charles H. Spurgeon
na Capela da Rua do Novo Parque, Southwark

“porque estas mulheres são duas alianças” — Gálatas 4:24

Não pode haver maior diferença no mundo do que há entre lei e graça. E ainda assim, por mais estranho que pareça, embora sejam diametralmente opostas e essencialmente diferentes entre si, a mente humana está tão corrompida, e o intelecto, mesmo quando abençoado pelo Espírito, tão longe do julgamento correto, que uma das coisas mais difíceis é distinguir corretamente entre lei e graça. Quem conhece a diferença, e sempre a tem em mente — a diferença fundamental entre lei e graça — compreende a essência da teologia. Quem pode dizer exatamente a diferença entre lei e graça não está longe de entender o evangelho em toda sua extensão, seu alcance e suas nuances. Em toda ciência há sempre uma parte que se torna muito simples e fácil depois que a aprendemos, mas que, no início era como uma grande soleira antes da porta. Então, essa é a primeira dificuldade na luta para aprender o evangelho. Entre lei e graça existe uma diferença suficientemente clara para todo cristão, especialmente para quem é mais esclarecido e instruído; mas até para estes, mais esclarecidos e instruídos, há sempre uma tendência de confundir as duas coisas. Eles são tão opostas entre si quanto luz e trevas, e não concordam mais que fogo e água, mas, mesmo assim, o homem sempre tentará combiná-las — frequentemente sem conhecimento, e às vezes intencionalmente. Procuram unir as duas coisas, quando Deus positivamente as separou.

Nesta manhã, tentaremos ensinar algo sobre as alegorias de Sara e Agar, para que possam compreender melhor a diferença essencial entre as alianças da lei e da graça. Não iremos muito a fundo, mas daremos algumas ilustrações fornecidas pelo próprio texto. Primeiro, gostaria que observassem as duas mulheres, as quais Paulo usa como tipos  — Sara e Agar; depois falaremos dos dois filhos — Ismael e Isaque; em terceiro lugar, do comportamento de Ismael com relação a Isaque; e então concluirei chamando sua atenção para os diferentes destinos dos dois.

           1. Primeiro, convido-os a observar AS DUAS MULHERES — Agar e Sara. Está escrito que elas são tipo de duas alianças; e, antes de começar, não podemos deixar de dizer quais são essas alianças. A primeira, referente a Agar, é a aliança das obras, que diz: “Eis a minha lei, ó homem; se da tua parte, te comprometeres a guardá-la, Eu, de minha parte, Me comprometo a manter-te com vida. Se prometeres obedecer aos mandamentos plena, integral e perfeitamente, sem única falha, Eu te conduzirei ao céu. Mas vê bem, se violares uma única regra, se te rebelares contra uma única ordenança, Eu te destruirei para sempre.” Esta é aliança de Agar — a aliança proposta no Sinai, em meio a tempestades, fogo e fumaça — ou melhor, proposta, antes de tudo, no jardim do Éden, onde Deus disse a Adão: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Enquanto não comesse da árvore, e permanecesse puro e imaculado, Adão certamente viveria. Esta é aliança da lei, a aliança de Agar. A aliança de Sara é a aliança da graça, não feita por Deus com o homem, mas feita por Deus com Jesus Cristo, a qual diz: “Jesus Cristo, de Sua parte, Se compromete a suportar a pena pelo pecado do Seu povo, a morrer, para pagar suas dívidas, e a carregar suas iniquidades sobre Seus ombros; e o Pai, de Sua parte, promete que todos por quem o Filho morreu certamente serão salvos; e, por causa de seus vis corações, Ele colocará neles a Sua lei, da qual não se apartarão; e, vendo seus pecados, Ele passará por eles e deles jamais Se lembrará.” A aliança das obras era “faze isto e viverás”, mas a aliança da graça é “faze isto, ó Cristo, e tu, homem, viverás”. Nisto repousa a diferença entre as duas alianças. Uma foi feita com o homem, a outra com Cristo; uma era condicional, condicionada à obediência de Adão, a outra era condicional para Cristo, mas perfeitamente incondicional para nós. Na aliança da graça não há qualquer tipo de condição; e, se houver, a própria aliança a proverá. A aliança provê a fé, o arrependimento, as boas obras e a salvação, como um ato puramente gratuito e incondicional; nem a nossa permanência nela depende, em qualquer medida, de nós mesmos. A aliança foi feita por Deus com Cristo, assinada, selada e ratificada, em todas as coisas bem ordenada.

Agora, vejamos a alegoria. Primeiro, gostaria que notassem que é Sara o tipo da nova aliança da graça, pois foi ela a esposa original de Abraão. Antes de ele saber qualquer coisa sobre Agar, Sara já era sua esposa. A aliança da graça, afinal, é a aliança original. Há alguns teólogos ineptos que ensinam que Deus criou o homem justo, e fez uma aliança com ele; então o homem pecou, e Deus, como numa espécie de reconsideração, fez uma nova aliança com Cristo para salvar Seu povo. Ora, isso é um completo engano. A aliança da graça foi feita muito antes da aliança das obras, pois Jesus Cristo, antes da fundação do mundo, tornou-se seu guia e representante; e de nós está escrito que fomos eleitos pela presciência de Deus Pai, por meio da obediência e aspersão do sangue de Jesus. Nós, muito antes da queda, fomos amados por Deus; Ele não nos amou por sentir pena de nós; mas Ele amou Seu povo como simples criaturas. Ele amou Seu povo quando se tornaram pecadores; mas no começo, Ele os considerou como criaturas. Ele permitiu ao homem cair em pecado para mostrar a riqueza da Sua graça, a qual já existia antes do pecado. Ele não nos amou e nos escolheu dentre os demais, depois da queda, mas nos amou muito além do pecado, e antes dele. Ele fez a aliança da graça antes de cairmos pela aliança das obras. Se pudéssemos voltar na eternidade e perguntar qual era o filho mais velho, ouviríamos que a graça nasceu antes da lei — que veio ao mundo muito antes da lei ser promulgada. Mais antiga que os princípios fundamentais que regem a nossa moral está a grande pedra fundamental da graça, na aliança feita na antiguidade, muito antes dos videntes promulgarem a lei, muito antes do Sinai fumegar. Antes mesmo de Adão ser colocado no jardim, Deus já havia decretado a vida eterna ao Seu povo, para que fossem salvos por meio de Jesus.

           A seguir, observem: embora Sara fosse a esposa mais velha, foi Agar quem teve o primeiro filho. Assim, Adão, o primeiro homem, era filho de Agar. Embora tenha nascido perfeito e sem pecado, quando estava no jardim ele não era filho de Sara. Agar teve o primeiro filho. Ela deu à luz a Adão, o qual viveu durante algum tempo sob a aliança das obras. Adão viveu no jardim com base nesse princípio. O pecado causou sua queda; se não tivesse pecado, ele teria ficado lá para sempre. Adão tinha o poder de decidir se iria ou não obedecer a Deus: sua salvação, então, dependia simplesmente disto: “Se tocares nesse fruto, morrerás; se obedeceres ao meu mandamento, e não tocares no fruto, viverás.” E Adão, perfeito como era, foi só um Ismael, não um Isaque, até depois da queda. De qualquer forma, aparentemente, ele foi descendente de Agar, embora ocultamente, na aliança da graça, talvez tenha sido um filho da promessa. Bendito seja Deus, pois agora não estamos sob Agar; não estamos debaixo da lei desde a queda de Adão. Sara já deu à luz. A nova aliança é “a mãe de todos nós”.

           Mas observe mais uma vez, a finalidade de Agar não era ser esposa; ela nunca foi outra coisa senão serva de Sara. O propósito da lei nunca foi salvar os homens; ela foi designada apenas para ser um aio para a aliança da graça. Quando Deus promulgou a lei no monte Sinai, não foi com o propósito do homem poder ser salvo por ela; Ele nunca planejou que o homem alcançasse a perfeição por meio dela. No entanto, sabemos que a lei é uma serva magnífica para a graça. Quem nos levou ao Salvador? Não foi a lei trovejando em nossos ouvidos? Nunca teríamos aceitado a Cristo se a lei não nos tivesse conduzido a Ele; nunca teríamos conhecido o pecado se a lei não o tivesse revelado. A lei é a serva de Sara para varrer o nosso coração e levantar a poeira, a fim de nos fazer clamar para o sangue ser aspergido e poder assentá-la. A lei, por assim dizer, é o cão pastor de Jesus Cristo, que vai atrás da ovelha e a conduz ao pastor; a lei é o raio estrondoso que aterroriza os ímpios, e os faz deixar os seus maus caminhos e buscar a Deus. Ah, se soubéssemos como usar a lei corretamente, se compreendêssemos como colocá-la em seu lugar, tornando-a obediente a sua senhora, então tudo ficaria muito bem. Esta Agar, no entanto, está sempre desejando ser senhora, tal como Sara; mas Sara jamais permitirá isso, e terá razão em tratá-la mal e mandá-la embora. Devemos fazer o mesmo, e não permitir que ninguém murmure contra nós, se tratarmos com severidade os filhos de Agar em nossos dias — se às vezes dissermos coisas duras para quem confia nas obras da lei. Citaremos Sara como exemplo. Ela tratou Agar com severidade; e nós faremos o mesmo. Isso significa fazer Agar fugir para o deserto: não queremos ter nada com ela. Contudo, é incrível que, mesmo feia e inferior, Agar seja mais amada pelos homens do que Sara, e eles estejam sempre propensos a dizer “Agar, seja minha senhora” em vez de “Não! Sara, eu serei teu filho, e Agar será a escrava.” Onde está a lei de Deus agora? Ela não está acima do cristão — está abaixo dele. Alguns usam a lei de Deus como fosse uma vara, de terror, sobre os cristãos, dizendo “se pecar, você será punido com ela”. Mas não é assim. A lei está sob o cristão; é para ele andar nela; ela deve ser seu guia, sua regra, seu padrão. “Não estamos debaixo da lei, e sim da graça.” A lei é a estrada que nos guia, não a vara que nos controla, nem o espírito que nos move. A lei é boa e excelente, se ficar em seu lugar. Ninguém critica a serva porque ela não é a esposa; e ninguém deve desprezar Agar porque ela não é Sara. Se ela pelo menos tivesse se recordado das suas funções, não haveria problema algum, sua senhora nunca a teria mandado embora. Não queremos tirar a lei das nossas igrejas, desde que ela continue no lugar certo; mas quando ela quer ser senhora, fora com ela; não queremos o legalismo.

           Novamente, Agar nunca foi livre, e Sara nunca foi escrava. Portanto, amados, a aliança das obras nunca foi livre, nem nenhum de seus filhos. Quem confia nas obras jamais será livre, nem poderá ser, até sendo perfeito em boas obras. Mesmo não tendo pecado, ainda são escravos, pois quando tivermos feito tudo o que deveríamos, Deus não será nosso devedor, pois ainda estaremos em débito com Ele, ainda seremos como escravos. Se cumpro toda a lei de Deus, não tenho direito a favor algum, pois nada mais fiz que a minha obrigação, e ainda serei escravo. A lei é o patrão mais rigoroso do mundo; nenhum homem sensato gostaria de estar a seu serviço, pois depois de ter feito tudo, não se recebe nem um “obrigado” por isso, só um “vá em frente, continue”. O pobre pecador tentando ser salvo pela lei é como um cavalo cego dando voltas e mais voltas em torno de um moinho, não dando um único passo além, mas sempre recebendo açoites; sim, quanto mais rápido for, quanto mais trabalhar, quanto mais cansado ficar, tanto pior para ele. Quanto mais legalista alguém for, mais certeza terá da condenação; quanto mais santo alguém for, se confiar em suas obras, mais certeza terá da sua própria rejeição final e da porção eterna com os fariseus. Agar era escrava; Ismael, embora bom e digno, nada mais era que um escravo, e nunca poderia ser outra coisa. Nem todas as obras que alguma vez ele fez a seu pai poderiam torná-lo um filho nascido em liberdade. Sara nunca foi escrava. Ela pode ter sido feita prisioneira de faraó algumas vezes, mas não foi sua escrava; seu marido pode tê-la negado, mas ela ainda era sua esposa; tão logo foi reconhecida por seu marido, faraó teve de devolvê-la. Por isso, a aliança da graça podia parecer em perigo, e seu representante clamar “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!”, mas esse nunca foi um risco real. Por vezes, as pessoas sob a aliança da graça parecem cativas e escravas, mas ainda são livres. Oh, se soubéssemos como ficar “firmes na liberdade com que Cristo nos libertou!”

           Só mais um pensamento. Agar foi expulsa, assim como seu filho, mas Sara, não. Por isso, a aliança das obras não tem mais validade como aliança. Naufraga quem nela confia, pois não só Ismael foi lançado fora, como também sua mãe. PORTANTO, o legalista não só sabe que ele mesmo está condenado, como também que a lei como aliança cessou, pois mãe e filho foram expulsos pelo evangelho, e quem confia na lei é mandado embora por Deus. Perguntem-me quem é a esposa de Abraão hoje. Não é Sara? Não é ela quem repousa ao lado do marido na caverna de Macpela neste instante? Ela está lá, e se estiver nos milhares de anos por vir, ainda será a esposa de Abraão, enquanto Agar jamais poderá ser. Oh, como é doce pensar que a aliança celebrada nos tempos antigos em todas as coisas foi bem ordenada, e jamais, jamais será removida. “Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura.” Ah, legalistas, não me admira que vocês ensinem a doutrina da perda da salvação, pois ela é totalmente coerente com sua teologia. Agar, é claro, tem de ser expulsa, e seu filho Ismael também. Mas nós, os que pregamos a aliança da salvação plena e gratuita, sabemos que Isaque nunca será expulso, e Sara nunca deixará de ser amiga e esposa de Abraão. Ó filhos de Agar! Ó ritualistas! Ó hipócritas! Ó formalistas! De que adiantará, quando enfim disserem “Onde está minha mãe? Onde está minha mãe, a lei?” Ah, ela foi expulsa, e tu podes acompanhá-la no esquecimento eterno. “Mas onde está minha mãe?” pode, enfim, dizer o cristão; e ele ouvirá “Eis a mãe dos fiéis, a Jerusalém do alto, a mãe de todos nós; e ali entraremos e habitaremos com nosso Deus e Pai.”

           2. Agora vamos analisar os DOIS FILHOS. Enquanto as duas mulheres são tipo de duas alianças, os filhos são tipo de quem vive debaixo de cada aliança. Isaque é tipo do homem que anda pela fé, não pelo que vê, e espera ser salvo pela graça; Ismael, do homem que vive pelas obras, e espera ser salvo por suas boas ações. Vamos examinar os dois.

           Em primeiro lugar, Ismael é o mais velho. Por isso, amados, o legalista é muito mais velho que o cristão. Se eu fosse um legalista hoje, teria uns quinze ou dezesseis a mais do que tenho como cristão, pois todos nós nascemos legalistas. Falando sobre os arminianos, Whitfield disse: “Todos nós nascemos arminianos.” É a graça que nos torna calvinistas, a graça nos torna cristãos, a graça nos liberta e nos faz conhecer a nossa posição em Cristo. Deve-se esperar, então, que o legalista tenha mais poder de argumentação do que Isaque; e quando os dois garotos estão brigando, é claro que Isaque geralmente vai ao chão, pois Ismael é muito maior. Deve-se esperar também ouvir Ismael fazendo o maior barulho, pois ele vai se tornar um homem selvagem, “a sua mão será contra todos, e a mão de todos, contra ele”, ao passo que Isaque é um rapaz pacífico. Ele está sempre ao lado da mãe, e quando é alvo de zombaria, pode ir até ela e contar-lhe o que Ismael fez com ele; mas isso é tudo o que pode fazer, pois ele não tem muita força. Por isso, observe os nossos dias. Os ismaelitas geralmente são mais fortes, e podem nos derrubar violentamente quando discutimos com eles. Na verdade, eles se gabam e se vangloriam porque os Isaques não têm muito poder de raciocínio — não têm muita lógica. Não, Isaque não quer discutir, pois é herdeiro segundo a promessa, e promessa e lógica não combinam muito bem. Sua lógica é sua fé, sua retórica é sua sinceridade. Não espere que o evangelho seja vitorioso quando se disputa segundo a maneira dos homens; é mais comum vê-lo vencido. Se você estiver discutindo com um legalista, e ele vencer a questão, diga: “Eu já esperava por isso; isso mostra que sou um Isaque, pois Ismael com certeza dá uma coça em Isaque, mas isso de forma alguma me abate. O pai e a mãe dele estão no vigor da vida, e são fortes. É natural que eu seja superado, pois meu pai e minha mãe estão muito velhos.”

           Mas, na aparência exterior, onde está a diferença entre os dois rapazes? Não há diferença entre eles quanto às ordenanças, pois ambos são circuncidados. Não há nenhuma distinção quanto aos sinais externos e visíveis. Portanto, amados, muitas vezes não há diferença entre Ismael e Isaque, entre o legalista e o cristão, no que se refere aos rituais externos. O legalista toma a Santa Ceia e é batizado; ele ficaria muito temeroso se não o fizesse. E não creio que haja muita diferença quanto ao caráter. Ismael, como homem, foi quase tão bom e honrado quanto Isaque; não há nada contra ele nas Escrituras; na verdade, sou levado a crer que ele era um rapaz especial, pelo que Deus disse quando proferiu a bênção: “Com Isaque estará minha bênção.” Abraão, respondeu: “Tomara que viva Ismael diante de ti.” Abraão clamou a Deus por Ismael porque, sem dúvida, amava o rapaz por seu caráter. Deus disse: sim, darei a ele tais e tais bênçãos; ele será pai de príncipes e terá bênçãos temporais. No entanto, Deus não mudaria, nem mesmo pela oração de Abraão. E está escrito que, quando Sara ficou furiosa, como no dia em que expulsou Agar de casa, “Abraão ficou pesaroso por causa do seu filho”.  Não creio que o sentimento dele fosse uma tolice. Há um traço no caráter de Ismael que todos irão gostar. Quando Abraão morreu, ele não deixou sequer um pedaço de pau ou de pedra para Ismael, pois Abraão já tinha lhe dado sua parte quando o despachou; no entanto, o rapaz foi ao funeral do pai, pois está escrito que ambos, Ismael e Isaque, sepultaram Abraão em Macpela. Por isso, parece haver bem pouca diferença no caráter dos dois. Portanto, amados, há pouquíssimas diferenças entre o legalista e o cristão quanto ao aspecto externo. Ambos são filhos de Abraão. Não há distinção na vida, pois Deus permitiu a Ismael ser tão bom quanto Isaque, para mostrar que não é a bondade de um homem que faz diferença, mas que Ele “tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”.

           Então, qual é a distinção? Paulo nos diz que o primeiro nasceu segundo a carne, e o outro segundo o Espírito. O primeiro era filho natural, o segundo, espiritual. Pergunte ao legalista: “Você faz boas obras, se arrepende, e diz: quando se cumpre a lei não é preciso arrependimento. De onde vem a sua força?” Talvez ele responda: “da graça”; mas se você lhe perguntar o que isso significa, ele dirá que usou a graça; ele a tinha, mas usou-a. Então, a diferença é, você usa a graça, os outros não. Sim. Bem, então, é devido às suas ações. Você pode chamar de graça, ou de mostarda; enfim, não é graça, pois foi o uso, você diz, que fez a diferença. Contudo, pergunte ao pobre Isaque como ele observa a lei. O que ele diz? Não faço nada direito! Isaque, você é pecador? “Oh, sim, um grande pecador; vezes sem conta tenho me rebelado contra meu pai; estou sempre me desviando de seus caminhos.” Então você não se acha tão bom quanto Ismael, não é? “Não”. Ah! Então existe uma diferença entre vocês afinal! O que faz a diferença? “A graça me faz ser diferente.” Por que Ismael não é um Isaque? Ele poderia ter sido um Isaque? “Não”, diz Isaque, “foi Deus quem me tornou diferente, do princípio ao fim; Ele me fez filho da promessa antes de eu nascer, e vai me manter assim.”

A graça toda obra coroará
Por todos os dias da eternidade
Ela firma nos céus a pedra suprema
E bem merece todo o nosso louvor

           Na realidade, Isaque tem mais boas obras; ele não fica atrás de Ismael. Quando é convertido, ele trabalha e, se possível, serve ao pai muito melhor que um legalista a seu senhor. Entretanto, se fôssemos ouvir a história de ambos, sem dúvida, veríamos que Isaque se considera um pobre pecador miserável, enquanto Ismael se mostra como um honrado cavalheiro farisaico. A diferença, contudo, não está nas obras, mas nos motivos; não na vida, mas nos meios de sustentá-la — não no que fazem, mas muito mais em como fazem. Eis, portanto, a diferença entre eles. Não que os legalistas sejam piores que os cristãos; com frequência podem ter uma vida melhor; mas mesmo assim podem estar perdidos. Eles se queixam das injustiças? Nem um pouco. Deus diz que os homens devem ser salvos pela fé, mas eles dizem: “Não, seremos salvos pelas obras.” Eles podem tentar, mas estarão perdidos para sempre. É como se alguém tivesse um servo e lhe dissesse: “João, faça isso, isso e isso no estábulo”, mas o servo se retira e faz o contrário, e depois diz: “Senhor, fiz tudo certinho.” “Sim”, diz ele, “mas não foi o que eu pedi.” Da mesma forma, Deus não lhe pediu para desenvolver sua salvação por meio de obras, mas para “desenvolver a vossa salvação com temor e tremor;  porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” De forma que, quando você se apresentar diante dEle com suas obras, Ele dirá: “Não lhe pedi para fazer isso. Eu disse que quem crer e for batizado será salvo.” “Ah”, diz você, “achei que o outro jeito fosse melhor.” Amigo, o que você acha o levará à perdição. “Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a alcançá-la”, quando Israel, que a buscava, não a alcançou? É por isso, “Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras.”

3.  Agora direi uma palavra ou duas a respeito da CONDUTA DE ISMAEL EM RELAÇÃO À ISAQUE. Lemos que Ismael caçoou de Isaque. Será que os queridos filhos de Agar não se irritam ao ouvir essa doutrina? Eles dizem: “é horrível, sem sentido e totalmente injusto que eu possa ser tão bom quanto queira, mas se não for filho da promessa, não possa ser salvo; essa é realmente uma doutrina terrível e imoral; é um grande perigo e precisa ser detida.” Sem dúvida! Isso mostra que ele é um Ismael. É claro que Ismael caçoará de Isaque, e não é preciso outra explicação. Onde a absoluta soberania de Deus for pregada, onde se disser que o filho da promessa, não o da carne, é o herdeiro, o filho da carne sempre fará o maior reboliço. Mas o que disse Ismael a Isaque? “Que quer aqui? Não sou eu o filho mais velho de meu pai? Tudo seria meu, se não fosse por você. Acaso você é melhor do que eu?” Assim é como falam os legalistas. “Deus não é pai de todo mundo? Não somos todos Seus filhos? Ele não deve fazer nenhuma distinção.” Ismael disse: “Não sou tão bom quanto você? Não sirvo igualmente a meu pai? Quanto a você, sei que é o favorito da sua mãe, mas a minha é tão boa quanto a sua.” E assim, ele provocou Isaque e caçoou dele. É assim que os arminianos fazem com a salvação pela graça. O legalista diz: “Não a entendo, não a tenho e não a quero; se somos ambos iguais em caráter, não é possível que um se perca e o outro seja salvo.” Por isso, ele zomba da graça. Podemos viver em harmonia, se não pregarmos a plenitude da graça; mas se ousarmos falar dela, conquanto ofensiva ao público, o que as pessoas dirão? Chamam-na de “o anzol da popularidade” (vejam o assim chamado Jornal Homem Livre). Poucos peixes, no entanto, mordem a isca. A maioria diz: “Odeio esse pregador, não o suporto; ele é intolerante demais.” Dizem que pregamos sobre a graça para ganhar popularidade! Ora, no fundo, isso é uma mentira deslavada, pois a doutrina da soberania de Deus sempre será impopular; as pessoas sempre a detestarão, e rangerão os dentes, da mesma forma como fizeram quando Jesus a ensinou. Havia muitas viúvas em Israel, disse Ele, mas a nenhuma foi enviado o profeta, senão à viúva de Sarepta. Havia muitos leprosos em Israel, mas nenhum foi curado, senão aquele que veio de longe, da Síria. Quanta popularidade conseguiu nosso Salvador com esse sermão! As pessoas rangeram os dentes para ele; e toda sua popularidade teria descido morro abaixo, de onde queriam lançá-lO de cabeça, se Ele não tivesse aberto caminho por entre eles e se retirado. Como? Popular por tirar o orgulho de alguém, por destruir sua posição e por fazê-lo se encolher diante de Deus como um pobre pecador? Não, isso nunca será popular até os homens nascerem anjos, e todos amarem o Senhor, o que suponho não será agora.

           4. Mas ainda temos de perguntar no QUE SE TORNARAM OS DOIS FILHOS

           Primeiro, Isaque herdou tudo, e Ismael não herdou nada. Não que Ismael tenha ficado pobre, pois ele recebeu muitos bens, e se tornou rico e poderoso; mas ele não recebeu herança espiritual. O legalista, da mesma forma, receberá muitas bênçãos como recompensa por sua legalidade; ele será honrado e respeitado. “Em verdade”, disse Jesus, “vos digo que eles (os fariseus) já receberam a recompensa”. Deus não priva ninguém da sua recompensa. Qualquer coisa que um homem peça, ele a terá. Deus paga a todos o que é devido, e muito mais; e quem cumpre a Sua lei, mesmo neste mundo, receberá grandes benefícios. Por obedecer aos mandamentos de Deus, não terão o corpo tão prejudicado quanto os devassos, e preservarão melhor sua reputação — obediência, nesse sentido, faz bem. Por outro lado, Ismael não herdou nada. Por isso, ó pobre legalista, se és dependente das tuas obras, ou de qualquer outra coisa, a não ser da soberana graça de Deus, para te livrares da morte, não terás sequer um palmo de herança em Canaã, e no grande dia em que Deus repartir a porção dos filhos de Jacó, não haverá uma parte para ti. Se és, no entanto, um pobre Isaque, um pobre e trêmulo pecador  — e, se disseres: “Ismael tem as mãos cheias

Mas nada em minhas mãos eu trago
Somente à cruz me agarro.

Se disseres nesta manhã —

Eu, de mim, nada sou
Mas Cristo é meu tudo em tudo.”

Se renunciares a todas as obras da carne, e confessares: “Eu sou o principal dos pecadores, mas sou filho da promessa e Jesus morreu por mim”, terás uma herança e não serás privado dela nem por todos os Ismaeis zombadores do mundo; nem será ela diminuída pelos filhos de Agar. Talvez sejas vendido, e levado para o Egito, mas Deus trará de volta Seus Josés e Seus Isaques, e serás exaltado para a glória, e te assentarás à direita de Cristo. Ah, como tenho pensado na consternação que haverá no inferno quando aqueles que aparentam ser justos forem para lá. “Senhor”, diz alguém, “preciso mesmo ir para essa masmorra horrenda? Mas não guardei o dia de descanso? Não cumpri fielmente teu mandamento? Em toda minha vida, jamais disse um palavrão ou proferi uma maldição. Preciso mesmo ir para lá? Dei o dízimo de tudo o que tinha, e ainda assim serei trancafiado lá? Fui batizado, tomei a Santa Ceia, e fui tão bom quanto pude. É bem verdade que não cri em Cristo; mas pensei que não fosse necessário, pois me achava bom e honrado demais; preciso mesmo ser trancafiado lá?” Sim, senhor! E entre os condenados terás a primazia, pois escarneceste de Cristo mais do que todos. Eles nunca erigiram um anticristo. Eles andaram nos caminhos do pecado, e tu também, mas acrescentaste ao teu pecado o mais abominável de todos: erigiste a ti mesmo como um anticristo, e te curvaste ante a tua própria bondade ilusória e a adoraste. E então, Deus dirá ao legalista: “Em tal dia Eu te ouvi criticar minha soberania; te ouvi dizer que era injusto Eu salvar meu povo e distribuir meus favores conforme o conselho da minha vontade; tu contestaste a justiça do teu Criador, e justiça terás em toda força.” Ele pensava que tivesse um grande peso da balança a seu favor, mas descobriu que era somente um grãozinho de dever; Deus, então, exibe a imensa lista de seus pecados, com esta inscrição no final: “Sem Deus, sem esperança, um estranho à riqueza de Israel”. O pobre homem, então, percebe que seu pequeno tesouro não vale nem meio centavo, enquanto a enorme conta apresentada por Deus é de dez trilhões de talentos; e assim, com um terrível gemido de angústia, e um urro desesperado, ele foge com todas as suas notinhas de mérito, as quais esperava pudessem salvá-lo, gritando: “Estou perdido! Estou perdido com todas as minhas boas obras! Descobri que minhas boas obras eram grãos de areia, enquanto meus pecados eram montanhas; e porque não tive fé, toda minha justiça foi somente deslavada hipocrisia.”

Agora, mais uma vez, Ismael foi mandado embora, e Isaque foi mantido em casa. Assim será com alguns de vocês, quando vier o dia da perseguição para provar a igreja de Deus; pois, embora estejam na igreja como os outros e, embora usem a máscara de professos, descobrirão que isso será de nenhuma valia. Vocês são como o filho mais velho; quando o filho pródigo entra na igreja, dizem: “vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.” Ah, legalistas invejosos, enfim sereis expulsos de casa. E eu vos digo, legalistas e formalistas, que tendes com Cristo o mesmo que qualquer pagão; e vós, que fostes batizados com o batismo cristão, embora vos assenteis à mesa do Senhor, embora ouçais sermões cristãos, não tendes parte nem porção nisso, não mais que um católico romano ou um muçulmano, a menos que confieis simplesmente na graça de Deus, e sejais herdeiro segundo a promessa. Todo aquele que confia nas suas obras, mesmo que seja só um pouquinho, descobrirá que esse pouquinho arruinará a sua alma. Todos os movimentos do universo devem ser desvelados. O navio construído pelas obras deve ter a quilha partida. A alma deve confiar única e exclusivamente na aliança de Deus, ou está perdida. Legalista, esperas ser salvo pelas obras. Vem agora, e te tratarei com respeito. Não te acusarei por teres sido um bêbado, ou maldizente, mas quero te perguntar: sabes que, para seres salvo por tuas obras, deves ser totalmente perfeito? Deus requer o cumprimento de toda a lei. Se você tem um vaso com uma pequena rachadura, por menor que ela seja, ele não está inteiro. Você nunca cometeu pecado em sua vida? Nunca teve maus pensamentos, nunca imaginou coisas ruins? Ora, meu amigo, não acho que você tenha manchado suas luvas brancas com algum tipo de luxúria, ou carnalidade, ou que sua boca pura, que usa linguagem casta, tenha proferido algum xingamento, ou qualquer coisa lasciva; nem penso que você tenha cantado alguma música obscena; isso está fora de questão — mas nunca pecaste? “Sim”, respondes. Então, nota bem: “a alma que pecar, essa morrerá”; e isso é tudo o que tenho a te dizer. Mas se negares que tenhas pecado, sabe que, se no futuro cometeres um único pecado — embora tenhas vivido uma vida perfeita durante setenta anos, e ao final desses anos cometeres um único pecado, toda a tua obediência de nada servirá, pois “aquele que tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”. Mas você diz: “o senhor está fazendo suposições erradas, pois embora eu creia que precise fazer boas obras, também creio que Jesus é muito misericordioso e, embora eu não seja inteiramente perfeito, sou sincero, e acho que obediência sincera será aceita em lugar da obediência perfeita.” É mesmo? Então diga: o que é obediência sincera? Conheci um homem que se embebedava uma vez por semana; ele era muito sincero e não achava que estivesse fazendo algo errado, contanto que estivesse sóbrio no domingo. Muitas pessoas têm o que elas chamam de obediência sincera, mas isso sempre deixa margem para a iniquidade. E então você diz: “Não dou muita margem, só permito alguns pecadinhos.” Caro amigo, você está totalmente errado quanto à sua obediência sincera, pois se isso é o que Deus requer, então centenas dos mais vis pecadores são tão sinceros quanto você. Não creio na sua sinceridade. Se fosse sincero, obedeceria ao que Deus diz: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo.” Tua obediência sincera me parece uma sincera enganação, e isso logo descobrirás. “Oh”, dizes tu, “creio que depois de tudo o que fizemos, devemos ir a Jesus Cristo e dizer: “Senhor, temos um grande problema, o Senhor o perdoará?” Ouvi dizer que antigamente pesavam bruxas contra a Bíblia da paróquia, se fossem mais pesadas, as bruxas eram inocentadas; mas colocar bruxas em pé de igualdade com a Bíblia é uma ideia sem precedentes. Porque Cristo não será colocado na balança com um tolo presunçoso como tu. O teu desejo é que Cristo sirva de contrapeso. Ele agradece muito o cumprimento, mas não aceitará um trabalho servil. “Oh”, dizes tu, “Ele me ajudará na minha salvação.” Sim, sei que isso lhe agradaria; mas Cristo é um tipo bem diferente de Salvador; quando pega algo para fazer, Sua tendência é executar tudo Ele mesmo. Você pode achar estranho, mas Ele não gosta de assistência. Quando formou o mundo, Ele não pediu ao anjo Gabriel para resfriar a matéria incandescente com suas asas, Ele fez tudo sozinho. Com a salvação é a mesma coisa: Ele diz: “a minha glória, pois, não a darei a outrem”. E peço que te lembres, se professaste seguir a Cristo, mas ainda tens uma pequena porção de si mesmo nisso, que existe uma passagem das Escrituras que é apropriada para ti, e podes remoer a teu bel-prazer: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça.” Pois, se as misturares, estragarás ambas. Vá para casa, amigo, e faça você mesmo um mingau de fogo e água, tente manter em casa um leão e um cordeiro, e quando for bem-sucedido, diga-me que fez obras e graça concordarem; e eu lhe direi que você me contou uma mentira, pois as duas coisas são tão essencialmente opostas que não podem concordar. Quem dentre vocês jogar fora todas as boas obras, e vier a Jesus com isto: “Nada, nada, NADA

Nada em minhas mãos eu trago,
Simplesmente à cruz me agarro.

Cristo lhe dará boas obras suficientes, Seu Espírito agirá em você e fará tudo conforme Lhe apraz, e o tornará santo e perfeito; mas se você tentar obter a santidade antes de Cristo, você começou do lado errado, e procurou florescer antes de enraizar, e são inúteis os seus esforços. Ismaeis, tremam diante dEle agora! Se alguns de vocês forem Isaques, talvez se lembrem de que são filhos da promessa. Permanecei firmes. “Não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão, pois não estais debaixo da lei, e sim da graça”.

Tradução: Mariza Regina de Souza

segunda-feira, 4 de março de 2013

22 de janeiro — Devocional Matutina


Filho do homem, em que a madeira da videira é melhor do que o galho de qualquer árvore da floresta?” (Ez. 15:2 NVI)

Estas palavras são para humilhação do povo de Deus; chamam-lhes a videira de Deus, mas qual deles, por natureza, é mais do que os outros? Eles, pela bondade divina, tornaram-se frutíferos, pois foram plantados em boa terra; o Senhor os cultivou nas paredes do Santuário e eles produziram frutos para  Sua glória; mas, o que são sem seu Deus? O que são, sem a contínua influência do Espírito Santo, gerando neles fecundidade? Ó cristão, aprende a rechaçar o orgulho, vendo que não tens motivo para ele! Não importa quem sejas, nada tens que te faça orgulhoso. Quanto mais tens, mais deves a Deus, e não deves te orgulhar daquilo que te torna devedor. Considera a tua origem, olha para o que eras. Considera o que terias sido, não fosse a graça divina. Olha para ti mesmo como és agora. Porventura tua consciência não te acusa? Não estão diante de ti tuas muitas perambulações, dizendo-te que és indigno de ser chamado Seu filho? E se Ele alguma coisa te faz, não foste ensinado por isso que é a graça que te torna diferente? Ó grande crente, terias sido um grande pecador, não tivesse Deus te tornado diferente. Ó tu, fortalecido pela verdade, terias sido fortalecido pela mentira, não fosse a graça de Deus sobre ti. Portanto, não te orgulhes, pois embora tenhas muito — amplo domínio da graça, nunca tiveste nada para chamar de teu, exceto pecado e miséria. Ó estranha obsessão, que tu, que tudo tens tomado de empréstimo, penses em exaltar-te; pobre pensionista dependente da generosidade do Salvador, cuja vida se esvai sem a refrescante corrente de vida procedente de Jesus, e ainda assim cheio de orgulho! Quanta  vergonha para ti, ó coração insensato!

Tradução: Mariza Regina de Souza

sexta-feira, 1 de março de 2013

8 de janeiro - Devocional Matutina


A iniquidade das Coisas Santas

E estará sobre a testa de Arão, para que Arão leve a iniqüidade concernente às coisas santas que os filhos de Israel consagrarem em todas as ofertas de suas coisas santas; sempre estará sobre a testa de Arão, para que eles sejam aceitos perante o SENHOR.” (Êxodo 28:38)

Que véu é levantado por estas palavras, e que revelação! Será humilhante, mas proveitoso, fazer uma pausa por alguns instantes e observar esse triste espetáculo. As iniquidades do nosso culto, sua hipocrisia, formalidade, indiferença, irreverência, inconstância de coração e esquecimento de Deus — quanta coisa! Nosso serviço para o Senhor, sua dissimulação, egoísmo, descuido, negligência, incredulidade — quanto sacrilégio! Nossa devoção pessoal, sua frouxidão, frieza, negligência, apatia e vaidade — quanta terra infértil! Se olharmos com cuidado, veremos que essa iniquidade é muito maior do que parece à primeira vista. O Dr. Payson*, escrevendo ao seu irmão, diz: “Minha paróquia, assim como meu coração, lembra muito o jardim de um preguiçoso; e o que é pior, acho que grande parte dos meus desejos para melhoria de ambos ou procedem do orgulho, ou da vaidade, ou da indolência. Observo as ervas daninhas espalhadas pelo meu jardim, e desejo sinceramente que elas fossem erradicadas. Mas, por que? O que move esse desejo? Talvez para eu poder sair e dizer a mim mesmo: ‘Como meu jardim está bem cuidado’! Isso é orgulho. Ou talvez para meus vizinhos olharem por cima do muro e dizerem: ‘Como seu jardim está florido!’ Isso é vaidade. Ou talvez eu deseje a destruição das ervas daninhas, pois estou cansado de arrancá-las. Isso é indolência.” E assim, mesmo nossos desejos de santidade podem estar contaminados por motivos vis. O vermes se escondem sob os gramados mais verdes; não é preciso observar por muito tempo para encontrá-los. Como é reconfortante pensar que, quando suportou a iniquidade das coisas santas, o Sumo-Sacerdote usou na testa as palavras “SANTIDADE AO SENHOR”; e ainda assim, quando Jesus suporta o nosso pecado, Ele apresenta diante da face do Pai não a nossa santidade, mas a sua. Oh! que a graça nos permita  ver  o nosso grande Sumo Sacerdote pelos olhos da fé!

* Edward Payson, pastor congregacional norte-americano — 1783-1827

Tradução: Mariza Regina de Souza

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

28 de janeiro - Devocional Vespertina


“Voltaram, então, os pastores glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado.” Lucas 2:20

Charles Haddon Spurgeon

Qual era o motivo do seu louvor? Eles louvavam a Deus pelo que tinham ouvido — as boas novas de grande alegria de que lhes nascera o Salvador. Vamos imitá-los; entoemos também uma canção de gratidão por termos ouvido de Jesus e de Sua salvação. Eles também louvavam a Deus pelo que tinham visto. Eis a melodia mais doce — as coisas que vivemos, sentimos, e das quais nos apropriamos — “Ao Rei consagro o que compus.” Não é suficiente ouvir a respeito de Jesus: o simples ouvir pode afinar a harpa, mas os dedos da fé viva precisam criar a música. Se você já viu Jesus com os olhos da fé dada por Deus, não permita que teias de aranha se alojem entre as cordas da harpa, mas um sonoro louvor à graça soberana de Deus. ‘Despertai, saltério e harpa!”. Eles também louvavam a Deus pela harmonia entre o que viram e ouviram. Observe a última frase “como lhes fora anunciado”. O evangelho dentro de você não é exatamente o mesmo descrito na Bíblia? Jesus disse que Ele lhe daria descanso — você ainda não desfruta da Sua doce paz? Ele disse que você teria alegria, consolo e vida se cresse nEle — você ainda não recebeu todas essas coisas? Não são os caminhos do Senhor, caminhos de deleite, e Suas veredas, veredas de paz? Certamente você dirá com a Rainha de Sabá: “Eis que não me contaram a metade.” Sinto que Cristo é muito mais encantador do que Seus servos jamais disseram. Vi o Senhor como eles O retrataram, mas era apenas um esboço comparado a Ele mesmo; pois o Rei, em Sua beleza, excede em esplendor os mais belos encantos. Com certeza, aquilo que temos “visto” se iguala, ou melhor, supera em muito, aquilo que temos “ouvido”. Glorifiquemos, então a Deus, e O louvemos por um Salvador tão precioso, e tão suficiente.

Tradução: Mariza Regina de Souza